Compositor, pianista, arranjador, ator e autor teatral, Tim Rescala costuma combinar sua versatilidade com doses generosas de técnica e de (bom) humor. Graduado pela Unirio, ele também estudou na Escola de Música da UFRJ e na Escola de Música Villa-Lobos. Autor de trilhas sonoras e de espetáculos premiados, ele é o responsável pela Oficina online de Óperas e Musicais, que já está acontecendo aqui no Bossa Criativa – Arte de Toda Gente. Nesta matéria, você vai conhecer sua trajetória e conhecer sua opinião sobre a importância da música, na vida dele e na de todos nós.
**Filho de peixes**
Com pais músicos, a formação musical de Tim Rescala começou cedo, aos sete anos, mas sem nenhuma pressão da família. Seu pai o levava para assistir às óperas, ele gostava de conhecer os bastidores e fazia questão de apertar a mão do maestro. Assim, o interesse pela música era mais do que natural, paixão que ele só dividia com o futebol. Como a maioria dos meninos de sua idade, sonhava em ser jogador e o uniforme do Vasco da Gama o acompanhava nas aulas de piano. “Um dia, eu perguntei para o meu pai o que é que dava mais dinheiro, se era ser jogador de futebol ou ser maestro”, relembra Tim. “Ele mentiu e me disse que era ser maestro e aí… Mas eu sempre tive um foco muito grande no que queria. E segui na música”, diz.
Aos 15 anos, ele já tinha certeza da carreira escolhida e fez a prova da Ordem dos Músicos, para obter seu registro profissional. Daí em diante, foi descobrindo habilidades e acumulando funções, como escrever textos, sempre a partir de um estímulo musical. Depois foi fazer música para teatro e, como ele diz, acabou se tornando um “ator acidental”.
Uma peça em que era músico e diretor musical foi sua porta de entrada para a atuação. “Estava faltando um personagem que tinha que morrer lá no meio da peça, e ressuscitar no final, e o diretor me colocou para fazer isso”, conta Tim. “Era uma coisa engraçada, gostaram e começaram a me identificar como ‘o pianista que fazia uma gracinha’. E, depois de fazer esse tipo de coisa no teatro, começaram a me chamar, inicialmente para fazer comerciais de televisão”.
**Entrando para a Escolinha**
Anos depois, ele recebeu um convite de seu ídolo de infância, a quem, quando ainda nem sabia falar direito, chamava de “Chico Anismo”. Ganhou dele o personagem Capilé Sorriso, que inicialmente fazia participações no Chico Anysio Show. Paralelamente, Tim ainda fazia música e escrevia para o programa. Tempos depois, Chico o convidou para que, com o personagem “presente e sorridente”, entrasse para sua Escolinha do Professor Raimundo
Na TV, fez também a trilha sonora de diversas novelas, com destaque para Meu Pedacinho do Céu, que considera muito peculiar e muito diferente de todas as outras, pois pôde trabalhar exclusivamente com música sinfônica. Velho Chico foi outra novela cuja trilha teve grande repercussão. “Aí a coisa se ampliou, porque tinha todo o universo da música nordestina, não só sinfônica, como também de câmera e a coisa mais voltada para música popular”, relembra Tim.
Hoje, além das óperas, musicais, trilhas e funções como compositor, libretista e pianista, entre outras, Tim Rescala ainda comanda – já há nove anos – o programa Blim, Blem, Blom, voltado para crianças na Rádio MEC (99,3 MHz). A partir deste mês, a atração passará a ter uma edição mensal ao vivo.
**O bem que a música faz**
Tim destaca a importância da música e da arte na educação infantil. “A arte é fundamental para a educação. Há essa tendência de se valorizar mais as ciências exatas, e muito menos as ciências humanas. E menos ainda a arte, as várias manifestações da arte”, opina. “Eu acho que a música, muito antes de se pensar em qualquer possibilidade de profissionalização, tem que fazer parte da educação como um todo. Ela humaniza, desenvolve a criatividade, desperta e faz bem, né? E não falo só da música em função de alguma coisa. Não é porque a música ajuda na Matemática, ou em outras coisas, em que de fato ajuda. Ela tem de fazer parte da educação porque é boa para a humanização, para a comunicação. Deveria ser considerada como uma matéria fundamental”, defende.
Sobre seus vídeos no Projeto Bossa Criativa, Tim espera que gerem interação. “Para mim, o interessante é a troca com esses alunos virtuais. Se houver o intercâmbio, se eu puder continuar, enfim, se esses alunos de alguma forma procurarem interagir, vai ser melhor ainda. Embora não seja possível aprofundar demais, é possível lançar elementos que despertem o interesse desses alunos pelo tema, que é bastante vasto. Existem várias possibilidades de você fazer música com dramaturgia e para isso se desenvolver”.
Tim diz que, em sua vida, muitas coisas foram acontecendo de modo quase acidental. “Quando comecei a fazer música para teatro, me vi em situações e diante de desafios. Fui levado a fazer coisas que nunca tinha feito antes como músico”, revela. Uma dessas coisas foi ter de lidar com a improvisação. “Os atores falavam: ‘canta uma música aí enquanto eu vou trocar de roupa’. Eu respondia que não era cantor, mas ouvia um ‘se vira aí’ como resposta. E então eu me virava. Quando perguntava o que deveria cantar, ouvia ‘ah, faz aí uma letra’. Eu nunca tinha feito letra, mas me virava. E isso foi me levando a abrir caminhos e conhecer outro universo. Então, eu acho que a gente tem que ter essa abertura em arte, que é aceitar os riscos e os desafios. Acho que arte sem risco é uma coisa confortável demais, que particularmente não me interessa. A gente tem que se arriscar”, aconselha.