Em 2013, começaram a funcionar os dois primeiros programas de pós-graduação profissional em Artes no Brasil. Hoje, com pouco mais de uma década de existência desse modelo, há 14 programas distribuídos em 9 estados, abrangendo todas as regiões do país, com 225 docentes e 580 alunos matriculados, tendo formado 815 mestres profissionais em Artes. Esses números indicam uma grande aceitação e o rápido crescimento e disseminação desse modelo de pós-graduação no Brasil, que tem a prática indissociada da pesquisa e formação.
Os programas profissionais em Artes inserem-se em um panorama histórico que enfatiza os aspectos práticos como eixo central na formação dos artistas, caracterizando o modo fundamental de seu treinamento desde tempos remotos. Entretanto, a ênfase na prática é, de certo modo, uma novidade no cenário da pós-graduação em Artes no Brasil. Desde as universidades medievais europeias, as Artes estavam no meio acadêmico, mas apenas como objeto e ferramenta de especulação teórica. A partir do século XIX, novas concepções de universidade priorizaram a formação de profissionais e a geração de conhecimento (pesquisa) como funções fundamentais, e as Artes foram gradualmente absorvidas pelo mundo acadêmico moderno, alternando entre as dimensões práticas e teóricas.
A inclusão das Artes no Sistema Nacional de Pós-Graduação iniciou-se lentamente a partir do final da década de 1970, em um momento em que prevalecia a concepção de que a principal função da pós-graduação no Brasil deveria ser a pesquisa básica – voltada para fundamentos teórico-conceituais –, deixando em segundo plano as dimensões práticas e formativas profissionais. A partir dos anos 2000, ganha destaque a importância da formação profissional qualificada e da pesquisa aplicada – orientada para a prática – como áreas desejáveis para o Sistema Nacional de Pós-Graduação. É nesse cenário que surgem as primeiras pós-graduações profissionais no Brasil.
Embora a pós-graduação profissional em Artes tenha longa história no cenário internacional, o contexto nacional fez com que o modelo brasileiro se desenvolvesse de maneira original. Aqui, os formatos não se baseiam na simulação de práticas profissionais, como em modelos consagrados internacionalmente, mas têm as experiências profissionais reais dos indivíduos como núcleo de sua pesquisa e formação. Essa dimensão da prática aplicada à realidade imediata das pessoas levou os programas profissionais a incorporar em suas dinâmicas internas e externas os aspectos sociais e políticos do trabalho em Artes – um tipo de pesquisa que pode ser chamado de “pesquisa implicada” –, criando canais efetivos de comunicação e intercâmbio entre a academia e o mundo do trabalho em Artes. Essas trocas exigem constantes revisões nos programas e estimulam uma visão panorâmica e crítica do mundo profissional entre os alunos e egressos.
Os programas profissionais em Artes foram inicialmente concebidos com um contexto profissional regional como base estrutural. Contudo, a experiência de implementação logo mostrou que, além de atraírem profissionais de outras regiões, as atuações dos artistas muitas vezes extrapolam limites territoriais, mesmo quando dialogam com questões locais. Essa característica introduz a dimensão do intercâmbio cultural e da expansão de horizontes nas pesquisas profissionais e artísticas, exigindo mecanismos para a circulação de experiências e informações, que enriquecem a formação e a pesquisa.
Um aspecto importante dos programas profissionais em Artes é sua relação com o ensino básico. A ênfase na qualificação de recursos humanos para o mundo do trabalho marca a diferenciação para os mestrados e futuros doutorados profissionais e vem instaurando, na área de Artes, novas políticas e formas de interlocução com setores da sociedade. A área de Artes conta com programas que mantêm um vínculo estreito com o setor, e atualmente, existem dois programas voltados especificamente para o ensino de artes, além de dez programas com linhas de atuação para artistas e docentes.
É importante frisar que o PROF-ARTES – um programa em rede criado em 2014 com o incentivo da CAPES com regras distintas, especialmente pela presença de financiamento oficial, atualmente pertencente à nova área de avaliação, Ciências e Humanidades para a Educação Básica.
Outro destaque do modelo profissional é que, por exigência da CAPES, os programas devem estabelecer parcerias com instituições externas às universidades que os abrigam, inclusive para garantir financiamento. Diferentemente dos programas acadêmicos voltados para pesquisas básicas, que contam com apoio regular das principais agências de fomento no Brasil, a CAPES e o CNPQ, os programas profissionais dependem dessas parcerias. Originalmente, essas parcerias visavam ser fonte de recursos; contudo, na área de Artes, transformaram-se em pontes institucionais relevantes, refletindo-se na orientação das pesquisas dos alunos e na empregabilidade dos formados, ainda que as instituições parceiras frequentemente enfrentem dificuldades de financiamento semelhantes às dos programas acadêmicos.
Assim, criar mecanismos que garantam financiamento e circulação de pessoas e produções é hoje um dos principais desafios dos programas profissionais em Artes no Brasil. O evento e a publicação atuais visam discutir essas questões, promovendo os potenciais e realizações dos programas. Espera-se fortalecer a rede nacional de programas profissionais em Artes, consolidando e expandindo relações internas, e apresentar essa rede como um bloco que merece a atenção de futuros parceiros e apoiadores, destacando o potencial impacto desse modelo para o mundo do trabalho em Artes no Brasil.
Beth Rangel, Lucas Robatto e Aloysio Fagerlande
Comitê Editorial EPPPA