Quarentena musical em família

A sua família é toda musical e você entrou nesse mundo muito cedo. Quando teve certeza de que esse também seria o seu caminho?

Eu tinha nove anos quando resolvi que queria tocar choro, mas nem imaginava o que era ser profissional da música. Aos 14, entendi que essa seria a minha profissão. Foi quando eu e meu irmão, Raphael Rabello, formamos o nosso primeiro conjunto, Os Carioquinhas.

Como foi a escolha pelo Cavaquinho? O que esse instrumento tem de tão especial que lhe cativou?

Na verdade, não escolhi o cavaquinho, mas fui designada a assumi-lo! (risos). Formamos um conjunto e não tinha ninguém para tocar cavaquinho! Então, eu que tocava violão passei pro cavaquinho, porque foi mais fácil conseguir um violonista que um cavaquinista. Nada romântico… Mas, depois me apaixonei! Foi um “casamento arranjado” que deu certo!

Você diz que a sua maior vocação é o cavaquinho de acompanhamento Fale um pouco sobre isso.

O cavaquinho de acompanhamento é aquele que se incumbe de fazer harmonia e ritmo junto a outros instrumentos harmônicos e de percussão, complementando o acompanhamento à melodia. Gosto de solar também, mas o cavaquinho chamado “de centro” é minha grande paixão. Talvez pela experiência mais coletiva.

Seu pocket show aqui no projeto Bossa Criativa conta com participações especiais, sendo alguns familiares, como Ana Rabello, que também optou pelo cavaquinho. Além disso, sua irmã Amélia Rabello é cantora, seu irmão Raphael Rabello foi um grande violinista, sem falar nas gerações anteriores. Como é esse trabalho em família no dia a dia?

Sim, no meu programa conto com a participação dos meus dois filhos: Ana Rabello (cavaquinho) e Julião Pinheiro (violão de sete cordas) e do meu sobrinho e afilhado, Miguel Rabello (violão). Na nossa família, tocar é como conversar – acontece naturalmente desde muito cedo. Costumo dizer que aprendemos a nos comunicar através da Música como aprendemos a falar, ler e escrever. É muito enriquecedor e cria elos eternos e muito especiais, pois para criar juntos é preciso que a sintonia seja profunda. Isso cria laços estreitos e profundos entre todos. Entre meus irmãos também sempre foi da mesma maneira. Eu e Amélia, eu e Raphael e os três simultaneamente. Sempre tivemos uma afinidade musical imensa. Não era preciso verbalizar o que queríamos dizer. Essa comunicação acontece através de outro canal, o da música. É muito especial.

Como têm sido suas atividades profissionais na quarentena e o que acha das lives, aulas online e novos formatos?

Essa fase que estamos vivendo tem sido bastante difícil para todos, mas também tem proporcionado a criação de novas possibilidades, vencendo desafios imensos. No meu caso, confesso que tenho passado por momentos complicados, tendo que me entender com novas tecnologias, sobretudo com essa produção de vídeos! Um sofrimento e tanto (risos).

A nossa Escola Portátil de Música agora é também a EPM Virtual, com todas as aulas online. E está sendo um sucesso! Foi a única saída, mas esse formato permitiu alguns avanços surpreendentes! Tivemos a grata surpresa de crescer, pois agora podemos receber pessoas no mundo inteiro!
Com relação às lives, tenho visto com apreensão o afunilamento do mercado de trabalho, depois dessa fase de susto que passamos. A ideia de o artista “passar o chapéu” me desagrada muito. Isso aconteceu e acho que estamos nos livrando desse pesadelo aos poucos. A generosidade do artista e a sua necessidade quase física de expressar a sua arte criou essas lives e eventos gratuitos na internet. Foram superimportantes, mas acho que agora chegou a hora de arrumar a casa.

Como é sua participação no Casa de Choro, aqui no site?

A série é superbacana, com mais de 50 vídeos em diferentes módulos, totalmente de graça, para quem quer conhecer um pouco mais desse gênero e, também, praticar. Eu participo do módulo Princípios do Choro, que trata da biografia de alguns compositores pioneiros, da música popular do Brasil, nascidos no século XIX. O choro é uma música de qualidade que vem sendo produzida e ignorada pelos meios de produção no Brasil, apesar de ter sido a origem de tudo do que de melhor se produziu no país em toda a sua história.

E o pocket show, como foi produzi-lo?

Foi meu primeiro trabalho remunerado na quarentena! Passei mais de dois meses para conseguir finalizar o vídeo! Joguei muitas edições fora, até ser advertida para o fato de que jamais conseguiria terminar daquele modo. Eu não gostava de nada! O programa de edição de vídeo é complexo para iniciantes e ter o material na mão faz com que você ache que sempre pode melhorar. Uma tortura! Num show ao vivo, é tudo muito diferente, claro. Até que, finalmente, consegui chegar a um acordo comigo mesma e aceitar o formato que apresento. Aceitar que não somos perfeitos e que temos que nos expor mesmo.

Queria mesmo ter podido me ocupar só do que de fato vim pra fazer: tocar!
Mas estou começando a me acostumar e a gostar. Por isso, posso afirmar que, mesmo quando tudo isso passar e pudermos retomar as atividades presenciais, esse formato digital vai permanecer, vai crescer e vai evoluir.

Conheça mais sobre a biografia de Luciana Rabello nesta notícia: https://bossacriativa.art.br/noticia/29

E assista ao pocket show de Luciana no Bossa Criativa neste link: https://bossacriativa.art.br/apresentacao/17