Musicalização infantil em coros: assertividade com afetividade

Nas videoaulas da oficina O Coro Infantil como Ambiente Musicalizador, Mônica fala sobre desenvolver um trabalho com coros infantis de uma forma que seja, ao mesmo tempo, prazerosa para as crianças e eficiente para o resultado do coro. Acolhimento dos coristas, preparação de voz e corpo, sinais musicais e outros ensinamentos para criar um ambiente alegre e socioafetivo para o coro infantil estão entre os temas abordados.
“As crianças respondem aos desafios que lhes são propostos. Não podemos deixar por menos quem pode ir muito além!”, enfatiza a professora e musicista.

**Confira a seguir uma entrevista exclusiva realizada para o Projeto Um Novo Olhar.**

**Como foi o início da sua carreira na música? Quando decidiu que se dedicaria a lecionar?**
Iniciei minha carreira musical a partir da família, onde tinha, desde a infância, um ambiente cheio de harmonia e música. Ali foi plantada a semente que se reflete no nome da proposta metodológica que desenvolvo há mais de 30 anos: Musicalizando com Alegria.
Aprendi com o exemplo, que a Educação Musical é fruto das experiências informais, não-formais e formais de ensino-aprendizagem. A bagagem de cada pessoa precisa ser considerada por quem se propõe a ensinar música.
Minha decisão pela docência em música veio aos 13 anos de idade, quando comecei a dar aulas de piano e teoria em casa. Eu aprendia para ensinar. Desde então, entendi que este seria o segredo de um magistério diferenciado: um coração ávido por aprender sempre, ser musicalizado sempre (por isso o musicalizando, no gerúndio) para ensinar com conhecimento, assertividade e afetividade.

**Muitos cantores começaram na Igreja e outros desenvolveram toda sua carreira nesse ambiente. A qualidade da musicalização sempre foi uma preocupação?**
Sem dúvida, a igreja é um celeiro de talentos. O ambiente de celebração e adoração a Deus tem tudo a ver com música. Cresci nesse ambiente também. Lembro de imitar os regentes dos coros, desde que era criança de colo, e de frequentar os ensaios com a minha mãe. Ficava ouvindo a harmonia das vozes, reproduzindo em casa, com meus bonecos e bonecas organizados como um coral, na minha cama. Comecei a reger pequeno conjunto de meninas aos dez anos de idade. Com essa idade, também, já “batia” as notas das vozes ao piano para o regente, no ensaio do coro.
Foi na igreja que encontrei oportunidade de desenvolver e pôr em prática o que trazia das aulas particulares, do Curso Técnico da Escola de Música da UFRJ. Só fui ter piano aos nove anos. Antes disso, era na igreja que estudava. Nesse sentido, trago, do meu projeto de doutorado, o conceito de “educação abrangente”. Um músico não se forma só por professores de música. Quando o zelador limpa o ambiente do ensaio ou abre o piano, quando um responsável leva a criança para a aula ou para o ensaio, ele também está educando. A abrangência da formação de um músico ou de qualquer profissional é descrita por vidas que se doaram, sacrificaram, ensinaram, foram exemplo. A qualidade da musicalização reúne uma aula que ensine com intencionalidade, ainda que não abra mão do lúdico, respeitando a faixa etária com que se trabalha, mas que não desperdice o precioso tempo com a criança sem objetivos claros e propósito.
As crianças respondem aos desafios que lhes são propostos. Não podemos deixar por menos quem pode ir muito além!

**Há uma idade mínima recomendável para começar a aprender música? Qual a importância da música para o desenvolvimento cognitivo e a aprendizagem como um todo?**
O aprendizado da música se dá desde a gestação. Já existem muitos estudos na área da Neuroaprendizagem musical que nos levam ao ensino cada vez mais precoce da música. O fato é que, quanto menor a criança, mais preparado tem que ser o profissional. Do contrário, haverá um resultado reverso na preconização da aula de música. Vejo crianças desmotivadas musicalmente aos sete anos de idade! Isso significa que o alicerce não foi bem feito. O que deveria ter sido uma experiência cheia de maravilhamento, se tornou numa aversão musical. Adultos devem estar alertas quanto a isso.
Em geral, temos fases importantes para a musicalização da criança: 0 a 3 anos (sensibilização, percepção da paisagem sonora e vivência musical); 4 a 6 anos (conteúdos anteriores ampliados, experimentação, criatividade, e início da prática coletiva com coro infantil, bandinha rítmica e/ou violino; 7 a 11 anos (conteúdos anteriores ampliados, conhecimento e vivência da linguagem musical, iniciação instrumental com instrumento de livre escolha).
E quanto à idade máxima, sempre é tempo de começar? Idosos podem aprender também?
A música é um direito de todos. Seus benefícios são inquestionáveis em qualquer fase da vida, além de ser a linguagem artística com maior potencial inclusivo e social.

**Inúmeras lives têm acontecido nos meses de isolamento. Qual a importância da música nesse tempo de pandemia?**
Parafraseando Nietzsche: “Sem a música, a vida seria um erro.” Sua importância em tempos de pandemia só tem tido maior visibilidade.
Fale da sua participação no projeto Um Novo Olhar e da oficina “O Coro Infantil como Ambiente Musicalizador”
É um privilégio imenso participar desde o sonho, concepção e elaboração do projeto. Ali tem a minha vida, o que acredito ser viável, realizável e que levará o trabalho coral a um próximo nível, a um maior alcance social e geográfico, a possibilidades inclusivas, a um novo olhar.

**Mônica Coropos** é professora do Seminário do Sul/FABAT, onde coordena a Pós-graduação em Ministério com Crianças e Maturidade 60+/Terceira idade. É diretora do Instituto Cultural, Social e Recreativo Harmonia, mestre em Música (UFRJ), pós-graduada em Música e Educação (Universidade Gama Filho) e graduada em Licenciatura em Educação Artística – Habilitação em Música pela UFRJ (1991). É criadora do EMCA – Encontro Musicalizando com Alegria, assessora pedagógica do Projeto Um Novo Olhar (Funarte/UFRJ). Além disso é compositora, produtora, instrumentista (teclado) e escritora.
Mônica tem vasta experiência na área de Musicalização, em congressos, e ministrando treinamentos e oficinas em vários estados do Brasil. Destaca-se em suas produções, a série de CDs e livros Musicalizando com Alegria, repertório para coros infantis e Usa, Senhor, composição selecionada para o Hinário para o Culto Cristão (HCC).

Acompanhe as videoaulas de Mônica Coropos e de outros professores aqui no site do Projeto Um Novo Olhar.