Estão disponíveis aqui no site as duas partes do minishow do Trio Júlio na série Casa do Choro. O grupo é formado pelos irmãos Magno Júlio (percussão) e os gêmeos Marlon Júlio (violão 7 cordas) e Maycon Júlio (bandolim), músicos virtuosos que são também famosos por sua simpatia e carisma. Nesta entrevista, assumindo momentaneamente o posto porta-voz dos irmãos, o percussionista Magno nos fala sobre sua trajetória – que começou na infância, na banda de sua Cordeiro (RJ) natal e os levou a serem reconhecidos no samba e na MPB, além de se tornarem professores na Escola Portátil de Música, no Rio. E nos conta como é o trabalho de criação musical em família. Confira.
De onde vem o interesse de vocês pela música? Em sua família há outros músicos?
Não chegamos conhecer o lado artístico da nossa avó materna, ela não teve oportunidade de estudar e não chegou a ser profissional. Mas, segundo a nossa família, ela cantava muito bem, tocava acordeon e um pouco de violão.
Nossos tios paternos não são profissionais, mas sempre cantaram e tocaram em igrejas. Por conta dessa influência e do nosso ambiente familiar, onde os nossos pais sempre ouviram muita música, como samba, rock, sertanejo, fomos nos apaixonando pelos sons dos instrumentos musicais, Mas ainda não tínhamos ideia que um dia iríamos seguir no caminho da música.
Vocês começaram a estudar música em uma tradicional banda do interior. Qual a importância dessas bandas na formação de novos músicos? Foi lá que vocês descobriram o choro?
Quando tínhamos entre 8 e 10 anos de idade, os nossos pais nos matricularam na Sociedade Musical Fraternidade Cordeirense, banda centenária da nossa cidade (Cordeiro – RJ).
As bandas, especialmente as do interior, têm um papel fundamental na formação de novos músicos e na preservação de um repertório a que, muitas das vezes, só se tem acesso através delas. Geralmente, nas rádios das pequenas cidades não é comum tocarem choro, dobrados, maxixes etc.
Com isso, na época, apesar de ainda termos conhecido a linguagem e as referências do gênero, o nosso primeiro contato com uma música do universo do choro foi através da banda. Nela conhecemos Os Boêmios, música e arranjo do Anacleto de Medeiros.
A Casa do Choro faz parte da trajetória de formação de vocês e, também, de sua história profissional – tanto como professores, quanto como artistas. Chegaram até lá?
Em 2002, por intermédio do Tadeu Santinho, músico que nos acolheu na Fraternidade Cordeirense, recebemos bolsas de estudos para estudar na Escola Portátil de Música (EPM). Lá tivemos o privilégio de sermos tutorados e influenciados por grandes expoentes do Choro, como Mauricio Carrilho, Luciana Rabello, Pedro Amorim, Álvaro Carrilho e Celsinho Silva.
Na EPM, berço de grandes chorões e referência mundial no ensino da linguagem do choro, estudamos e convivemos com outros grandes mestres e, desde 2008, temos a honra de integrar a equipe de professores.
Tocar na Casa do Choro é a realização do sonho de todo músico e, sobretudo para nós, tem um lado muito especial. Temos uma relação familiar com o espaço, que vimos ser construído, e com os mestres que nos acolheram com muito carinho, quando chegamos para estudar na Escola ainda crianças, com 12 e 14 anos.
Como é o processo de composição e de arranjo de vocês? Costumam trabalhar sempre juntos em todas as músicas? Como é trabalhar com seus irmãos?
Apesar de termos músicas em parcerias do Maycon e Marlon, as nossas composições geralmente são feitas individualmente e os arranjos é que são bastante coletivos. Adoramos sentar para tocar nossas músicas e de outros compositores sem ter nada pré-definido e começar a construir o arranjo daquela música juntos. Acreditamos que o resultado final para a música e para nossa sonoridade acaba ficando muito mais natural.
Trabalhar entre irmãos é aquela coisa, as vezes saem umas faíscas, mas sempre para o bem do trabalho (risos). No geral, é muito prazeroso e a gente sempre dá risadas, se diverte o tempo todo.
Qual é o repertório de seu minishow aqui no Bossa Criativa? Como é se apresentar virtualmente em plena pandemia?
O Repertório que escolhemos para este minishow é composto de músicas autorais que estão registradas no nosso primeiro CD, chamado *Minha Felicidade*. E também de músicas de grandes mestres do choro que são referências para nós, como Mauricio Carrilho, Fon-Fon e Niquinho.
Ficamos muito felizes de ter a oportunidade de continuar mostrando a nossa música e de levar alegria para as pessoas, apesar desse momento ruim que todos estamos passando. Isso tudo só está sendo possível, graças a este espaço super importante, que valoriza a arte e contribui para preservação da cultura e da música brasileira. Gratidão!
Por último, que conselho vocês dariam para crianças e jovens que, como vocês fizeram, desejam se iniciar na música e, quem sabe, se tornarem profissionais mais tarde?
A arte em um sentido geral tem um poder transformador.
A música disciplina, faz com que os jovens tenham foco. Com isso, traz muitos benefícios, inclusive aumenta muito as chances de uma vida regrada e propensa a seguir sempre no caminho do bem.
Se você tem o sonho de ser músico, nunca desista dele. Estude, leia e sempre busque conhecimento. Temos certeza que o seu sonho se tornará realidade e um dia seremos amigos de profissão!
O Trio
Nascidos em Cordeiro, no interior do Rio de Janeiro, os irmãos Júlio começaram a estudar música ainda crianças na tradicional banda da cidade, a sociedade Musical Fraternidade Cordeirense. Em 2002, foram estudar na Escola Portátil de Música – EPM, no Rio, tendo como professores feras como Mauricio Carrilho, Pedro Amorim e Jorginho do Pandeiro. Pouco depois, já se apresentavam pelo país, passando também a acompanhar grandes nomes do samba e da MPB, como Hermínio Belo de Carvalho, Paulo César Pinheiro e Áurea Martins. Em 2008, passaram a dar aulas na própria EPM.
Em 2017, eles lançaram seu primeiro CD, Minha felicidade, elogiado pela crítica especializada e que traz repertório autoral e arranjos próprios. O disco teve participação do acordeonista Bebê Kramer, do pianista Fernando Leitzke, do saxofonista Pedro Paes e dos demais integrantes do grupo Os Matutos, do qual os três também fazem parte.
O Trio já se apresentou em importantes teatros, festivais e programas de TV no Brasil, entre os quais se destacam o programa Tamanho Família (Rede Globo), a 36a Oficina de Música de Curitiba – (PR), Teatro da Caixa – (PR), o Teatro SESI- (RJ) e a Casa do Choro, no Rio. Foi nesta última que foi gravado, em 2017, o vídeo que agora está sendo exibido no Bossa Criativa.
Você assiste ao minishow do Trio Júlio e às outras atividades da série Casa do Choro aqui no site do Bossa Criativa.
Foto: divulgação