A família Souza Lobo é uma das que tiveram importante atuação musical em Vila Rica ao longo do século XVIII e nas primeiras décadas do XIX. Muitas dúvidas ainda pairam sobre os vários integrantes do clã, em especial sobre dois ou três homônimos batizados como Jerônimo de Souza Lobo, Jerônimo de Souza Lobo Lisboa e Jerônimo de Souza Queirós; não é possível, até este momento, identificar com precisão a autoria de diversas obras sacras que, em cópias manuscritas do século XIX, são atribuídas genericamente pelos copistas a “Jerônimo de Souza”. O patriarca da família, Antônio de Souza Lobo, nascido no Rio de Janeiro por volta de 1700, se estabeleceu na cidade mineira no final da segunda década do século XVIII, ali atuando com seus irmãos em um conjunto que ficou conhecido como “Os Lobos”. Um de seus irmãos foi Jerônimo de Souza Lobo, nascido em 15 de março de 1717 e falecido em data incerta, entre 1798 e 1803. Há registros de sua atuação como músico em diversas irmandades de Vila Rica. De Jerônimo de Souza Lobo Lisboa pouco se sabe e se aventa até mesmo a hipótese de ser o nome completo do organista nascido em 1717. Já Jerônimo de Souza Queirós era filho adotivo de Ana Maria de Queirós Coimbra, que em registros na Irmandade de Nossa Senhora do Parto (1766-1767) e da Ordem Terceira dos Mínimos de São Francisco de Paula (1803) é citada como “mulher” e “viúva de Jerônimo de Sousa Lobo”. De Souza Queirós, falecido em 1828, é a única partitura autógrafa através da qual é possível identificar a autoria, a *Missa* e *Credo* a quatro vozes com acompanhamento de órgão (1826).
Na liturgia católica a *Ladainha*, ou sua variante Litania, é uma oração à Nossa Senhora ou aos Santos, estruturada como uma série de invocações por um recitante e respostas curtas pela assembleia, normalmente um “Ora pro nobis” (rogai por nós). Em sua forma musical a alternância se dá entre uma frase pronunciada por um solista ou um naipe e a resposta pelo coro. A *Ladainha em Dó* de Souza Lobo é obra que teve grande aceitação junto ao público mineiro e frequente utilização nas cerimônias religiosas locais, como atestam as diversas cópias manuscritas produzidas em épocas e cidades distintas. A edição publicada pelo Sinos foi elaborada tendo por fonte principal a cópia manuscrita do acervo da Orquestra Lira Sanjoanense, produzida pelo copista Novaes, em 1883, na qual o autor é identificado como Jerônimo de Souza Lobo. Outras fontes foram cópias manuscritas do Museu da Inconfidência de Ouro Preto e do maestro Vespasiano Gregório dos Santos, pertencente à Sociedade Artística Brasileira. Sem a pretensão de ser uma edição crítica nem mesmo a de oferecer uma versão “definitiva” da obra, a proposta apresentada pelo Repertório Sinos tem por objetivo trazer a obra de volta ao repertório, inclusive oferecendo uma redução para piano elaborada pelo maestro Roberto Duarte, que viabilizará a execução por coros que não tenham acesso a uma orquestra.