Para Luís Gustavo Laureano, um dos organizadores do I Congresso Internacional de Música Coral Infantojuvenil – Um Novo Olhar, o regente de coros infantojuvenis é primordialmente um educador, não só musical, mas completo e que, na maioria das vezes, será um referencial de vida para os coralistas que dirige. Nesta entrevista, ele nos fala dessa grande responsabilidade e sobre suas expectativas em relação ao Congresso. Você pode assistir a todos os vídeos com as mesas e apresentações do Congresso no Canal Arte de Toda Gente, no Youtube, através deste link: https://www.youtube.com/playlist?list=PL5mP5ut65rSLncAfNwYSUZu5O2BRMvXue .
**Quais são os maiores atrativos e diferenciais do Congresso para profissionais envolvidos com as atividades de canto coral, em geral e com o público infantojuvenil?**
O maior diferencial do CIMUCI é justamente promover um espaço exclusivo para a reflexão sobre a atuação profissional a frente dos Coros Infantojuvenis. Na maioria das ações formativas realizadas em nosso país na área da regência coral, tem-se como foco o canto coral adulto. Há, portanto, uma grande carência na formação e no aprimoramento profissional dos regentes e educadores musicais que atuam com crianças e adolescentes. Esse trabalho exige uma linguagem e abordagem diferenciadas, e se queremos uma transformação social efetiva por meio do canto coral, precisamos investir nesse público com excelência profissional. No CIMUCI buscamos compor a programação com vários temas específicos que são de extrema importância dentro desse contexto. E, pelo fato de ser um evento on-line, pudemos reunir algumas das principais referências nos meios artístico e/ou acadêmico, com profissionais do Brasil, Argentina, Venezuela, Estados Unidos e Suécia.
**Poderia nos falar um pouco sobre a sua trajetória na prática de canto coral com o público infantojuvenil?**
Meu envolvimento com coro infantojuvenil começou logo na adolescência, coincidentemente no mesmo ano que ingressei no Curso de Regência Coral do Conservatório de Tatuí. A pedido de uma professora, formei um coro e um pequeno grupo orquestral dentro da escola onde eu estudava, com outros colegas do Ensino Médio. Alguns anos depois, fui convidado para desenvolver um trabalho de oficina coral dentro da Oficina do Saber – Projeto de Escola em Período Integral em oito Escolas Municipais da cidade de Sorocaba. Trabalhei também no Projeto Guri, no qual atuei no Polo da cidade de Mairinque, com o Grupo Referência do Projeto Guri em Coro da Regional de Sorocaba; e no PROAME – Programa de Amparo ao Menor de Votorantim.
Na Escola de Música de Votorantim “Maestro Nilson Lombardi”, logo que assumi a fundação e coordenação geral, instituí o Coro Jovem da EMV. Atuo há quase 10 anos no Projeto Espaço Feliz, do Lar Donato Flores – ONG da cidade de Tatuí, em que trabalho com adolescentes de 12 a 15 anos em situação de vulnerabilidade social, formando-os globalmente para a vida e desenvolvendo, em cada um deles, o potencial artístico.
**Por que um trabalho específico para o público infantojuvenil é tão importante?**
No trabalho infantojuvenil, o regente é primordialmente um educador, não só musical, mas global. E, na maioria das vezes, passa a ser um referencial de vida para o coralista e, portanto, recai sobre nós regentes uma grande responsabilidade. A criança está em constante formação e o adolescente traz consigo as crises oriundas dessa fase da vida. O regente, então, pode ser um canal de transformação social, pois por meio da música, apresenta a esse aluno uma nova perspectiva de autoestima e, consequentemente, um novo olhar de mundo e de sociedade.
