“O Engenheiro”, ópera de Tim Rescala, estreia em Porto Alegre

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Foi lançada no domingo, dia 17 de outubro, com reapresentação no dia 18, no Theatro São Pedro, em Porto Alegre (na foto acima), a ópera *O Engenheiro*, composta por Tim Rescala por encomenda da Academia de Ópera Sinos, do Sistema Nacional de Orquestras Sociais. O espetáculo se passa no dia da Proclamação da República e tem como personagem principal o engenheiro abolicionista e defensor da monarquia André Rebouças (1838-1898). A regência da Orquestra Theatro São Pedro e a direção geral são de Evandro Matté e direção cênica de José Henrique Moreira. O Sinos é uma parceria da Fundação Nacional de Artes – Funarte com a Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, com curadoria de sua Escola de Música.

Seguindo as restrições sanitárias, as apresentações foram limitadas a 240 espectadores cada (40% da plateia). A classificação indicativa é de 8 anos e, para a entrada, foi exigido o comprovante de vacinação contra a Covid-19 (fornecido pelo Conecte-SUS ou a própria caderneta de vacinação).

**O Engenheiro**
Apresentada em um ato, a ópera conta a retrata a saga do engenheiro militar e inventor brasileiro André Rebouças durante o emblemático dia 15 de novembro de 1889, quando ocorreu a Proclamação da República. Em cena, os bastidores dos acontecimentos e a reação da família imperial, assim como sua condenação ao exílio. Rebouças, que é interpretado pelo barítono David Marcondes, era mestiço – sua mãe era uma escrava alforriada e seu pai português. O avô de Rebouças, baiano, lutou pela independência da antiga colônia e seu pai era conselheiro do Imperador. O engenheiro tornou-se um dos mais importantes articuladores do movimento abolicionista, mas se manteve monarquista e acompanhou Dom Pedro II no exílio. Estão também estão no elenco Yasmini Vargas, Flávio Leite, Eduardo Alves, Izabella Domingos, Marta Vidal, Ânderson Vasconcelos, Francis Padilha e Clarisse Diefenthäler.

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**Elenco e personagens**

André Rebouças (barítono); então com 51 anos
Princesa Isabel (soprano); então com 43 anos
Gastão (conde d’Eu) (tenor); então com 47 anos
Francisco: Escravo-de-ganho recém liberto (tenor) cerca de 40 anos
Joaquina: Escrava-de-ganho recém liberta (soprano) cerca de 35 anos
Visconde da Penha (barítono): cerca de 66 anos
Baronesa de Muritiba (mezzo): 38 anos
Guarda do Palácio (barítono); negro, ex-escravo, cerca de 30 anos
Manoela (mezzo): ex-escrava doméstica, 35 anos

**O roteiro””
__Cena 1 (Pregões diante do Palácio Imperial).__

O cenário da ópera é o Palácio Imperial, residência da família imperial no Rio de Janeiro. Dois ex-escravos-de-ganho, Francisco e Joaquina, anunciam seus produtos em pregões no entorno do Palácio Imperial. Eles oferecem seus produtos para a plateia. O guarda do Palácio, um ex-escravo que ganhou a alforria por lutar na guerra do Paraguai, tenta afastar os vendedores da frente do Palácio.

__Cena 2 (No interior do Palácio Imperial)__

Isabel está terminando de pintar uma orquídea, como se nada de anormal estivesse acontecendo. Ela chama sua escrava doméstica. Gastão chega, atencioso, mas com ar nitidamente preocupado. Ele tem um forte sotaque francês. Gastão se retira e Isabel começa a se preocupar com as palavras de Gastão. Ela se dirige para a imagem da Virgem Maria, ajoelha-se e reza. Entrando sem serem anunciados, atrás de uma Manuela atônita, chegam a Baronesa de Muritiba e o Visconde da Penha, visivelmente consternados. A sensação de uma tragédia iminente toma conta de todos. Um clima fúnebre toma conta do ambiente e todos se despedem em silêncio.

