*Foto: Pamela Peres*
Carioca, músico, arranjador e compositor, André Ramos formou-se professor de música em 2007 pela Unirio e, atualmente, cursa o mestrado profissional em Pedagogia do Instrumento no PROMUS UFRJ. Ele é saxofonista barítono da Orquestra Voadora, da qual participa desde sua fundação, fazendo arranjos e compondo músicas originais – produziu o álbum *Ferro Velho* e os singles *Technocirco*, *Revoar* e *Pernas Voadoras*.
Desde 2013, ele dá aulas de saxofone e participa da organização da oficina da Orquestra Voadora e, em 2020, ele foi um dos responsáveis pela formação do núcleo de acessibilidade do bloco da Orquestra. Confira a seguir uma entrevista com André Ramos.
**A Orquestra Voadora é muito popular como bloco de Carnaval, mas ela é um grupo que atua em várias frentes, não é?**
O grupo que compõe a Orquestra Voadora é de fato bem numeroso e diverso. Além do bloco de carnaval, temos uma banda de 12 integrantes, que faz apresentações em palcos e em diversos outros contextos, como hospitais e cortejos. Além disso, ministramos uma oficina de instrumentos de sopro e percussão, em atividade desde 2013. Temos ainda a oficina de pernas de pau Pernas Voadoras. O bloco de carnaval é formado pelos alunos e professores da oficina de sopros e percussão, pernaltas, artistas circenses e uma porção de outras pessoas que tornam todo esse projeto possível através de seu trabalho. Fica até difícil mensurar quantas pessoas contribuem com a Orquestra hoje em dia.
**Qual o objetivo do projeto Acessibilifolia e como será a participação da Orquestra Voadora nesse projeto?**
O propósito dessa iniciativa é fomentar a acessibilidade e a inclusão de pessoas com deficiência no contexto das festas populares do Brasil. A ideia é gerar conteúdo e direcionar ações que busquem uma transformação nos nossos festejos populares, a fim de torná-los mais democráticos e inclusivos, não só para as pessoas com deficiência, mas para todos que compartilham este espaço promovendo a convivência e a diversidade. O objetivo é estabelecer canais para a troca de experiências entre as pessoas com e sem deficiência, organizadores das festas, gestores, artistas e a comunidade acadêmica. Serão produzidas lives, entrevistas, séries de vídeos, vodcasts, publicações e outros materiais.
A Orquestra Voadora participa compartilhando as experiências vividas no núcleo de acessibilidade que criamos no nosso bloco e incentivando outros grupos a buscarem a participação de pessoas com deficiência na folia. Atingir o ideal democrático e libertador da folia só é possível com a participação de todas as pessoas, com e sem deficiência.
**A Orquestra Voadora sempre atraiu grande diversidade de artistas e de público e, nos desfiles, é notável a presença de pessoas com deficiência. Como surgiu a ideia de criar um núcleo específico para tratar da acessibilidade?**
A criação do núcleo de acessibilidade foi motivada exatamente pela participação espontânea de pessoas com deficiência em nossos desfiles. O nosso contato com a Associação Beneficente Arcanjo Gabriel, que atende jovens e adultos com deficiência em Penedo, foi também muito marcante. Tocamos na festa junina dessa associação durante muitos anos, e sempre foi maravilhoso perceber o quanto a música é importante nesse contexto. Começamos a nos questionar se seria possível melhorar as condições de acesso no nosso bloco, para que mais pessoas com deficiência pudessem participar.
Propusemos então a formação de um grupo para pensar e realizar ações, com o intuito de possibilitar e incentivar essa participação, não só nos desfiles, mas também nas aulas da oficina, no planejamento do bloco, e em todas as etapas que constroem nossa folia. A esse grupo se juntaram profissionais e pessoas com deficiência que possuem uma experiência riquíssima. Esse pensamento na Orquestra visa, muito mais que a acessibilidade, a participação e a inclusão efetiva de pessoas com deficiência.
**Você tem uma formação acadêmica em Música. Como é aplicar esses conhecimentos no trabalho com a banda e, especialmente, no bloco da Orquestra Voadora, algo mais espontâneo e popular?**
A formação acadêmica é algo que eu recomendo para todos que tenham um interesse maior na música, mas que infelizmente não é possível para grande parte da nossa população. Por meio dela, podemos entrar em contato com pessoas que têm uma experiência enorme, não só dentro da academia, mas na música em geral. Eu troco e aprendo muito com essas pessoas, e procuro sempre levar esse aprendizado para o meu fazer artístico.
O aprendizado dentro da Orquestra Voadora também é de um valor inestimável. A formação acadêmica tem me proporcionado a oportunidade de pensar o que a gente faz na Orquestra por outro prisma. Tenho a sorte de ter como orientadora no meu mestrado a Sheila Zagury, uma artista incrível, espontânea e que quebra qualquer barreira que se pudesse imaginar entre academia e Música Popular, atuando com excelência nesses dois ambientes. O mestrado profissional em Música da UFRJ e seu corpo docente superaram todas as minhas expectativas.
**Qual foi o impacto da pandemia no trabalho da Orquestra Voadora e qual o aprendizado eou legado desse período?**
O impacto da pandemia nas nossas atividades foi enorme. Tudo que a gente sempre fez se baseia em juntar as pessoas em torno da Arte. Sem aglomeração, boa parte do nosso trabalho ficou inviável na prática. Além disso, uma grande preocupação e pesar com a situação que vivemos têm sido marcantes neste momento. No entanto, seguimos fazendo nossa música, e reinventando espaços de troca.
A oficina online tem sido um alento no meio disso tudo. É incrível como podemos nos sentir tão perto das pessoas, mesmo com o distanciamento social, através da música. Tenho certeza de que nossa oficina presencial, quando ela puder voltar, será marcada profundamente pelo que foi desenvolvido neste período. Estamos vendo esse momento como uma oportunidade de sair do turbilhão que é a organização de um desfile de carnaval grande como o nosso, para repensarmos a nossa forma de atuar na sociedade.