O encantador de plateias

*Com seu talento e originalidade, o músico e compositor Hamilton de Holanda começou a tocar bandolim aos quatro anos. Ao logo de sua carreira, ele vem colecionando prêmios e aplausos entusiasmados em palcos de diversos países do mundo, cseja omo solista, ou ao lado de grandes artistas e orquestras. Aqui no Projeto Bossa Criativa, Hamilton comanda uma série de lives com temas relacionados à música e ao mercado de trabalho em seu segmento, sempre com transmissão pelo canal Arte de Toda Gente, no Youtube.*

Carioca, Hamilton se mudou com a família para Brasília ainda bem criança e, aos seis anos já fazia sua primeira apresentação em um programa de televisão. Célebre como improvisador, conhecido por não se limitar a estilos ou escolas, ele hoje ter uma carreira internacional consolidada e leva seu som característico aos diversos cantos do planeta, seja como o solista convidado do Wynton Marsalis e sua Jazz at Lincoln Center Orchestra, ou executando suas próprias composições com orquestras sinfônicas; participando de festivais de rock ou de um megashow de Dave Mathews Band ou no lendário palco do Central Park, em Nova York; da abertura dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro a museus como o Smithsonian em Washington ou o Grand Palais de Paris. Vencedor de vários Grammy Latinos e de prêmios como o da Música Brasileira, Echo Jazz e do Choc, entre outros, nesta entrevista, ele nos fala sobre sua carreira e, também de sua série de lives no Bossa Criativa.

**Quando você teve certeza de que a música seria o seu caminho? Chegou a pensar em outra carreira?**

Eu comecei muito cedo. Aos quatro anos, antes de aprender a ler e escrever eu já tocava bandolim, então, eu nunca “não fui” músico, eu sempre fui músico. Profissionalmente falando, na época do vestibular, quando a gente vai escolher o trabalho da vida da gente, fui um pouco influenciado pela minha mãe, que tinha um pouco de medo de eu ser músico. Meu avô tinha sido contador, meu irmão também fez contabilidade, meu pai fez Economia e eu acabei fazendo vestibular para Engenharia Civil e Contabilidade. Passei para Contabilidade e cursei um ano, mas vi que, apesar de gostar de números, gosto mais de música e que daria mais certo na vida sendo músico. Fui então fazer vestibular para Música na niversidade Nacional de Brasília (UNB) e passei. Desde então, minha dedicação à música foi exclusiva. Nunca parei de tocar e, mesmo nesse período da Contabilidade, eu tocava, fazia shows, gravava sons. E, a partir de 1996, quando eu entrei comecei o curso de Composição de Música, realmente eu me tornei músico definitivamente. A música não era mais só uma alegria, uma diversão, uma religião na minha vida, mas também a sobrevivência.

**O que o inspira a compor? Você tem composto nesse período de quarentena?**

O que me inspira é a vida, são os acontecimentos da vida, são outros compositores. É olhar para o mar, imaginar um som. Você ouvir uma buzina, um batuque, tudo isso é uma história. Uma pessoa, um neném que nasce, tudo isso são inspirações maravilhosas. Ou, às vezes, é uma pessoa querida que faleceu, que também traz melodias e a poesia da vida. Então, tudo é alma, a vontade de fazer uma festa, de fazer uma música muito alegre assim, isso me inspira muito. O país, o Brasil é uma fonte infinita de inspiração e eu estou compondo todos os dias deste ano. Desde primeiro de janeiro, todo dia eu faço uma música nova, todo dia, todo dia, todo dia… Confesso que, no período da pandemia, no começo, eu tive um pouco de dificuldade.

Por mais que eu esteja ficando mais tempo em casa, o que inspira é estar vivendo, é conversar com as pessoas. Eu viajo muito e, de repente, do nada, parei de viajar e de ver as coisas, abraçar as pessoas, viver mais a natureza. Tive um pouco de dificuldade, mas, como disse, qualquer coisa pode inspirar. No barulho do relógio contando o segundo pode estar a marcação de um tempo para criar a melodia por cima. Às vezes vejo o desenho de uma montanha e transponho aquele desenho para um movimento das notas e ali pode estar uma melodia nova. Então vou em frente com essa minha meta de fazer 366 músicas neste ano de 2020.