__Cena 3 (em frente ao Palácio imperial)__

Francisco e Joaquina voltam para vender suas mercadorias. O guarda começa a golpeá-los com o cacetete. André Rebouças, que vinha chegando, impede o guarda de continuar a golpeá-los. Salvos de uma surra por André, os dois mal acreditam no que aconteceu. Joaquina, profundamente agradecida e emocionada, oferece suas frutas a André como gratidão. André fala sobre o sonho de Libéria, uma fazenda nacional para os escravos libertos, se despede de Joaquina e Francisco e entra no Palácio.

__Cena 4 (No interior do Palácio imperial)__

Isabel e Gastão, tensos, aguardam notícias. Manuela, que externa um olhar de enorme admiração por André, o leva até eles. Como se fosse apresentar um projeto de engenharia, André se vale de um mapa da cidade para contar o seu périplo para tentar os movimentos em direção à proclamação da república. Motivados por André, que tenta reanimá-los, Isabel e Gastão também louvam a Abolição. Isabel e Gastão, sem entenderem bem as palavras de André, se recolhem, enquanto ele se dirige para fora do Palácio.

__Cena 5 (em frente ao Palácio imperial)__

Do lado de fora, Joaquina e Francisco, felizes porque agora podem vender seus produtos sem que o guarda os recrimine, falam sobre André. Ao verem André saindo do Palácio triste e cabisbaixo, eles interrompem a conversa. O guarda, que também havia sido conquistado pelas palavras de André, se aproxima para ouvi-lo, junto a Joaquina e Francisco. André volta para o Palácio, cabisbaixo. Joaquina, Francisco e o Guarda se dão conta do que devem fazer a partir de agora. Ouve-se ao longe os ecos da manifestação dos estudantes da Escola Politécnica, liderada por Silva Jardim. (o restante do elenco canta em off): “Abram alas, é a república. O império vai acabar. Abram alas, é a república que chegou e que vai ficar”.

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**Os principais intérpretes**

**David Marcondes** (Barítono – André Rebouças)
Mineiro de Belo Horizonte, David Marcondes fez sua preparação vocal a partir de 1994 sob a orientação do barítono e professor Amim Feres na Universidade Federal de Minas Gerais, nas áreas de canto, canto coral e técnica vocal, onde integrou o Coral Ars Nova. Como solista, acumula participações em festivais de música na Espanha, Itália e França, e em diversos espetáculos líricos, cantatas, musicais, missas e oratórios país afora. É integrante do Coral Lírico do Teatro Municipal de São Paulo. Dentre seus papéis de destaque estão Fígaro em O Barbeiro de Sevilha de Rossini, Amonasro na Aída de Verdi, Escamilo na Carmen e Zurga em Os Pescadores de Pérolas de Bizet, Ned em Treemonisha de Scott Joplin e Crown em Porgy and Bess de Gershwin e Ismael em Anjo Negro de João Guilherme Ripper.

**Yasmini Vargaz** (Soprano – Princesa Isabel)
É soprano lírico coloratura, bacharel em Canto Lírico pela UFRGS, pós-graduada em Ensino do Canto e mestranda em Performance Musical pela UNIRIO. Em 2016 foi vencedora do IX Concurso Estímulo para Jovens Cantores Líricos de São Paulo. Yasmini atuou com importantes orquestras, como a Orquestra Sinfônica de Barra Mansa, Orquestra Sinfônica de Botucatu, Orquestra Sinfônica de Gramado. Orquestra Sinfônica de Carazinho e com as principais Orquestras de câmara do Rio Grande do Sul em montagens de óperas e concertos, cantando sob a regência de Jorge Dummont (ARG), Fernando Villate (PER), Carlos Aramsay (ESP), Linus Lerner (BRA/EUA), Claudio Ribeiro, Evandro Mateé, entre outros. Interpretou as personagens Aminta de L’Olimpiade, Alcina de Handel, Giunia de Lucio Silla, Vênus de Ascanio in Alba, Condessa de Le nozze di Figaro, D. Anna de Don Giovanni de Mozart, Julieta de Romeu e Julieta de Gounod, Norina de Don Pasquale de Donizetti, e Hanna de A Viúva Alegre de Franz Lehar, entre outros papéis.

