Na série Casa do Choro, o cavaquinista, arranjador e compositor Jayme Vignoli é um nome quase onipresente: integrante do grupo Água de Moringa, que está em um dos minishows, ele é um dos professores da oficina virtual Princípios do Choro e também está em um dos vídeos do módulo Furiosa Portátil. Confira a seguir uma entrevista com o músico.
Como foi o início da sua carreira na música e como surgiu o interesse pelo Cavaquinho?
Venho de uma família em que a música sempre teve forte presença no dia a dia. Na infância, por iniciativa de meus pais, tive aulas de piano, não só visando o estudo do instrumento, mas também as atividades de musicalização.
Depois de um tempo, já sem estar fazendo as aulas de piano, lá pelo final da década de 1970, início da de 1980, um festival de choro da TV Bandeirantes me despertou enorme interesse por essa música e pelo cavaquinho. Fui então ter aulas do instrumento, desta vez por iniciativa própria.
Em 1984, aos 17 anos, comecei a trabalhar como músico, atuando em shows diversos, em sindicatos, associações, clubes, casas particulares, universidades, escolas… E também no circuito da noite carioca. Daí em diante, fui adquirindo experiência em diversos grupos de música popular.
O que lhe inspira a compor?
O ato de compor, para mim, é uma busca constante a novas possibilidades e, muito importante, todas as minhas composições são na realidade, estudos. Obviamente que fatores externos diversos sempre haverão de influenciar de alguma forma o processo criativo.
O Água de Moringa tem mais de três décadas, qual o segredo para manter o grupo unido e em atividade por tanto tempo?
São de fato muitos anos de atividade! Acredito que a relação entre os integrantes do grupo sempre se pautou espontaneamente pelo respeito mútuo e, principalmente, pelo interesse comum a todos em explorar a sonoridade do conjunto ao máximo, aspectos esses que sempre vêm perdurando. A convivência por tanto tempo também só fez estreitar solidamente os laços de amizade entre os integrantes e vejo, sinceramente, que no nosso convívio, conseguimos equilibrar bem o lado profissional com o afetivo, um reforçando o outro.
O grupo Água de Moringa é conhecido por sua versatilidade, fale um pouco desse diferencial.
Começamos na Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) a partir da disciplina Música de Câmara e, devido à formação característica, a opção pelo repertório de choro foi mais que natural. Entretanto, desde o início a busca por novas sonoridades nos levou a experimentar no repertório, peças que não necessariamente estivessem ligadas ao universo do choro tradicional, nossa principal escola. Dessa forma, passamos a transitar junto a outros “segmentos” como o da música de câmara tradicional, música de concerto e música contemporânea.
Você é professor da Escola Portátil, cujas aulas nesse período também estão sendo virtuais. Como vê projeto Série Casa do Choro, com a oficina Princípios do Choro sendo oferecida abertamente ao público?
Antes de mais nada, gosto sempre de ressaltar que o ingresso no corpo docente da EPM em 2003 constitui importantíssimo divisor de águas em minha carreira, quando muito da minha relação com a música mudou para melhor.
Vejo com muito entusiasmo a Série Casa do Choro e a oficina Princípios do Choro. A pandemia trouxe à sociedade desafios pesados e dolorosos e uma saída muito importante têm sido as atividades online, que configuram na verdade uma alternativa de caráter inarredável. Tenho observado uma resposta muito positiva, empolgante e inspiradora, por um sem-número de pessoas, o que nos traz grande satisfação e também muita responsabilidade.
Você também está presente no módulo Furiosa Portátil da série. Fale um pouco desse módulo e como surgiu o nome “Furiosa Portátil”.
Começando pelo nome do grupo: tradicionalmente as bandas de música (das menores às maiores) das cidades do interior têm esse apelido de “Furiosa”. Não sei exatamente o motivo, talvez seja pelo alto potencial sonoro.
Durante algum tempo, tivemos na EPM dois grupos de prática de conjunto em caráter mais avançado, reunindo alunos e professores, que sendo vinculados à nossa instituição, recebiam como “sobrenome” o termo “portátil”. Eram a Camerata Portátil e a Furiosa Portátil. Ambos os grupos constituíram importantes e proveitosos laboratórios de prática de conjunto no campo da performance, composição, arranjo e formação de plateia. Ter a Furiosa Portátil dentro da Série Casa do Choro, fazendo seus sons chegarem a uma infinidade de lugares, atingindo tantos ouvintes é motivo de imensa alegria para toda a equipe da Casa do Choro e da Escola Portátil de Música.
Jayme Vignoli é cavaquinista, arranjador, compositor, é bacharel em Composição pela Unirio. É integrante do conjunto Água de Moringa, com o qual gravou três CDs (o segundo ganhou o Prêmio Sharp de melhor conjunto em 1994). Já se apresentou e gravou com diversos artistas de renome, dentre os quais Paulinho da Viola, Raphael Rabello entre outros. Na Escola Portátil, dá aulas de cavaquinho e foi um dos professores responsáveis pela Camerata Portátil.
Sobre o minishow do Água de Moringa:
Em junho de 2016 o Água de Moringa apresentou-se no palco “físico” da Casa do Choro, mostrando ao público o repertório que estava sendo preparado para aquele que seria seu sétimo CD, em comemoração ao aniversário 30 anos do grupo. Esse show foi dividido em duas partes, que estão sendo veiculadas dentro da Série Casa do Choro, uma ação do projeto Bossa Criativa.
A primeira parte, conta com três composições do cavaquinista Jayme Vignoli. Soprado e Batucado, ambas gravadas no CD Água de Moringa 30, e o lundu Xisto, Bahiano e companhia, ainda inédito em gravações comerciais e que foi estreado justamente naquela ocasião.
Para a segunda parte, que também já está disponível aqui no site e no canal Arte de Toda Gente no Youtube, foram selecionadas duas composições escritas especialmente para o grupo: o choro lento Saudades do Rio Vouga, de Paulo Aragão, e o choro Água corrente, de autoria de Pedro Paes. Complementa o repertório um clássico do choro, Migalhas de amor, de Jacob do Bandolim, em arranjo escrito por Marcílio Lopes.
O Água de Moringa é formado por Rui Alvim (clarinete, clarone, sax soprano e sax alto), Marcílio Lopes (bandolim, violão tenor e bandocello), Jayme Vignoli (cavaquinho). Luiz Flavio Alcofra (violão e viola caipira), Josimar Gomes Carneiro (violão de sete cordas) e André Santos “Boxexa” (percussão e bateria). Ao longo de sua trajetória, o conjunto acompanhou uma infinidade de nomes da música brasileira, como Rildo Hora, Joel Nascimento, Paulo Moura, Altamiro Carrilho, Wilson Moreira, Beth Carvalho, Dona Ivone Lara, Délcio Carvalho e Walter Alfaiate, entre muitos outros.
Confira os shows e oficinas da Série Casa do Choro aqui no site do Projeto Bossa Criativa e no canal Arte de Toda Gente no Youtube.