No dia 23 de agosto, com transmissão pelo canal Arte de Toda Gente, aconteceu a live “Música na Primeira Infância: Perspectivas de Aplicação no Território Brasileiro”. Parte da programação do Festival Arte de Toda Gente, o evento reuniu três especialistas no assunto: Cecília Cavalieri França (educadora musical, professora e pesquisadora), Flávia Cruvinel (pró-reitora da Universidade Federal de Goiania) e Magali Kleber (professora e diretora pedagógica do Festival Internacional de Música de Londrina), com a mediação do maestro e professor Marcelo Jardim ( vice-diretor da Escola de Música da UFRJ e coordenador do programa Arte de Toda Gente). O programa é uma parceria da Fundação Nacional de Artes – Funarte com a Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, com curadoria de sua Escola de Música.
Para falar um pouco sobre o tema da live, ouvimos duas das convidadas – Flávia e Magali. Confira a entrevista a seguir.
**Qual a importância da música na primeira infância?**
**Flávia** – A música na primeira infância é importante para desenvolvimento da percepção auditiva, habilidade motora, ritmo, sensibilidade e socialização, por meio do fazer música em grupo, em que a criança tem a oportunidade de conhecer a si e o outro, interagindo com os colegas, desenvolvendo a sua capacidade de expressão de ideias e sentimentos, criatividade, comunicação e autoestima, o que contribui para a sua formação humanística e cultural.
**Magali** – Sendo a primeira infância o período da base do desenvolvimento neurológico, psicomotor, afetivo emocional, a música é um dos eixos que envolve todos esses campos. A voz, movimentos corporais, a escuta, enfim todos os fatores que envolve o fazer musical estão impregnados na vida da criança. Por Isso, uma atenção cada vez maior está sendo dado ao fazer musical no processo do desenvolvimento infantil, pensado a partir de uma visão sistêmica, holística.
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*Flávia Cruvinel* – Divulgação
**Como você vê o ensino da música para essas crianças hoje no Brasil?**
**Magali** – O Brasil é rico em práticas culturais musicais nas comunidades e de forma livre, como se percebe na cultura popular. Entretanto, pouco se faz para a se aprimorar os processos de aprendizagem infantil no Brasil. E no caso da música, fica ainda pior, pois não há estrutura nem política publica para a educação musical de 0 a 6 anos. Temos muito a caminhar nesse campo intersetorial e transdisciplinar.
**Flávia** – Ainda temos muito que avançar. Infelizmente, a Lei 11.769/2008, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional apontando para a música como componente curricular obrigatório, não foi implementada de maneira satisfatória. A musicalização das crianças não raro são ofertadas em espaços alternativos, não formais, de educação, igrejas, projetos sociais, associações de bairro. É necessário o investimento do poder público em políticas educacionais para infância que envolvem o ensino de artes e sobretudo, o da música.
**Quais são os pontos que poderiam ser melhorados, melhor explorados ou potencializados?**
**Flávia** – Acredito que poderíamos ter políticas públicas na área da educação e cultura que investissem mais na formação musical dos brasileiros. Somos um povo reconhecido pela sua diversidade cultural e pela musicalidade presente na cultura. Desta forma, investir na formação musical para as crianças seria proporcionar a elas o que lhes é de direito constitucional, acesso à educação e cultura.
**Magali** – Primeiro cumprir o que esta posto na Constituição no seu Art 205, porque para que a criança vá para a escola, a família precisa ter estrutura, os pais precisam ter essa consciência e o Estado preciso oferecer condições para isso. O ponto básico ainda é falho: a implementação Lei 13.257 que trata do marco legal que estabelece as bases da educação infantil, obrigação dos municípios. A partir disso, a atividade musical, artística deve ser inserida e trabalhado por profissionais com formação.
