O programa Acessibilifolia abriu inscrições para que realizadores das diferentes festas e manifestações da cultura popular inscrevessm vídeos e compartilhem seus conteúdos artísticos e culturais com o público com deficiência. Uma vez selecionados, os vídeos serão acessibilizados, pela equipe do Um Novo Olhar, com legendagem para surdos e ensurdecidos, interpretação em Libras e audiodescrição, sendo depois postados no site e nas redes sociais do Um Novo Olhar e no canal Arte de Toda Gente, no Youtube. Nesta entrevista, Patricia Dorneles, coordenadora das ações de acessibilidade do Um Novo Olhar nos fala um pouco de seu trabalho e sobre essa nova chamada do projeto.
**Quando você começou a trabalhar com acessibilidade? **
Comecei a trabalhar com a temática da acessibilidade cultural direcionada a pessoas com deficiência quando estava no Ministério da Cultura, como assessora da Secretaria de Identidade e Diversidade. Naquele época, fui responsável pela coordenação executiva da Oficina Nacional de Políticas Públicas Culturais para inclusão de pessoas com deficiência, Nada sobre Nós sem Nós, realizada em outubro de 2008. Desde então, o tema tem estado presente entre as atividades a que me dedico no campo das políticas culturais, no qual atuo há 30 anos.
Quando assumi o meu cargo como docente na UFRJ, no Curso de Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina, idealizei o Curso de Especialização em Acessibilidade Cultural que de 2013 a 2019, contou com o apoio do Ministério da Cultura. O curso já teve três edições e também realizamos, desde 2013, o Encontro Nacional de Acessibilidade Cultural – ENAC. Em 2020, ele chegou a sua oitava edição com o apoio do projeto Um Novo Olhar – parceria da Escola de Música da UFRJ e FUNARTE, e FAPERJ.
**Como você vê a importância do Projeto Acessibilifolia, voltado para as festas e manifestações populares?**
Entendo o Acessibilifolia como uma convocação. Embora tenhamos avançado em termos de obrigatoriedade da acessibilidade nos diferentes produtos culturais nos últimos anos, devido a legislação e às conquistas do movimento das pessoas com deficiência, até hoje grande parte dos produtores culturais e de outros atores do campo da cultura, por não terem muitas vezes contato com pessoas com deficiência eou não saberem nada sobre esta população e seu direito cultural, acabam não se preocupando e não implementando a legislação.
Assim, acredito que a chamada do Acessibilifolia pode provocar as pessoas que nunca prestaram atenção nisso a se sensibilizarem e se envolverem. É importante que os diferentes trabalhadores da área da Cultura atuem também em prol da cidadania cultural das pessoas com deficiência. O edital é uma porta para que as iniciativas culturais que nunca tiveram a oportunidade de acessibilizar seus conteúdos culturais possam fazê-lo, possibilitando que pessoas com deficiência possam acessar, curtir e brincar na festa, bem como participar ativamente de sua organização.
**Você considera que os produtos culturais acessibilizados podem estimular novos talentos artísticos e o trabalho de mediadores culturais**
Sim. Quanto mais acesso à arte e à cultura mais auxiliamos na construção de formação de público e plateia dessa população. Não podemos nos esquecer do grande índice da população com deficiência no Brasil que não tem o ensino fundamental completo. Assim, uma parcela considerável dessas pessoas vive em uma fragilidade muito grande de acesso aos produtos culturais. A ampliação do acesso implica em maior presença das pessoas com deficiência como público de diferentes outras iniciativas culturais, estimula o desenvolvimento de novos talentos, bem como abre a possibilidade de despertar interesse em se tornar um mediador cultural.
**Poderia destacar exemplos de projetos culturais que já desenvolvem trabalhos importantes de acessibilidade?**
Surdodum-DF, Batuqueiros do silêncio – PE, Orquestra Voadora – RJ, entre tantos outros.
**Patrícia Dorneles** é pós-graduada em Terapia Ocupacional pela Federação das Faculdades Metodistas do Sul Instituto Porto Alegre (1995). Mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC (2001) na linha de pesquisa Educação Popular e movimentos sociais e doutora em Geografia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2011) na linha ambiente, ensino e território. É pós-doutora em Terapia Ocupacional pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. Ela atua há 20 anos no campo das políticas públicas culturais. Trabalhou no Ministério da Cultura entre os anos de 2005 e 2009, implementando o Programa Cultura Viva na Região Sul e as ações de Cultura e Saúde deste órgão. Atualmente, é professora-adjunta do Curso de Terapia Ocupacional da UFRJ. Foi coordenadora substituta de extensão da Faculdade de Medicina – UFRJ, de outubro de 2010 a agosto de 2012. É coordenadora do I Curso de Pós-Graduação em Acessibilidade Cultural para pessoas com deficiência com o apoio do Ministério da Cultura. Foi superintendente de Difusão Cultural do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ de 2015 a 2019 e é coordenadora do Grupo de Pesquisa Terapia Ocupacional e Cultura – CNPQ.