**Flávio Leite**(Tenor – Gastão)
Presença frequente nas temporadas dos principais palcos nacionais, Flávio Leite tem se firmado como um dos mais atuantes e versáteis cantores líricos brasileiros de sua geração. Acumula experiência em óperas que vão desde Il Combattimento di Tancredi e Clorinda de Monteverdi à Lulu de Alban Berg, incluindo Iphigenie en Tauride, de Gluck, Fidelio, de Beethoven, A Flauta Mágica, Così Fan Tutte e Don Giovanni de Mozart, O Barbeiro de Sevilha e La Cenerentola de Rossini, La Fille du Regiment e Rita de Donizetti, A Viúva Alegre de Lehar, Turandot de Puccini, Mozart e Salieri de Korsakov, Diálogo das Carmelitas de Poulenc e A Raposinha Astuta de Janacek, entre outros títulos, acumulando mais de 50 personagens em oito idiomas diferentes já em repertório, desenvolvidos em 15 anos de carreira profissional. No repertório brasileiro contemporâneo participou das estreias mundiais das óperas Dulcinéia e Trancoso e a Ópera do Mambembe Encantado de Eli-Eri Moura, O Menino e a Liberdade de Ronaldo Miranda, O Perigo da Arte de Tim Rescala, gravou a ópera A Estranha, de Vagner Cunha e participou da premiada produção da última ópera de Villa-Lobos, A Menina das Nuvens. Desenvolve ainda ampla atividade como camerista e solista em oratórios e obras sinfônicas com os principais regentes e orquestras brasileiras. É pós-graduado pelo Conservatório Superior del Liceu, em Barcelona e Mestre em Música pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

**Direção e regência**

**Evandro Matée** (Direção musical e regência)
Iniciou seus estudos em música aos sete anos. Aos 15 anos passou a integrar a orquestra profissional da sua cidade natal, a Orquestra Sinfônica de Caxias do Sul (RS). Radicado em Porto Alegre, ingressou na Escola de Música da OSPA (Orquestra Sinfônica de Porto Alegre). Aos 19 anos assumiu a cadeira de trompetista da OSPA e ingressou no curso de graduação em música pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especializou-se na Universidade da Georgia (EUA) e no Conservatoire de Bordeaux (FRA). Em 2007 assumiu a Orquestra Unisinos Anchieta como maestro e diretor artístico. Em 2011 lançou o Festival Internacional SESC de Música – Pelotas, projeto por ele idealizado em parceria com o SESC RS. O festival é hoje reconhecido como um dos maiores e mais significativos da América Latina. Além do caráter de formação, o festival também se destaca por cumprir singular papel no fomento à cultura da região onde se insere. Após 25 anos como trompetista, Evandro Matté assumiu o posto de diretor artístico e maestro da OSPA. Com realização de turnês, produção de discografia, fortalecimento de programas educacionais, construção de uma nova casa de concertos e busca da elevação do nível artístico da orquestra, sua atuação à frente da OSPA é celebrada por coloca-la dentre os mais importantes conjuntos sinfônicos da América Latina. Desde 2018 é também diretor artístico e maestro da Orquestra de Câmara Theatro São Pedro (OCTSP) de Porto Alegre, com a qual realiza temporadas de concertos e óperas. Por sua contribuição cultural ao desenvolvimento das artes francesas no Brasil, em 2019 foi condecorado pelo Ministère de la Culture da França pela insígnia de Chevalier de l´Ordre des Arts et des Lettres.

