Entre os dias 17 e 21 de maio de 2023, Manaus recebeu simultaneamente o 25º Festival Amazonas de Ópera e – pela primeira vez no Brasil – a 16ª Conferência Anual da Ópera Latinoamérica (OLA). Presidente da Academia Brasileira de Música e coordenador do Sistema Nacional de Orquestras Sociais – Sinos – que faz parte do programa Arte de Toda Gente e inclui a Academia de Ópera –, o professor da Escola de Música da UFRJ e maestro André Cardoso esteve presente a estes eventos, que são considerados os dois mais importantes do gênero na América Latina e, na entrevista a seguir, realizada antes dos mesmos, nos explica sua importância e significado.
O que são Conferência Anual da Ópera Latinoamérica e o Festival Amazonas de Ópera?
André Cardoso – São dois eventos simultâneos. O Festival Amazonas de Ópera vem a ser o mais importante do gênero na América Latina. Está na 25ª edição e, ao longo do tempo, transformou o cenário cultural de Manaus. Através do festival, foram criados corpos artísticos para o Teatro Amazonas, projetos de educação musical. Foi criada uma grande Central Técnica. Além de oferecer espetáculos de alto nível artístico ao público, o festival revitalizou o entorno do teatro, com a abertura de hotéis e comércio, ou seja, alavancou o turismo, gerou negócios, emprego e renda. Durante o festival acontece a Assembleia anual da Ópera Latino América (OLA), organismo que reúne os principais teatros produtores do continente, cujo objetivo é promover e desenvolver a ópera na região. Durante o evento vários temas são discutidos em mesas de debates e grupos de trabalho.
E qual é a importância desses eventos para o segmento?
É a primeira vez que a assembleia da OLA é realizada no Brasil. Sediar o evento é importante para o próprio desenvolvimento da ópera no Brasil, pois a produção nacional e os artistas brasileiros ganham visibilidade internacional, gera coproduções e troca de produções, intercâmbio de experiências e negócios.
Quais são as suas expectativas em relação a esses eventos e como o projeto Sinos se insere nesse segmento?
As expectativas são as melhores possíveis. A Funarte e a UFRJ estarão representadas. Criamos a Academia de Ópera Sinos, que agora faz parte do Projeto Ópera, que é a ação que implementa o Plano Nacional para o Desenvolvimento da Ópera no Brasil. Foi a parceria da Funarte com UFRJ que viabilizou, por exemplo, a encomenda de novas óperas a quatro compositores brasileiros e a produção e a apresentação de novos espetáculos em cidades como Porto Alegre, Rio de Janeiro, Petrópolis, Ouro Preto, Juiz de Fora, Tatuí e São Paulo. Através do projeto, foram resgatadas partituras históricas, como “A Noite de São João”, de Elias Álvares Lobos, compositor brasileiro do século XIX. Em processo de editoração pelo maestro Roberto Duarte está a ópera “Pelo Amor”, de Leopoldo Miguéz. Apoiamos também o início do projeto de reorganização do acervo da biblioteca do antigo Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, onde se encontram guardados manuscritos de óperas de vários compositores brasileiros. São ações importantes tanto para a produção do passado quanto a contemporânea e dar visibilidade a elas em um evento internacional é importante.
E quais são os planos da Academia de Ópera? O que vem por aí?
A ópera “O Machete”, encomendada ao compositor André Mehmari estreia em julho, no Teatro São Pedro, de São Paulo. A ópera “Candinho”, encomendada ao compositor João Guilherme Ripper, foi finalizada e está sendo negociada para estreia em 2024. Já a “Ópera do Cabeça de Cuia” está em processo de composição por Eli-Eri Moura. Para o segundo semestre, estão previstas também oficinas para artistas e técnicos.