Marcus Vinícius Machado é um dos instrutores da oficina *Dança + Educação + Acessibilidade*, que divide com Beatriz Salles e Denise Sá, e que recebeu inscrições, aqui no site,até o dia 11/8. Destinado a professores do ensino fundamental e outros profissionais interessados em arte/educação e acessibilidade, o curso acontece em ambiente virtual aborda temas que envolvem as relações entre o campo da dança, da dança-educação e da acessibilidade cultural, com aulas em ambiente virtual restrito. Novas turmas devem ser abertas em breve.
Para Marcus, “a dança é um dispositivo produtor de vida”. E, e, com uma frase que nos faz lembrar de uma antiga canção*, ele reforça o a ideia de que qualquer um pode e deve dançar. “Dance, dance, dance sem pensar em qualquer lógica ou fator impeditivo”, conclama. Na entrevista que você lê a seguir, ele ressalta a importância de uma formação que valorize diversos padrões estéticos.
( * ) – a canção mencionada é **“Dancin’ Days”**, de Nelson Motta e Rubens Queiroz, celebrizada pelo grupo Frenéticas, em 1978.
**Como começou sua carreira na dança e seu envolvimento com a dança acessível?**
Eu comecei a partir dos 11 anos em grupo de danças folclóricas da escola em que estudava e acabei frequentando algumas aulas de sapateado. Por volta dos 20 anos de idade, entrei em contato maior com a dança, fazendo aulas de balé e dança afro-brasileira, mas uma formação mais sistemática só viria aos 26 anos, quando fui estudar na Escola Angel Vianna. Lá fiz a formação técnica em dança contemporânea.
Meu contato com acessibilidade creio que se iniciou na época de graduação, pois sou terapeuta ocupacional e, ao longo dos estudos universitários, as questões que envolviam a acessibilidade de pessoas com deficiência era uma tônica. Entretanto, foi meu encontro com Patrícia Dorneles – somos ambos professores da graduação de Terapia Ocupacional e Musicoterapia da UFRJ – que me possibilitou, de forma mais sistemática, estudar as diversas possibilidades para a acessibilidade cultural e artística.
**Cada vez mais, vemos grandes artistas que têm algum tipo de deficiência e a utilizam como instrumento de trabalho, seja em projetos específicos ou híbridos, unindo pessoas com e sem deficiência. O que contribuiu para essa mudança e o que pode ser ampliado?**
Entendo que dois fatores foram importantes para essa mudança. A primeira é decorrente das conquistas políticas e democráticas de movimentos sociais que buscavam os direitos das pessoas com deficiências e com transtornos mentais. Essas conquistas propiciaram alguns instrumentos que permitiram que pessoas em suas diferenças pudessem alcançar sua autonomia e cidadania. E a outra mudança se deve à transformações nos paradigmas e nos modelos estéticos do campo da arte.
Com a introdução e exploração de novas poéticas, foi possível pensar em outras lógicas de criação e composição que fugiam de valores artísticos hegemônicos, possibilitando experiências estéticas que potencializaram outras lógicas corporais, sonoras, visuais etc. Entendo que este processo precisa ser mais intensificado e acho que a inclusão das linguagens artísticas na educação básica é um dos fatores que mais intensificaria o crescimento do campo da acessibilidade.
**Como a dança – além de proporcionar prazer e ser uma opção de carreira – pode auxiliar no desenvolvimento de pessoas com diferentes tipos de deficiência?**
São quase óbvios os benefícios que a dança pode fornecer as pessoas com deficiências. A dança é um intenso trabalho de exploração de funções psicomotoras, de ampliação da capacidade respiratória, de alongamento, relaxamento e fortalecimento muscular. Além disso, a dança trabalha com memória gestual, ritmo e escuta musical, dentre outras propriedades que, sem dúvida, estabelecem fortes relações com as funções cognitivas. Diversos trabalhos científicos na área relatam essas propriedades e benefícios.
Mas, para mim, o mais intenso da dança é sua capacidade de fazer com que cada um conheça o seu corpo de maneira prazerosa e expressiva. Esse encontro “íntimo” consigo mesmo, mediado pela exploração potente do corpo, é transformador e inigualável. A vida das pessoas que dançam muda em diversas direções.
Eu afirmo categoricamente que a dança e um dispositivo produtor de vida, e entendendo vida em todas as dimensões, incluindo a dimensão afetiva e social.
**Fale sobre a oficina *Dança + Educação + Acessibilidade*. Todos podem se inscrever ou é necessário algum conhecimento prévio?**
*Todes*, todas e todos podem se inscrever no curso. Não é necessário ter qualquer conhecimento prévio de dança. Nosso credo e lema é que *todes*, podem e devem dançar. Em nosso curso, seguimos dois caminhos, um é entender como alguns processos de acessibilidade podem ser realizados na dança e o segundo é uma pequena “alfabetização” dos elementos gestuais que compõe a linguagem da dança. Assim, aquela pessoa que acredita que não sabe dançar ou nunca dançou conhecerá elementos básicos para se sentir confortável para lançar propostas criativas de exploração da dança com seus estudantes.
**Dentro do projeto Um Novo Olhar, podemos ver belas apresentações de artistas de diferentes áreas que têm alguma deficiência e que construíram carreira nacional e até internacional. Qual dica você daria para quem quer começar na dança, independentemente do tipo de deficiência, idade e outros fatores?**
Dance, dance, dance sem pensar em qualquer lógica ou fator impeditivo. Mas, um conselho mais objetivo para quem deseja seguir um caminho pela dança é: procure uma formação com pessoas ou escolas que valorizem diversos padrões estéticos e que fujam das lógicas mais frequentes na dança. Há muitas formações sensíveis no Brasil, que pensam a dança sobre outras poéticas e que problematizam e fogem do imaginário da(o) bailarina (o) como uma “superatleta” de passos, magro e jovem. Nestas escolas sensíveis há uma busca da expressividade e estética própria de cada um, acreditando nas potências de cada corpo singular. Uma formação sensível e acolhedora pode produzir muitas descobertas e mudanças e é fundamental para um caminho interessante na jornada da dança.
**Marcus Vinícius Machado** é professor-associado da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Departamento de Arte Corporal da Escola de Educação Física e Desportos, onde ministra disciplinas nas graduações de Dança, Terapia Ocupacional e Musicoterapia. Ele tem curso técnico em Dança pela Faculdade Angel Vianna e de especialização em Acessibilidade Cultural pela UFRJ. Mestre em Artes Visuais pela UFRJ, doutorado em Educação Física pela Unicamp e estágio pós-doutoral em Psicologia pela UFF, Marcus completou a Certification Program in Laban Movement Studies (Certified Movement Analyst – CMA) pelo Laban/Bartenieff Institute of Movement Studies (LIMS) e tem certificação em Labanotation pelo Dance Notation Bureau.