**José Henrique Moreira** MOREIRA (Direção cênica)
Mestre em Teatro pela Uni-Rio, José Henrique Moreira é professor de Direção Teatral e Iluminação Cênica na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde coordena as mostras de teatro. Como diretor encenou espetáculos como As Eruditas, Ricardo III, O Processo, A Pane, Oréstia, Doze Jurados e uma Sentença, entre outras peças. Na ópera foi responsável pela direção cênica de títulos como Dido e Enéias, de Purcell (1996), La púrpura de la rosa, de Tomás de Torrejón y Velasco (1999), Dom Quixote nas Bodas de Comacho, de Telemann (2011), O Caso no Júri, de Gilbert & Sullivan (2013), da qual é autor da versão em português, O Diletante, de João Guilherme Ripper, realizada em estreia mundial a partir de encomenda do projeto Ópera na UFRJ ao compositor (2014), O professor de música de Pergolesi (2015) e Maroquinhas Fru-Fru (2018), ópera do compositor Ernst Mahle a partir do famoso texto infantil de Maria Clara Machado.

**A orquestra do Theatro São Pedro**
Foi criada em 10 de abril de 1985 para fortalecer ainda mais a tradição musical do Theatro São Pedro, através de uma parceria informal entre a direção do teatro e o Departamento de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A parceria foi motivada pela vontade de criar uma orquestra para atuar no TSP, que havia sido recentemente reinaugurado. Desde seu início, a orquestra é mantida somente com apoio da iniciativa privada.
Como diretores artísticos e regentes titulares já atuaram na OTSP os músicos Fredi Gerling (1989/1996) Lutero Rodrigues (1996/2004) e Antônio Carlos Borges-Cunha (2004/2017). O atual Regente e Diretor Artístico é o maestro Evandro Matté.
A orquestra realizou três turnês internacionais, na Costa Rica (1992), nos Estados Unidos (1993) e na Alemanha (1995), levando em seu repertório, principalmente, a música brasileira.
A OTSP consolidou-se como um dos principais grupos de câmara em atividade continuada no país, realizando anualmente três séries de apresentações, além a produção de óperas e balés. A Orquestra também atua no projeto social Vida Com Arte, que atende crianças em vulnerabilidade social com o ensino de música e formação cidadã.
No histórico de apresentações da orquestra constam músicos de renome internacional, como: Yara Bernette, Luís Ascot, Ranson Wilson, Yamandu Costa, Nelson Freire, Charles Rosen, Sumi Jo, Ann Schein, Altamiro Carrilho, Nicanor Zabaleta, Zygmunti Kubala, Jean Pierre Rampal e Antonio Meneses. Representam a música popular brasileira, as participações dos solistas Adriana Calcanhoto, Wagner Tiso, Ivan Lins, Joyce, João Bosco e outros.

**O autor**
Tim Rescala estudou na Escola de Música da UFRJ e na Escola de Música Villa-Lobos. Com Han-Joachim Koellreutter estudou composição, contraponto e arranjo. Licenciou-se em música pela UNIRIO em 1983. Compositor e diretor musical de várias peças de teatro. É um dos mais premiados compositores brasileiros, tendo recebido diversos prêmios Mambembe, Shell, Coca-Cola, APTR, CBTIJ e outros. Faz música para cinema, TV e exposições e trabalhou para a TV Globo por 29 anos. Atuou como compositor e regente em muitos festivais de música contemporânea no Brasil e no exterior. Autor de óperas, musicais, música de câmera e eletroacústica. Sua peça Pianíssimo foi o primeiro texto infantil apresentado na Comédie-Française. Recebeu as bolsas Vitae e RIOARTE. Foi diretor da Sala Baden Powell, RJ, em 2005 e 2006. Escreve e apresenta o programa Blim-blem-blom na rádio MEC-FM desde 2011, premiado na Bienal do México. Seu Quarteto Circular foi indicado ao Grammy Latino de 2011. Sua ópera O perigo da arte, estreou em 2013 em Buenos Aires e sua montagem brasileira em 2014 foi escolhida como um dos 10 melhores espetáculos do ano pelo jornal O Globo. Seus trabalhos mais recentes em TV tiveram muita repercussão: as novelas Meu pedacinho de chão e Velho Chico e a minissérie Dois irmãos, todas com direção de Luiz Fernando Carvalho.

*Imagem de abertura: André Rebouças e Tim Rescala em montagem de Raffaella Bompiani sobre reprodução e foto de divulgação de Filico – Frederico de Souza*
Demais fotos, feitas na estreia do espetáculo: André Cardoso.