![Magali Kleber.jpg](https://admin.sinos.art.br/uploads/Magali_Kleber_3b255ba8dd.jpg)
*Magali Kleber – divulgação*
**Poderia nos falar sobre sua prática ou pesquisa relacionada ao tema da live?**
**Magali** – Bem, todas as experiencias que vivi com a oferta de praticas musicais para crianças e adolescentes nas escolas ou espaços livres sempre demonstraram a capacidade de envolvimento de desenvolvimento afetivo emocional, criativo e artístico. Meu campo de pesquisa são os projetos sociomusicais em comunidades que apresentam vulnerabilidade social. Nesse sentido, a prática musical quando a proposta pedagógica considera o contexto em que se insere, traz o prazer, o reconhecimento de uma identidade sociocultural e contribui para o desenvolvimento de cada ser no processo coletivo.
**Flávia** – Ministrei por mais de uma década aulas de música para crianças de 4 a 12 anos, sobretudo por meio do Ensino Coletivo de Violão. A partir da minha experiência pedagógica, investiguei sobre metodologias criativas de música para a infância e propus uma metodologia criativa de violão para a infância, trabalhando a exploração sonora do violão e suas possibilidades, notação relativa e criada pelas crianças, criação e improvisação, até chegarmos na notação musical. Colhemos muitos frutos por meio desta abordagem, mantendo os discentes interessados pela formação musical por um tempo considerável, sendo que alguns deles conquistaram premiações nacionais em concursos de violão.
***Acompanhe a discussão completa na live do dia 23, às 17h, pelo canal Arte de Toda Gente, no Youtube***
**Magali Oliveira Kleber** – especialista em piano, mestre em Música pela UNESP, doutora em música Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pós-doutora em etnomusicologia pela UFRJ. Pesquisadora e autora de várias publicações nacionais e internacionais na área de projetos sociais, movimentos sociais, teve sua tese indicada para o prêmio CAPES/MEC como dissertação na área de Linguística, Artes e Comunicação no ano de 2006. Atua como Professor Associado na Universidade Estadual de Londrina coordenando diversos projetos voltados para integração entre universidade, comunidade e Terceiro Setor. Presta consultoria para o MEC na implementação de políticas públicas para a educação básica. Foi Bolsista do Conselho Nacional de Pesquisa – CNPq. Foi diretora pedagógica do Festival de Música de Londrina, de 1996 a 2003. Presidiu a Associação Brasileira de Educação Musical de 2009 a 2013, é presidente de honra dessa entidade. É membro da Diretoria da Comissão Internacional Community Music Activity da ISME – International Society for Music Education, entidade com representação na UNESCO. Coordenou vários eventos nacionais e internacionais ligados à pesquisa e produção artístico-cultural relacionadas à arte, educação e movimentos sociais. É líder do grupo pesquisa “Educação Musical e Movimentos Sociais” cadastrado no CNPq, cuja proposta é investigar as práticas musicais junto a contextos urbanos nas esferas da educação formal e informal, com projeto financiado pelos órgãos de fomento à pesquisa. Tem trabalhos publicados na área que se tornaram referência nacional e internacional na área de educação musical. (fonte: http://www.fml.com.br/36/magali_kleber.asp).
**Flavia Maria Cruvinel** – É violonista, educadora musical, pesquisadora. Doutora em Educação, Mestre em Música e Especialista em Música Brasileira no Século XX, área de concentração Educação Musical, ambos títulos concedidos pela Escola de Música e Artes Cênicas da UFG; Desenvolve pesquisas na área de Educação Musical, focalizando os seguintes temas: Formação Musical, Ensino Coletivo de Instrumento Musical; Educação Musical em Espaços Alternativos; Uso do Imaginário e Criatividade nas metodologias de ensino musical. Atualmente, é Professora Adjunta da Escola de Música e Artes Cênicas, Diretora de Cultura e Pró-Reitora Adjunta de Extensão e Cultura da Universidade Federal de Goiás. (Fonte: https://www.ifgoiano.edu.br/home/index.php/component/content/article/17-ultimas-noticias/14775-if-goiano-discute-arte-e-cultura-na-formacao-humana.html)