**Você tem tem tocado com músicos de diferentes partes do mundo, em diversos lugares e eventos. O que mais te marcou até hoje?**

É difícil responder. Eu entro em cada show pensando que vai ser o melhor da minha vida. Cada apresentação renova esse sentimento, então o melhor é sempre o que vai vir. Acabou de rolar um muito bom e eu já estou sabendo que no próximo eu vou ter esse mesmo sentimento, sempre um momento de muita emoção. É fato que quando o público é muito receptivo, com as coisas que eu estou fazendo no palco, o reflexo em mim é imediato. Então, eu vou tocando melhor ainda. É uma troca entre o artista e o público e quanto mais essa conexão for real e verdadeira, e as pessoas realmente estiverem conectadas ali com a minha música, mais rola emoção.

**Em seu site, você se define como “um explorador musical em busca de beleza e espontaneidade” e menciona o projeto Som da Imagem. Como surgiu a ideia?**

O Projeto Som da Imagem nasceu de uma maneira bem espontânea mesmo. O Marcos Portinari é meu parceiro, produtor e idealizador de vários projetos junto comigo. Em cada cidade em que vamos, a gente tem um dia livre. Ou, mesmo quando não temos, durante o percurso do hotel para o teatro, do aeroporto para o hotel, sempre sobre um tempo para apontar a câmera para onde a gente está fazer aquilo virar um filme. O Portinari foi fazendo isso e, enão, me pediu: “faz uma trilha pra esses filmes aqui, aí a gente mostra para as pessoas os lugares onde você vai de viagem e você ainda compõe uma música nova, uma trilha”. As músicas são feitas especialmente para cada série de imagens.

O resultado ficou tão legal, a gente gostou tanto, que virou um espetáculo. Já fizemos esse show em alguns lugares: tem uma projeção gigantesca atrás da gente, no palco do teatro, em que um VJ, o Nelson Porto, toca junto. Normalmente, participam desse projeto tem também o Pedro Martins, grande músico aqui do Rio, o Thiago da Serrinha, outro grande músico também, o Marcelo Caldi. O Daniel Santiago já participou. E tem iluminação especial também, com o João Nunes. Cada espetáculo é único, porque tem um banco de imagens enorme ali e ele vai fazendo. Às vezes, a gente olha e toca de acordo com a imagem. Às vezes, ele ouve o que a gente está tocando e coloca uma imagem de acordo com o que ele acha que está certo, criando na hora ali um audiovisual maravilhoso. As pessoas saem encantadas, e tudo começou com essa brincadeira de filmar a cidade e criar uma música para aquela cidade em que a gente passou.

**O Baile do Almeidinha, de que você participa, se tornou um dos eventos mais concorridos do Rio de Janeiro antes da pandemia. A que você atribui esse sucesso, sendo um evento recorrente?**

O Baile do Almeidinha é um evento muito querido do Rio, mas, no começo, a gente insistiu muito, fizemos os primeiros bailes vazios. A gente insistiu na ideia, no repertório, na concepção musical da festa, das pessoas dançando e interagindo. E deu certo. Outro ingrediente são os convidados, de estilos bem diferentes, que cantam e tocam com a gente e criam ali uma nova maneira, porque cada um tem a sua característica. Então, para o público, tem sempre uma novidade nesses encontros. A banda é espetacular, magnífica como é chamada, com músicos espetaculares. E acho que existe na mente e no coração de todo mundo que trabalha no baile a vontade de fazer um evento leve, que faça as pessoas saírem dali leves e dormirem tranquilas, com uma energia boa para o dia seguinte. É um lugar de paz, muita gente se conheceu no baile e se casou depois. É um baile casamenteiro também (risos).

**Como surgiu a ideia de sua série de lives do Bossa Criativa?**

Surgiu com um convite da UFRJ e da Funarte, através do Maestro Marcelo Jardim. Ele queria que eu participasse porque, desde o começo da pandemia, me viu muito ativo na internet, propondo coisas, encontros e lives educacionais e artísticas. Então, eu propus fazer uma junção com o Nosso Bando, que é uma live que faço desde abril e na qual encontro músicos e pessoas ligadas à profissão, à arte da improvisação. A gente escolhe um tema que tenha relevância para os músicos e dali, com dois ou três convidados, ficamos levantando ideias, problemas e soluções sobre aquele assunto. O resultado é muito legal.

A primeira live acontece no dia 19 de agosto e a gente começa com o tema A Presença nas Redes Sociais, que é constante hoje. A gente tem que “cavucar” e descobrir, propor novas soluções. Um tema em que, hoje, não só o o músico, mas todo mundo que trabalha tem que estar ligado. Será um ótimo tema para começar o Bossa Criativa com o Nosso Bando.