**Um dos principais objetivos do I Congresso Internacional de Música Coral Infantojuvenil é incentivar as reflexões sobre os caminhos plurais da atividade coral voltada para o público infantojuvenil. Nesse sentido, entre os temas listados para debate, quais você considera como sendo mais sensíveis neste momento e porque.**
Todas os temas elencados para o CIMUCI são de extrema relevância na formação do regente, pois entendo que são reflexões acerca das múltiplas habilidades que especialmente o regente de coros infantojuvenis deva ter. Nosso desejo é que todas as atividades propostas deem ao regente ainda mais ferramentas para sua atuação profissional. Mas ressalto a reflexão que teremos sobre elaboração e captação de recursos para projetos culturais específicos para a área do canto coral. Nós, regentes, precisamos ser entusiastas e promotores da nossa própria arte, mas há uma carência enorme com relação a escrita de um projeto que promova a nossa atividade coral com a tecnicidade que os editais requerem.
Além disso, como representante do terceiro setor dentro da Comissão Organizadora, destaco a preciosa reflexão que teremos sobre a atividade coral em Projetos Sociais, seja ela por meio de Organizações Sociais (OSs) ou Organizações não Governamentais (ONGs). Esses projetos precisam ser valorizados e apoiados, desde que ofereçam aos participantes um trabalho de excelência, tanto social, quanto técnico-musical, pois é direito de qualquer pessoa ter acesso a um ensino musical de excelente qualidade – independentemente da sua condição social.
**Como você vê o panorama do canto coral, hoje, no Brasil e, em particular, dessa prática com o público infantojuvenil?**
Noto que o canto coral infantojuvenil no Brasil ainda é muito menosprezado, negligenciado, e penso que os regentes têm boa parcela de responsabilidade nisso, pois há uma defasagem muito grande na formação interdisciplinar desses profissionais. Sem contar que, partindo da construção vocal desse coro, não se tem ideais sonoros a partir de bons referenciais, pois no Brasil, temos pouquíssimos trabalhos de excelência técnico musical. Obviamente que não podemos abrir mão da responsabilidade social que temos, mas, condição social alguma justifica um trabalho mal realizado.
**Poderia nos falar um pouco sobre seu trabalho de pesquisa nesse segmento?**
Desenvolvi uma pesquisa de campo com adolescentes, alunos de uma Escola Técnica em Tatuí, onde implantei por um semestre um Laboratório Vocal. O objetivo era reunir adolescentes considerados desafinados, oferecer prática de técnica vocal e canto coral e, a partir dessa constância, identificar as possíveis causas de desafinação vocal. E foi impressionante descobrir o número de adolescentes que se consideram desafinados por bloqueios emocionais e/ou psicológicos, e acompanhar a transformação deles ao perceberem que são capazes. Os benefícios de superação e de serem aplaudidos reverbera e impacta cada aluno por toda a vida.
**A inclusão é um assunto importante quando falamos de canto coral e, particularmente, para o segmento infantojuvenil. Você concorda com essa informação?**
Absolutamente! Quando entendo que o canto coral pode ser uma importante ferramenta de transformação social e que cantar é uma necessidade essencial do ser humano, ao fazer isso em coletivo, além de agregar pessoas é preciso incluí-los com equidade.
No entanto, mais uma vez, para incluir é preciso conhecer. Portanto, cabe ao regente buscar conhecimento e ferramentas para trabalhar com o portador de necessidades especiais, entendendo as especificidades de cada deficiência e envolvendo-os de forma equitativa.
**Luís Gustavo Laureano** vive em Votorantim, SP, é regente coral, cantor lírico e pianista com formação na Escola de Música do Theatro Municipal de São Paulo e no Conservatório de Tatuí e ETEC de Artes. Foi o primeiro coordenador da Escola de Música de Votorantim “Maestro Nilson Lombardi”, onde foi professor de Canto Lírico e instituiu o Coro Jovem. Foi Professor de Canto Lírico e regente do Madrigal FUNDEC no Instituto Municipal de Música de Sorocaba – FUNDEC, do Coral do PROAME – Programa de Amparo ao Menor de Votorantim e Grupo Referência do Projeto Guri – Regional Sorocaba, com o qual produziu e dirigiu o Pocket Musical West Side Story. É regente do Coral do Projeto Espaço Feliz – Lar Donato Flores há quase 10 anos, do Madrigal Cantabile e do Coral da APEVO.