Pela inovação e fortalecimento do canto coral

Ao lado de Maria José Chevitarese, Juliana Melleiro Rheiboldt é coordenadora do I Congresso de Pedagogia e Performance coral da UFRJ, que acontece nos próximos dias 18, 19 e 20 de agosto de 2023, na Escola de Música da UFRJ, no Rio de Janeiro. Professora da instituição, Juliana também é docente em ações presenciais e cursos on-line da Academia Arte de Toda Gente – como o de Técnica Vocal para Coros Infantojuvenis, que está com inscrições abertas até o dia 27/8 (veja aqui). Nesta entrevista, ela nos fala sobre sua trajetória, atuação no projeto Um Novo Olhar e do congresso que se aproxima.

Arte de Toda GentePoderia nos falar um pouco sobre sua trajetória? Como e quando começou a se interessar por música? Como o canto coral entrou em sua vida e quando decidiu que iria se dedicar a ele profissionalmente?

Juliana Melleiro – A música entrou na minha vida quando tinha sete anos de idade, poucos dias após o falecimento do meu pai, em um trágico acidente de carro. Eu e minhas irmãs mais novas começamos a cantar no Coral Infantil Pio X, de Jundiaí-SP, sob regência da maestra Silmara Drezza, como uma forma de “terapia”. Aos 12 anos, eu decidi que queria cantar e trabalhar com coros profissionalmente e comecei a me capacitar para isso, através de aulas particulares de teoria musical e estágios no coral infantil e em turmas de musicalização do colégio que estudava.

Dentre outros grupos, fiz parte do Coro Juvenil da Osesp, Coral Jovem do Estado de São Paulo, Coro Contemporâneo de Campinas e fui bolsista em coros de festivais nacionais e internacionais. Minha graduação em Licenciatura em Educação Musical foi na UNESP e o mestrado e o doutorado na Unicamp, sob orientação do Prof. Dr. Angelo Fernandes, sempre pesquisando o preparo vocal para coros infantis. Como regente, atuei, principalmente, no Instituto Baccarelli (São Paulo-SP) e no Canarinhos da Terra-Unicamp (Campinas-SP). Também trabalhei como preparadora, educadora musical em escolas de Educação Infantil e Ensino Fundamental e professora temporária de Canto e Regência na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Desde 2022, estou na UFRJ, como Professora Adjunta de Regência Coral, regente do Coral Infantil da UFRJ e preparadora vocal do Coral Brasil Ensemble-UFRJ, ao lado da Professora. Dra. Maria José Chevitarese.

Você tem uma sólida carreira, tanto como cantora, quanto como regente em corais, especialmente os formados por crianças e jovens. Quais são as principais características que diferenciam esses grupos dos formados por adultos? Como costuma ser o envolvimento dos jovens cantores com esse tipo de atividade?

Ao se trabalhar com crianças e jovens é preciso ter em mente que estamos lidando com vozes e indivíduos em plena formação, então, se faz necessário um maior cuidado com o preparo vocal, as tessituras e o repertório escolhido. Em coros infantis e juvenis, costumo usar mais a criatividade e diversos recursos lúdicos ao longo dos ensaios. A concentração e a motivação também são buscadas constantemente.

Tenho a sorte de trabalhar com crianças e jovens muito envolvidos, que gostam de cantar e de fazer parte do coral. Alguns até pensam em ter a Música como profissão. Vale dizer que as famílias dos meus jovens cantores também são muito parceiras e isso faz toda a diferença!

Como surgiu o I Congresso de Pedagogia e Performance Coral da UFRJ?

O Congresso é uma das ações do meu projeto de pesquisa como Professora Adjunta de Regência Coral da UFRJ. O projeto “Pedagogia Coral: reflexões e práticas na contemporaneidade” (aprovado em 3 de junho de 2022, em reunião de Congregação da Escola de Música da UFRJ), dentre outros, tem objetivos como capacitar estudantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro e outros profissionais do Canto Coral brasileiro; fomentar eventos para ampliação de conhecimentos e fortalecimento da área; trocar experiências com profissionais e instituições de ensino de renome e contribuir com o desenvolvimento e o aprimoramento do Canto Coral no Brasil.

