Professor participante do Projeto Espiral do Sinos – com videoaulas gravadas disponíveis aqui no site –, o percussionista Pedro Moita deu uma oficina ao vivo, no dia 27 deste mês, entre 10h e 12h, como parte da programação do Festival Arte de Toda Gente. Embora participe tanto de orquestras quanto de blocos carnavalescos e escolas de samba, ele esclarece que, tal qual em em suas videoaulas gravadas, sua oficina ao vivo foi mais dedicada aos instrumentos sinfônicos, que são, também, o foco das vídeoaulas que ministra no Projeto Espiral, parte do Sinos.
Na entrevista a seguir, feita antes da oficina, Pedro nos fala sobre sua trajetória e, também, do que iria abordar na videoaula.
**Você já participava do Projeto Espiral dentro do Sinos, que diferença sente com o Festival Arte de Toda Gente, em que suas aulas serão ao vivo, com um contato – ainda que virtual – mais direto com os alunos?**
Os vídeos gravados permitem passar um conteúdo organizado e objetivo. Quem assiste pode pausar, ver quantas vezes quiser e quando quiser, inclusive em “câmera lenta”. Já o contato ao vivo, síncrono, possibilita uma adequação mais fina do conteúdo às necessidades que quem assiste, de maneira mais personalizada. Ambos os meios têm seu valor.
**Como você começou na música? Quando decidiu que se dedicaria à percussão?**
O primeiro instrumento musical que eu aprendi a tocar foi o pandeiro brasileiro. Por influência de um amigo, comecei a aprender a tocar o pandeiro de maneira autodidata e descompromissada, como um desafio.
Em pouco tempo, comecei a tocar outros instrumentos de percussão e passei a tocar profissionalmente em eventos, botequins, restaurantes… Logo percebi que eu precisava estudar mais seriamente para me aperfeiçoar, então procurei a Escola de Música Villa-Lobos, onde comecei a ter aulas de música com 14 anos de idade. A percussão já era o que eu tocava, então a escolha por ela foi automática. Foi a partir desse meu estudo de música formal que passei a ter contato com os instrumentos de percussão de orquestras sinfônicas.
Na época de término do colégio, por volta dos meus 18 anos, eu já trabalhava regularmente como percussionista havia alguns anos. Então, seguir a carreira e procurar uma faculdade na área me pareceu natural.
**Qual a importância da percussão na orquestra? Pode citar exemplos de instrumentos de percussão usados nas orquestras?**
Os instrumentos de percussão usados em orquestras sinfônicas tradicionalmente têm as funções principais de referência rítmica e de colorido tímbrico. Alguns dos mais tradicionais são os tímpanos, o bombo, os pratos e o triângulo.
Desde o século passado, entretanto, muitos outros instrumentos de percussão foram sendo cada vez mais incluídos em composições para orquestras sinfônicas, como o xilofone E também instrumentos de diversas culturas, como os bongôs, e até objetos que originalmente não são instrumentos musicais, como blocos de lixas de madeira. Hoje em dia há uma enorme variedade de instrumentos de percussão que podem participar de uma orquestra sinfônica e muitas vezes com um papel protagonista, solista, para além de suas funções mais tradicionais.
**E como será sua aula no festival?**
A ideia da minha aula no festival é priorizar dúvidas e assuntos relacionados ao bombo e pandeiro sinfônico, que foram os instrumentos que eu abordei nos vídeos gravados para o Projeto Espiral. Apesar disso, não há uma rigidez. Se houver demanda, podemos tratar de outros assuntos dentro do universo da percussão.
**E qual é a diferença do bombo e do pandeiro sinfônicos para os tradicionais bombo e pandeiro?**
Bombo é um nome genérico para um tambor grave com determinadas características físicas. Para diferenciar o bombo tocado em orquestras sinfônicas de outros bombos, tanto no aspecto físico, quanto técnico, é comum denominá-lo bombo sinfônico. O mesmo acontece com o pandeiro.
Para além do pandeiro sinfônico e do brasileiro, que é bem conhecido, existe uma grande diversidade de pandeiros que variam entre si em constituição física e técnica característica. Tanto no caso do pandeiro, quanto no caso do bombo, a tradição se observa dentro de um determinado contexto no qual o instrumento é usado. Por exemplo, existe o pandeiro tradicional do choro brasileiro e existe outro pandeiro que é tradicional da tarantela italiana. Ambos são tradicionais, mas são instrumentos diferentes.
