Leopoldo Américo Miguéz nasceu em Niterói (RJ), em 9 de setembro de 1850. Tinha 2 anos de idade quando sua família mudou-se para a cidade de Vigo, na Espanha, onde viveu até 1857. Era ainda criança quando mudaram novamente, dessa vez para o Porto, em Portugal, onde o menino foi matriculado no Liceu da cidade. Estudou violino com Nicolau Medina Ribas e harmonia e composição com Giovanni Franchini. Em 1870, a família retornou ao Brasil.
No início de sua carreira dedicou-se também ao comércio e atuou como violinista da Filarmônica Fluminense e em concertos de câmara. Em 1882, viajou novamente para a Europa, levando consigo carta de apresentação de D. Pedro II para o diretor do Conservatório de Paris, Ambroise Thomas. Na França, encontrou-se entre compositores como Vincent D’Indy e César Franck e se aproximou da música de Wagner. No ano seguinte, retornou ao Brasil e passou a atuar no Clube Beethoven. Miguez venceu o concurso para a escolha do novo hino nacional brasileiro, que se tornou o *Hino à Proclamação da República*. Em 1890, foi nomeado diretor do Instituto Nacional de Música, quando exerceu efetiva liderança e ditou os rumos da vida musical do Rio de Janeiro. Em 1895, viajou para a Europa para visitar os conservatórios de vários países e conhecer novas práticas pedagógicas. Em 1896, criou, com Alberto Nepomuceno, a Associação de Concertos Populares. Leopoldo Miguéz faleceu no Rio de Janeiro, em 6 de julho de 1902.
Sua obra se concentra especialmente nas peças orquestrais, como a *Sinfonia em Si bemol* op. 6 para coro e orquestra (1882), os poemas sinfônicos *Parisina* op. 15 (1888), *Ave, Libertas!* op. 18 (1890) e *Promethée* op. 21 (1891), a *Suíte Antiga* op. 25 (1893) e os dramas musicais *Pelo amor* (1897) e *I Salduni *(1901). A produção de Miguéz revela um compositor suficientemente hábil para abordar diferentes estéticas, ecletismo também percebido em sua produção de câmara, dentre as quais se sobressai a *Sonata* para violino e piano, e nas peças para piano solo, os *Noturnos* op. 10 e op. 20.
A primeira série de *Esboços* “Cenas pitorescas” op. 37 foi organizada a partir de transcrições de peças compostas para piano. A série abre com a “Serenata” op. 33, seguida por “Pierrot”, “A avozinha” e “Manhas e reproches” respectivamente, as obras número VII, IV e V das *12 Peças características*, *op. post*. Os dois últimos movimentos, “Saudade” e “Gracejo”, foram extraídos das *Morceaux Lyrique* op. 34, sendo o último com o título em português para “Plaisanterie”, como consta no original para piano. Não foi encontrada informação sobre a estreia completa do op. 37, mas os movimentos foram executados individualmente ao longo dos anos, especialmente no INM.
Todos os números da segunda série de *Esboços* “Cenas pitorescas” op. 38 são transcrições de peças originais para piano. “Polônia” é o terceiro número das já citadas *Morceaux Lyriques* op. 34, e das *12 Peças características** op. post.* Miguéz aproveitou “À tardinha”, “Devaneio”, “Pesar” e “Folguedo”. Já “Teteia” é o sétimo número do *Álbum de Jeunesse* “10 Petits Morceaux Caracteristiques” op. 31. Os *Esboços* se inserem na tradição romântica das miniaturas musicais. Nelas encontramos não só movimentos de dança como a tentativa de caracterizar musicalmente cenas e personagens. Os títulos das obras originais para piano mostram conexões com compositores como Schumann e Grieg. Os *Esboços* são, provavelmente, as últimas obras para orquestra compostas por Miguéz. Em 8 de julho de 1902, por ocasião do sepultamento do compositor, a *Gazeta de Notícias* do Rio de Janeiro informava aos seus leitores que “Miguéz deixa, completamente terminadas e inéditas, duas séries de *Esboços* para instrumentos de arco”. A Segunda Série estreou em 13 de maio de 1905 sob a regência de Francisco Braga em concerto no Instituto Nacional de Música em homenagem ao professor Duque Estrada Meyer.
A edição preparada para o Sinos por Elias Vicentino, como produto de seu trabalho junto ao Programa de Mestrado Profissional em Música (Promus) da UFRJ, foi baseada no manuscrito autógrafo do compositor, do acervo da Biblioteca Alberto Nepomuceno da Escola de Música da UFRJ.