Percussão inclusiva e democrática

Chega ao final hoje, 27/4, o Festival Acessibilifolia, que ocupou o Teatro Cacilda Becker durante todo o mês de abril, com intensa programação destinada a pessoas com e sem deficiência. O foco foi discutir a acessibilidade no carnaval carioca, que este ano foi celebrado excepcionalmente no fim de abril, em virtude da pandemia do Covid-19.
Todas as atividades do Festival contaram com recursos de acessibilidade física, interpretação em Libras e mediação acessível; e as apresentações tiveram audiodescrição. Mestre Riko ministrou a *Oficina de Instrumentos da Alegria*, idealizada pelos Embaixadores da Alegria. O objetivo era construir instrumentos musicais adaptados a partir de objetos recicláveis.

Na entrevista a seguir, o mestre nos fala um pouco de sua longa trajetória, que inclui a criação de uma bateria formada só por mulheres e o comando da primeira escola de samba voltada para pessoas com deficiência, que ele prefere chamar de “eficientes” e especiais. Como de costume, a escola de samba abrirá o Desfile das Campeãs, neste sábado, 30 de abril, na Marquês de Sapucaí. Em seu 14º desfile, o enredo escolhido se chama *Ayô, Ayô*, que significa “Alegria, Alegria”, fazendo jus ao nome da agremiação.

![Mesre Riko_foto3 (1).jpg](https://umnovoolhar.art.br/wp-content/uploads/strapi/Mesre_Riko_foto3_1_9781221b18.jpg)

**Como foi seu início na música? Por que decidiu se dedicar à percussão?**

Foi através do meu tio, que era compositor, clarinetista, percussionista e mestre-sala da Unidos da Tijuca. Ele foi meu primeiro professor de ritmo. Bom, e fui DJ e também cuidava da manutenção dos equipamentos de som. O instrumento de que eu mais gostava era o tamborim e passei a estudar por conta própria, em casa, todo santo dia, até ser convidado para integrar a bateria da Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro.
A partir daí fui embora, toquei em várias outras escolas. Resolvi então investir na carreira de percussionista. Foi quando criei um projeto de trabalho para percussão voltado para os universitários, aprovado pela Faculdade Cândido Mendes e foi um sucesso. Senti a necessidade de estudar mais profundamente a música, então me aperfeiçoei. Fui aluno de um dos maiores percussionistas do Brasil, Mestre Bituca, Edgar Nunes Roca, da Escola de Música Villa-Lobos, onde, há mais de 30 anos, passei a ser também professor e fundei a cadeira de percussão popular.

**Há alguns anos você criou a Fina Batucada. Como surgiu a ideia de formar uma bateria só com mulheres?**

Surgiu num momento em que assistia aos ensaios das escolas de samba; quando percebi que as mulheres eram minoria. A bateria das escolas de samba era uma área predominantemente masculina, com poucas exceções. Tive então a ideia de criar uma bateria composta somente de mulheres, em que elas pudessem tocar todos os instrumentos de percussão, e não ficassem limitadas a um ou dois desses instrumentos.

**Como foi ver a Fina Batucada como a primeira bateria feminina a tocar na Sapucaí e participar de outros eventos de destaque como abertura dos Jogos Pan Americanos? Acha que ela abriu caminhos para outras baterias de mulheres?**

Olha, foi muito emocionante ver minha bateria entrando para a história e ainda ganhamos o estandarte de ouro do Jornal O Globo. Com certeza abriu caminhos para outras baterias de mulheres.

**A criação de instrumentos a partir de objetos recicláveis torna a música ainda mais acessível. Fale um pouco da oficina e da importância desse trabalho.**

Busco provocar a criatividade dos participantes. Coloco a ideia do instrumento e eles vão criando outros a partir desse. Não ficamos somente na criação, vamos praticando o instrumento também, vou ensinando como utilizar, fazendo performance em grupo.

Trabalhar a mente desses participantes de forma criativa, a fim de proporcionar inclusão social e melhora do desenvolvimento intelectual, confere a devida importância a esse trabalho.