**Além das orquestras, você participa de diferentes escolas de samba e blocos de Carnaval. Quais são? Qual a principal diferença entre tocar percussão em um bloco, uma escola de samba e uma orquestra?**
Eu nasci no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, mas me mudei para Vila Isabel com 2 anos de idade e lá morei por mais de 30 anos. Quando comecei a estudar música, também passei a tocar frequentemente na bateria carnavalesca comandada por Mestre Riko, na Escola de Música Villa-Lobos, e a frequentar eventualmente os ensaios da Unidos de Vila Isabel, sem desfilar, entretanto.
Em 2000 fiz meu primeiro desfile na Sapucaí, ainda numa escola pequena e, em 2003, desfilei pela primeira vez em uma escola grande: a Unidos da Tijuca. Fui a convite do meu então professor de matemática no colégio, Mestre Ricardinho, que era diretor de tamborim nessa escola e que me levou para conhecer outras baterias na época.
A partir do início do meu curso de graduação em música, tive que me dedicar a outros estudos e parei de frequentar as baterias. De 2014 para cá, voltei a frequentar as escolas e passei a desfilar todos os anos na Unidos de Vila Isabel. Nesse retorno, trouxe a experiência que adquiri no estudo de música formal, inclusive ajudando na composição das chamadas bossas, ou paradinhas, e transcrevendo tudo em partituras.
Tocar em um bloco e em uma escola de samba é essencialmente igual em relação à técnica e parecido em relação à experiência em si. De maneira geral, em baterias de escolas de samba é comum que haja uma cobrança mais rigorosa porque o desfile é também uma competição. Por outro lado, em baterias de blocos carnavalescos normalmente há menos ritmistas, então eles tendem a ficar mais expostos, o que pode evidenciar mais facilmente para o público alguma falha individual.
Já tocar percussão em uma orquestra sinfônica é bem diferente desses dois, tanto na técnica, quanto na própria experiência. Muito raramente há naipes de instrumentos iguais, como há nas baterias, então cada nota é, de certa maneira, um solo. De maneira geral, há uma responsabilidade maior. De qualquer maneira, ambas as experiências são enriquecedoras: tocar “música popular” ajuda a tocar “música clássica” e vice-versa.
Se por um lado uma técnica mais acurada e o conhecimento de teoria musical inerentes à prática da “percussão orquestral” podem enriquecer o “percussionista popular”, por outro lado, a noção rítmica peculiar e a capacidade de improvisação que são comuns na “percussão popular” podem também enriquecer bastante o “percussionista orquestral”. Nenhuma é melhor que outra, é uma via de mão dupla onde, no fundo, ambas as práticas convergem para uma única arte: tocar instrumentos de percussão.
**Pedro Moita** é percussionista da UFRJ, onde toca principalmente na Orquestra Sinfônica e na Orquestra de Sopros e Percussão. É professor do Instituto Brasileiro de Educação Superior Continuada (IBEC), onde ministra aulas de percussão no curso de licenciatura e pós-graduação em música. No âmbito da música popular, frequenta baterias de blocos carnavalescos e de escolas de samba desde seus 14 anos de idade e, aos 19, foi agraciado como integrante do conjunto de choro “Abrindo o Berreiro”, com a Moção de Louvor da Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Ingressou no doutorado pela Unicamp em 2012.
Pedro iniciou seus estudos em música na Escola de Música Villa-Lobos e manteve aulas particulares semanais com o percussionista Luiz D’Anunciação por mais de cinco anos. Na UFRJ, obteve o título de Mestre em Música e formou-se com diploma Magna cum laude no Bacharelado em Percussão. Complementou sua formação com aulas e oficinas de percussionistas de especialidades distintas.
***Saiba mais sobre o Festival Arte de Toda Gente em:*** https://sinos.art.br/noticias/57/Projeto-Espiral-oferece-oficinas-gratuitas-ao-vivo-no-Festival-Arte-de-Toda-Gente
***Aproveite para conferir também as oficinas e apresentações dos projetos Bossa Criativa e Um Novo Olhar.***
Assista aos vídeos do Festival Arte de Toda Gente e demais oficinas e apresentações aqui no site do Projeto Sinos – Sistema Nacional de Orquestras Sociais.
*Foto: Ana Liao*