Nesta sexta-feira, 29 de outubro, às 18h, começam a entrar no ar os primeiros vídeos verbetes da Grande EnCIRCOpédia Virtual do Bossa Criativa. Inspirada no livro homônimo da pesquisadora circense e autora Sula Mavrudis – que também faz a curadoria do projeto –, a iniciativa reune histórias de vida e especificidades da vida no circo de famílias que há muitas gerações se dedicam ao exercício da arte do picadeiro, ramo particularmente atingido pelas limitações impostas pela pandemia. Em cada um dos 87 vídeos previstos, registros de famílias inteiras, nômades que fazem do circo sua arte, seu ofício, sua casa, e carregam mundo afora suas empresas e moradias, preservando e perpetuando toda uma cultura e modo de vida singulares.
Produzidos em grande parte pelos próprios artistas, e por vezes com limitações técnicas que refletem a precariedade em que atuam, os vídeos estarão disponíveis aqui no site e no canal Arte de Toda Gente, no Youtube.
Organizados na forma de verbetes, os vídeos trazem registros das peculiaridades da vida dos artistas circenses (como o palhaço Fura Fura, do Circo Barcelona, na foto ao lado), de sua rotina nômade, das inúmeras modalidades artísticas do picadeiro, das aventuras, desventuras e sonhos. E retratam, também, a insegurança e os desafios que esses profissionais enfrentam: da dificuldade de execução de seus números no picadeiro aos obstáculos burocráticos, preconceitos e indiferença que têm de vencer a cada nova cidade a que chegam. Percalços que envolvem, por exemplo, a falta de locais adequados para a montagem de suas lonas e a falta de normas e legislação próprias para que possam realizar suas temporadas artísticas nas diferentes localidades.
Os registros contemplam a grande diversidade de números artísticos (como o de Brenda Romero, na foto ao lado) compreendidos pelo circo e desvendam um pouco do “outro mundo” que existe atrás da cortina que separa o picadeiro das moradias circenses, dos trailers e das carretas. Modos, estilos e costumes próprios de grupos que, sob as lonas, transmitem seus saberes por tradição oral, de pai para filho, na prática do dia a dia. Técnica, habilidade, virtuosidade, beleza, magia e mistério, em histórias que são compartilhadas por gente de várias gerações de famílias circenses em funções tão complexas quanto variadas: palhaços, trapezistas, malabaristas, icaristas, dançarinas, bailarinas, acrobatas aéreos e de solo, equilibristas, mágicos, domadores, hipnotizadores, comedores de fogo, engolidores de espadas, secretários de frente, locutores, capatazes, eletricistas, técnicos de luz, de som, montadores, motoristas, carregadores, vendedores da maçãs do amor, propagandistas e – creia – muito mais.
Imagem de abertura: ,montagem de Raffaella Bompiani sobre fotos de divulgação dos acervos dos circos