Integração multicultural

Thaisa de Oliveira é mestre em Turismo, especialista em Educação e atua como gestora Cultural em ações e projetos voltados à Cultura e Sustentabilidade. Ela é diretora cultural da Fundação Cultural de Foz do Iguaçu, parceira do programa Arte de Toda Gente na Mostra Arte de Toda Gente Bossa Criativa I Festival de Música de Foz do Iguaçu, que acontece entre 9 e 15 de outubro de 2023 na cidade paranaense (leia mais sobre o evento AQUI). Nesta entrevista, ela nos fala sobre sua trajetória profissional, do imenso potencial cultural de Foz e da Mostra, que tem como destaque o multiculturalismo da região.

1 – Como e quando você começou a se interessar por cultura e quando decidiu que iria se dedicar a esse tema profissionalmente? Como foi a sua trajetória acadêmica?

Uau! Eu me interesso por cultura desde que me lembro por gente! A primeira coisa que quis “ser” quando criança foi bailarina. Tive a oportunidade de acessar a arte nessa fase: fiz dança, estudei música – piano e violão – e sempre tive a literatura muito por perto. Não sou artista, mas, milito na área desde o início dos anos 2000 e atuo como gestora na área da cultura, com projetos e ações desde 2014.

Sou formada em Turismo pela Unioeste, Campus de Foz do Iguaçu, tenho uma especialização em Educação, com ênfase em Comunicação e Artes, pela UTFPR, e mestrado, também em Turismo, pela UnB.

A cultura como área de atuação surgiu em 2014, quando fui gestora do projeto da agenda cultural no Parque Tecnológico Itaipu – PTI, onde atuei por quase 14 anos. Depois, ainda no PTI, fui gestora do programa Educação e Cultura, que abrigada o Ñandeva – uma ação de fomento ao artesanato trinacional. E também a agenda cultural do Parque, que seguiu até 2017. Em 2018, atuei como produtora cultural autônoma, em alguns projetos e, em 2019, fui convidada a compor a gestão pública, como Diretora Cultural, na Fundação Cultural de Foz do Iguaçu.

2 – Sua formação inclui cursos em turismo e educação, e você trabalha como gestora cultural. Esses três campos se combinam em sua atuação de alguma forma?
Certamente. A cultura é o que nos dá identidade enquanto sociedade. Conceber a educação ou o turismo sem essa dimensão é impraticável. No que tange a gestão, a visão sistêmica desenvolvida na formação em Turismo vai ao encontro da perspectiva necessária para a compreensão do sistema da cultura. Tampouco há como pensar uma cidade turística sem as expressões simbólicas da cultura que compõem um território. Do mesmo modo, a cultura é essencial no desenvolvimento humano, constituindo-se como pilar essencial implícito em qualquer iniciativa da Educação. Assim, em termos conceituais, as áreas estão intrinsecamente relacionadas e a minha formação facilita minha atuação como gestora.

3 – Poderia nos falar um pouco sobre a Fundação Cultural de Foz do Iguaçu, sua origem, objetivos e atuação?
A Fundação Cultural de Foz do Iguaçu é o órgão gestor municipal de cultura de Foz do Iguaçu. Foi fundada em 12 de julho de 1985 e tem como missão: “Promover, garantir e preservar a arte e a cultura em Foz do Iguaçu” e a visão: “Transformar Foz do Iguaçu em um destino cultural”. Ela tem como propósitos estabelecer processos acessíveis, descentralizados e contínuos que garantam à população de Foz do Iguaçu a efetivação de seus direitos culturais. Para que isso aconteça, a instituição busca fomentar participação popular na vida cultural, dar acesso aos códigos artísticos e culturais, garantir o direito de todos de criar e se manifestar culturalmente; difundir as criações e produções de forma livre e estimular a participação popular nas decisões na política cultural, propiciando o pleno gozo à processos identitários e ao direito coletivo à diversidade cultural.


4 – Foz do Iguaçu é certamente uma das cidades mais multiculturais do Brasil. Está localizada junto à tríplice fronteira, sua população vem de outros países e de outras regiões do Brasil, recebe um grande fluxo turístico nacional e internacional e conta com a Universidade Federal da Integração Latino-Americana, a Unila. Como tudo isso se reflete na cultura local?