**Você chegou a ministrar uma oficina semelhante para crianças a partir de quatro anos. Essa é uma possibilidade para professores trabalharem com seus alunos, unindo o ensino da música com uma prática sustentável desde a infância?**

Sim, com certeza. Desde criança o ser humano já vai entender que tudo deve ser reaproveitado, sempre de maneira lúdica. A música auxilia nesse entendimento, sem dúvida.

**A Escola de Samba Embaixadores da Alegria é voltada para pessoas com deficiência. Como é ser seu mestre de bateria?**

Gosto de me referir aos deficientes como sendo “eficientes”, são especiais. Sempre foi um prazer tocar para os eficientes, me emociono todo ano que entramos na Avenida por eles.

**Você já ministrou cursos de percussão no exterior, como na Áustria e na Alemanha, levando ritmos brasileiros. Destacaria alguma diferença na aprendizagem entre os brasileiros e estrangeiros? Como é a recepção à nossa música**

Os estrangeiros são muito mais exigentes, querem saber de tudo. Tudo é “por quê?”, “Como assim?”
A música brasileira lá fora é muito bem recebida. Eles têm interesse em aprender, chegam a cantar/tocar como nós, querendo ser como os brasileiros. Mas nós temos o swing, porque somos nativos, e para eles pegarem esse nosso swing, só vivendo aqui.

**Qual dica ou conselho daria para pessoas, com deficiência ou não, e independentemente da idade, que sempre gostaram de música, mas ainda não tiveram coragem de começar?**

A hora é agora, o momento é já. Nunca é tarde para aprender música.

**Mestre Riko** é músico com habilitação em percussão, cordas e canto pela Ordem dos Músicos do Brasil (OMB). Formado em teoria musical pela Associação de Músico Militar do Brasil – AMMB. Formado em percussão pela Escola de Música Villa-Lobos – EMVL e em percussão africana no curso ministrado pelo professor Gert Kilian em Toulouse / França. Coordenador, professor e criador da cadeira de percussão popular da Escola de Música Villa-Lobos, onde também é percussionista da Orquestra de Violões e Fundador e regente da Orquestra de Percussão Infantojuvenil. Fundador e regente da primeira e maior Bateria Feminina do Brasil – Fina Batucada. Pesquisador de ritmos do Folclore Brasileiro. Fundador do Curso de Percussão Popular da Universidade Cândido Mendes. Diretor de bateria, naipe de tamborins, da Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro na década de 1980. Dirigiu a bateria da 1a Escola de Samba do Rio de Janeiro Vizinha Faladeira, antiga Deixa Falar e a bateria da Escola de Samba Acadêmicos de Vila Kennedy.

Mestre de bateria de blocos carnavalescos tradicionais do Rio de Janeiro: Bafo da Onça, Batuke de Ciata, Bloco Fogo na Cueca, Bloco Coração das Meninas, Banda de Olaria, Bloco Minerva Assanhada, Bloco Batuque na Justiça e bateria e da Escola de Samba Embaixadores da Alegria, 1ª escola de samba para pessoas com deficiência. Ministrou curso de ritmos brasileiros em Viena/Áustria (Escola Foccus de Percussão ) e em Stuttgart / Alemanha (Universidade Music Hoëck Schule) e curso de percussão na Escola de Samba Chucrute com Banana – Tubing / Alemanha, entre outros.
Em 2019, tornou-se professor do curso de percussão do Sindicato dos Servidores das Justiças Federais no Estado do Rio de Janeiro (SISEJUFE). Em 2020, criou o Bloco Batuque na Justiça junto com os servidores do Sindicato. Operador de áudio e vídeo na Herbert Richers.

![Mesre Riko_foto1.jpeg](https://umnovoolhar.art.br/wp-content/uploads/strapi/Mesre_Riko_foto1_6a95784718.jpeg)

**Encerramento do Festival Acessibilifolia** – O Encontro dos Blocos Orquestra Voadora e Senta que eu Empurro marca o fim do festival – Teatro Cacilda Becker – Rua do Catete, 338 – Catete, Rio de Janeiro – 20h. Mais informações aqui no site.

Assista os vídeos do projeto Acessibilifolia neste site e no canal Arte de Toda Gente no Youtube https://www.youtube.com/c/ArteDeTodaGente

*Fotos de divulgação*