Entrevista com o Tenor Saulo Laucas: “Minha vida é a música”

Saulo Laucas é cego de nascença e, aos três anos de idade, foi diagnosticado autista. Desde criança, descobriu seu talento para a música e, com apoio da família e de professores, estudou piano e, mais tarde, canto, aprimorando-se mais a cada dia. Hoje, bacharel em canto pela Escola de Música da UFRJ, segue carreira como tenor, com apresentações em diversas cidades brasileiras e aparições na TV – ele também gravou um CD, Belle Canzoni Italiane.

Aqui no site do Um Novo Olhar, o artista apresenta o recital Cancioneiro Italiano, com repertório que ele mesmo escolheu para a ocasião. Sua intenção, diz, é evocar as canções napolitanas que se tornaram clássicas na cultura italiana, despertando o interesse do público. A maioria dessas músicas aqui apresentadas foi composta no final do século XIX e início do século XX.

Apaixonado por música clássica – especialmente pelas Cantatas de Bach –, o carioca Saulo está sempre aberto a diferentes estilos, como MPB, música italiana e africana – a qual tem estudado. Vamos à entrevista:

Seu interesse pela música começou em criança. Como foi a opção pelo piano e o canto lírico?

Eu aprendi muito na escola, aprendi com vários professores Primeiro, com a professora Denise Sales. Eu tocava muito pianinho, tipo tecladinho, tocava muito aquelas músicas como o *Minueto* de Bach, pelas quais eu me apaixonei mesmo. Tive também o professor Sérgio Braziliense, que me deu aula durante bastante tempo. E, depois, estudei na Escola de Música da UFRJ, lugar pelo qual sou apaixonado.

Quanto ao canto, eu estudava com o professor Sérgio Braziliense e minha mãe perguntou: “Sérgio que tal ele cantar?” Ele ficou três meses fazendo teste de avaliação dos vocalizes e, mais tarde, descobriu que minha voz já estava mais potente. Agora eu sou tenor. Hoje, trabalho Africanias, com a professora Andrea Adour, de quem eu fui aluno durante o tempo em que estava na faculdade, até me formar.

O que a música representa na sua vida?

A minha vida é a música! Eu vivo nas músicas, sempre escuto, clássica e MPB nas rádios também. E, no Spotify, pego muito mais as Cantatas de Bach, pelas quais sou apaixonado.

Em que aspectos a música lhe ajudou?

A música me ajudou no estudo, na vida com minha família.

Qual a importância da música para você e todos durante o isolamento?

Nesse isolamento, as pessoas ficavam muito tristes, porque não podiam sair de casa, não podiam ir a um concerto, não podiam fazer nada mesmo. Ouvir música pessoas faz as pessoas ficarem felizes. Por isso é muito importante que muita gente faça lives de música, para ajudar as pessoas, para deixá-las mais felizes.

Você recebeu o título de cidadão em duas cidades no sul, quais são?

A primeira cidade é Bagé no Rio Grande do Sul. Me apaixonei por aquela cidade, na qual eu participei de três apresentações. E o prefeito me deu o título de cidadão Bageense, porque as pessoas queriam que eu fosse gaúcho.

A outra cidade é Criciúma, em Santa Catarina, da qual eu também recebi o título: Cidadão Criciumense. Eu estive em um evento beneficente lá, com um jantar. E fiz um concerto também.

O que você diria para quem quer se iniciar na Música?

Eu diria para estudar, buscar as técnicas para tudo, decorar essas técnicas, porque isso é fundamental. Se for estudar na Escola de Música, fazer o bacharelado, tem que estudar muito.

E, para se apresentar, tem que ensaiar muito. Como eu fiz com as cinco óperas de que participei. Tanto para o canto, quanto para o instrumental, o estudo é muito importante!

Por que você escolheu canções italianas para sua apresentação?

Porque eu sou descendente de italianos, minha mãe é cidadã italiana, assim como minhas tias e tio. Meu nome é italiano também. Eu gosto muito da língua italiana.

E o que diria para os que vão assistir a sua apresentação aqui no projeto Um Novo Olhar?

Quero que todos vocês me assistam nesse novo projeto, para ouvirem as lindas músicas italianas que canto.

Saulo Laucas é Bacharel em Canto pela Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro e formado pelo Curso Intermediário de Canto Lírico, também pela UFRJ.