“Acho que na mostra do Bossa Criativa posso mostrar um pouco mais do que é a Rocinha, trazendo ao público uma realidade mais favorável do que vemos na mídia”, diz Valéria Correia, que atua há 25 anos na Escola de Música da Rocinha. Em seu projeto, ela propõe um novo formato de aula, virtual eou em vídeo. A ideia consiste numa contribuição para o trabalho com crianças, que nem sempre têm a oportunidade de ter em mãos aparelho celular, tablet e/ou computador nos horários determinados pelas instituições e pelos professores e regentes de corais. “Procurei, assim, desenvolver um formato que pode ser usado para qualquer aula, beneficiando ambas as partes, professor/aluno, no que diz respeito aos conteúdos programáticos que precisam ser adaptados aos alunos, para a formação da disciplina”, explica.
Nos vídeos que serão disponibilizados na mostra, Valéria adapta o conteúdo de suas aulas presenciais, cujo tempo médio é de uma hora, para uma versão online com duração entre cinco e dez minutos, mantendo atuação como nos moldes tradicionais, de forma natural, com acertos e erros. “Ninguém acerta tudo, trabalhamos com temperamentos humanos e vocais. Fiz questão de deixar do jeito que realmente é, como acontece. Em sala de aula, não existe a perfeição, existe a troca”, afirma. A aprendizagem vem a partir das respostas no dia a dia. “Nesse momento, quando eu ‘entro’ na casa do aluno, é necessário usar uma linguagem que seja precisa, mas também de proximidade, de aconchego, de afago. É preciso tornar a videoaula tão ou quase tão interessante para os alunos quanto o que se apresenta nas mídias de internet”, defende.
A regente fala da importância do projeto nesse tempo de isolamento: “A iniciativa do projeto Bossa Criativa está sendo de grande valia para nós, alunos. Nesse momento de pandemia, enquanto não podemos nos apresentar presencialmente, dar aulas virtualmente se tornou um grande desafio. Em uma adaptação do que fazemos de forma presencial, produzimos pequenos vídeos, através dos quais trazemos a realidade desse trabalho que é desconhecido do público”.
No primeiro vídeo da série, Valéria fala do desafio de manter as aulas diante desta nova realidade e sobre a escolha do repertório na Escola de Música da Rocinha. “Tentei manter nos vídeos a mesma dinâmica das aulas presenciais relembrando o que já foi feito e mudando o que for preciso. É necessário que quem orienta e conduz veja como imprescindíveis o estudo musical e do texto e busque direcionar o olhar ao aluno para identificar dificuldades ou necessidade de ajustes. Trabalhamos com crianças, adolescentes e jovens que estão em fase de mudanças e trabalhamos com a voz no seu todo. Por isso, fazer o aluno sentir-se bem é papel do condutor e este poderá trocá-lo de posição (no coral), por exemplo, tendo sempre a certeza de que ele está em um lugar confortável”.
É ela quem, na maioria das vezes, escolhe o repertório. “Sempre que preciso, mudo tons e as vozes, que podem ser oitavadas, levando em conta a extensão vocal dos alunos. Por exemplo: a 1ª voz troca com a 3ª, os meninos fazem a 2ª voz e as meninas que estão em mudança hormonal fazem os graves. Porém, todos aprendem a melodia principal e estudam a voz mais difícil daquela partitura e, assim, todos estarão sempre prontos para essas mudanças caso seja necessário”, explica a regente.
Valéria reforça que as melodias e harmonias são tão importantes quanto o texto. “Eu os faço parecer mais fáceis para a criança em processo de alfabetização, para pessoas com dificuldades de leitura ou entendimento e para aqueles que só prestam atenção no som que ouvem do outro”, conta. “Nos textos cantados, tento fazer sempre à condução como uma história sendo contada, com gestos quando preciso e o texto metricamente falado. A partir daí, uma parte da música já está resolvida”, revela.
Valéria Correia é formada em Letras pela Fundação Técnico-Educacional Souza Marques; em Teologia, pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, e tem Licenciatura em Música pela UFRJ. Iniciou os estudos com o Maestro Ueslei Banus e, atualmente, estuda Regência com o professor Carlos Alberto Figueiredo. Com a Oficina Coral do Rio de Janeiro, destaca sua participação no Concerto de Abertura do IX Curso Internacional de Regência com os coros infantil e juvenil da Escola de Música da Rocinha, sob a direção de Tony Guzman. Além de preparadora vocal dos Coros da Escola de Música da Rocinha atua como Professora de Canto e preparadora vocal da British School. Valéria também dirigiu os corais infantojuvenil e de adultos da Escola Alemã Corcovado e assina a direção musical do CD PAZ, dos Coros da Escola de Música da Rocinha.