Além de estar vinculado ao meu projeto de pesquisa, o I Congresso de Pedagogia e Performance Coral da UFRJ surgiu das inquietações e desejos, meus e da Professora. Dra. Maria José Chevitarese, em contribuir com a formação de profissionais do Canto Coral e com a melhoria da qualidade musical dos coros brasileiros. Com base em nossas atividades docentes e artísticas, temos visto necessidade de tal contribuição e, como mencionei, o Congresso vem para trabalhar em prol disso, contando com o inestimável apoio do Projeto Um Novo Olhar e da Escola de Música da UFRJ.

Como foi a procura pelas inscrições para o evento? Teremos participantes de muitos estados diferentes do Brasil? E de fora? Houve muitos trabalhos inscritos?

Temos mais de 300 congressistas inscritos, de diversas cidades dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal, Alagoas, Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte, Sergipe, Roraima, Rondônia e Amazonas, além de Portugal e EUA. Tinta e cinco trabalhos científicos foram submetidos, dos quais 27 foram selecionados para as comunicações orais, que acontecerão no sábado, 19 de agosto. Os trabalhos têm temas interessantíssimos, que contemplam tanto a performance, quanto a pedagogia coral. Foi uma grande surpresa e uma grande alegria ver a procura e a confiança de tantos profissionais! Só tenho a agradecer por isso.

Você tem participado ativamente do projeto Um Novo Olhar, tanto como instrutora em vídeos e aulas, como em encontros e congressos. Como tem sido essa experiência? Qual a importância do projeto e como tem sido a resposta do público-alvo em relação a ele?

Eu comecei a participar das ações do Um Novo Olhar em 2020, em plena pandemia da Covid-19. Tive que aprender a gravar e a editar áudios e vídeos, a me reinventar para dar aulas em um novo formato. Também tive a oportunidade de vivenciar outras novidades, como a escrita de um capítulo de livro, a participação nas duas primeiras edições do Congresso internacional de música coral infantojuvenil – CIMUCI e no Painel Funarte-UFRJ de Regência Coral (Campina Grande-PB, em 2022). Além disso, atuo na coordenação dos cursos EAD da Academia Arte de Toda Gente, desde a criação dos conteúdos dos cursos até o contato com os estudantes, no Ambiente Virtual Acadêmico (AVA) e nas webconferências. Todas essas experiências têm sido muito boas e têm me engrandecido enquanto profissional e pessoa. Acho incrível poder me conectar com pessoas do Brasil todo que dividem a mesma paixão: o Canto Coral.

Há muitos Brasis dentro do Brasil. Nem todo lugar possui uma universidade ou um centro de referência para capacitação profissional. As ações do projeto Um Novo Olhar estão contribuindo efetivamente com os estudos de muitos regentes, preparadores vocais e educadores musicais, sobretudo dessas regiões mais afastadas. Também vejo regentes de grandes centros e até profissionais mais experientes buscando os cursos e ações do UNO para trocar experiências, se atualizar e aprender. É um projeto que está sendo elogiado por todo mundo e que, com certeza, está impactando positivamente coros de todo país.

Para encerrarmos, quais são as suas expectativas em relação ao I Congresso de Pedagogia e Performance Coral da UFRJ?

Minhas expectativas são as melhores possíveis! Desejo que os congressistas saiam do nosso evento motivados e refletindo sobre o que podem melhorar em matéria de performance e pedagogia coral. Que eles possam aproveitar ao máximo as oficinas, mesas-redondas, palestras, lançamentos de materiais, comunicações orais e apresentações musicais. A programação conta com profissionais e coros de renome, aos quais eu me sinto grata e honrada pela presença.

Por fim, desejo que possamos estreitar laços com colegas de profissão e que a Escola de Música da UFRJ seja um espaço acolhedor para a inovação e o fortalecimento do Canto Coral do Rio de Janeiro e de todo o país!