Foz do Iguaçu tem uma interação intrínseca com o Paraguai e com a Argentina. Os territórios quase como um só, com muitas trocas e alguns conflitos. A cultura se reflete e materializa em espaços diversos e de representatividade, como o Templo Budista Chen Tien, oriundo da comunidade chinesa que aqui vive. Ao mesmo tempo, temos duas mesquitas muçulmanas, uma em função da 2ª maior colônia árabe do Brasil. E ainda terreiros, de matriz africana, igrejas cristãs. Na gastronomia, festivais gastronômicos, variados restaurantes, a Feirinha da JK, refletem um pouco da cultura nesta dimensão.

Essa cultura ainda não está tão integrada ao turismo, como poderia. De todo modo, a vinda da Unila fez esse território se modificar e diversificar ainda mais com pessoas de muitos países, entre servidores e estudantes, oriundos da América Latina e Caribe, além de outros países e de regiões do Brasil. Essa presença por si trouxe outra dinâmica à cidade. A Unila oferece formações artísticas em Música, Cinema e Mediação Cultural. Os projetos e políticas da Fundação Cultural tiveram um ganho de qualidade e quantidade com a participação desses fazedores de cultura.

5 – Como surgiu a ideia de promover um festival de música em Foz de Iguaçu? Já havia acontecido outros eventos desse gênero na cidade?

O Festival de Música é um anseio local. Há alguns anos não acontece na cidade, que já teve iniciativas assim no início e meados dos anos 2000. A intenção de realizar festivais, linguagens artísticas, é meta dada à equipe pelo diretor-presidente da Fundação Cultural de Foz do Iguaçu, Juca Rodrigues. Como militante da cultura e gestor da instituição, ele acredita que essas iniciativas têm a capacidade de projetar Foz do Iguaçu no espaço nacional e internacional da linguagem artística para a qual está voltado. E, especialmente, possibilita a integração, a troca de experiências entre músicos e compartilha a música com a população. Também fomenta a formação de público e o estímulo à produção. E a aproximação com a UFRJ em torno do tema veio por intermédio do mestre e músico, Cristiano Galli, que é compositor e entusiasta do tema, especialmente no gênero da música conhecida como erudita.

6 – O I Festival de Música de Foz do Iguaçu acontece dentro do conjunto de ações do programa Arte de Toda Gente, como uma das mostras do projeto Bossa Criativa, da Funarte e UFRJ. E, além da Fundação, conta ainda com a parceria da Universidade Federal da Integração Latino-Americana – Unila. Qual a importância dessa parceria entre essas entidades?

Eu acredito verdadeiramente nas construções coletivas. Elas são fundamentais para a materialização das ações, especialmente da Cultura. Vale dizer que aderiu a essa iniciativa também o Parque Tecnológico Itaipu, que retomou com força a pauta da Cultura em seu escopo de atuação, com a intenção de conectá-la fortemente ao Turismo. O que possibilita a ampliação das ações nessa área, certamente. A Unila, instituição com projeto de valor imensurável, especialmente a este território em que se localiza, vem sendo parceira da Fundação Cultural em outras iniciativas e, contribui sobremaneira com todo o seu peso institucional, conhecimento instalado e conhecimento, por meio de seus servidores, professores e estudantes.

A vinda da UFRJ foi um verdadeiro presente para o Festival. Contar com uma instituição tão longeva, de tamanha tradição, que incorpora experiência, conhecimento e competência com tamanha disponibilidade, generosidade e entusiasmo, contagia a todos os envolvidos no projeto. Além de toda contribuição material envolvida, que se faz absolutamente essencial para efetivar a ideia e torná-la palpável. Então, faz-se essencial registrar os parceiros que nos disponibilizam espaços para realização das oficinas: Wizard, Colégio Vicentino São José e a Fecomércio, por meio do Senac. Só temos a agradecer imensamente! Realmente não seria possível sem toda essa colaboração.

7 – Para encerrarmos, quais são as suas expectativas em relação ao evento?

As expectativas são as melhores possíveis! O tema é empolgante e a iniciativa é muito desejada. Os preparativos e planejamento estão fluindo de forma harmônica e tranquila o que nos dá confiança e tranquilidade. Ainda, realizar ações de cunho artístico e educativo sempre agrega valor e revigora as energias! Espero realmente que haja adesão local por parte dos músicos, estudantes e que os participantes, professores, equipes envolvidas gostem e saiam motivados em dar continuidade ao evento para que se estabeleça como uma ação duradoura.