Leonardo Miranda (foto) é um dos professores da Oficina Princípios do Choro, na qual apresenta a aula 2 do módulo Personagens do Choro, sobre Chiquinha Gonzaga. A série conta com 24 videoaulas, divididas em dois módulos: Gêneros do choro e Personagens do choro, e trata das últimas décadas do século XIX e o início do XX. Nesta entrevista, ele nos fala sobre sua carreira e de como o choro entrou em sua vida.

Quando decidiu que sua carreira seria na música?
Não venho de uma família de músicos, sou rodeado de médicos: meu pai, minha irmã e minha mulher, mas sempre escutei muita música, desde cedo, e isso veio do meu pai. Lá pelos 22, 23 anos, percebi que a música não ia nunca ser um hobby, um passatempo qualquer, mas estaria no centro da minha vida, sempre.

Você começou no piano e depois mudou para a flauta, não foi?
A troca de instrumento se deu quando eu descobri o choro, aos 18 anos. Eu já tinha interrompido o estudo de piano, por conta da faculdade (de medicina). Com 18, comprei por acaso um disco de flauta no choro, e um mês depois já tinha comprado uma flauta e achado um professor. Desde então, não parei mais!

Como surgiu seu interesse pelo choro do final do século passado e pela obra de Chiquinha Gonzaga?
Isso é uma longa história… Começou, mesmo, no dia em que ouvi pela primeira vez o Altamiro Carrilho tocar o Flor Amorosa, do Joaquim Callado (ilustração ao lado). Fui pesquisar e vi que ninguém conhecia mais nada do tal Callado, só A Flor Amorosa, que o Altamiro apresentava como “o primeiro chorinho”. Fui pesquisando partituras e aprendendo as músicas. Um dia toquei algumas numa roda de choro com o Maurício Carrilho, e ele foi também fisgado pelo Callado. Pouco depois fizemos um disco com esse repertório, e de lá pra cá choro antigo virou minha especialidade.

A Chiquinha era contemporânea do Callado, são da primeiríssima geração do choro. Eu a admiro principalmente pela capacidade que tinha de compor por “atacado”, deixando essa obra extensa com várias obras-primas (ao lado uma partitura de Chiquinha Gonzaga).

Nesses dias tão sombrios, você acha que a música tem poder de cura?
Sim, com certeza! Nesse período de confinamento, de afastamento das pessoas queridas e de nossas atividades mais prazerosas, a música é um contrapeso à ansiedade por dias melhores, que parecem ainda muito distantes.

Leonardo Miranda é Flautista, desenvolve trabalho voltado para o “clássico” do choro, selecionando peças desde o repertório dos chorões antigos, muitas das quais injustamente relegadas ao esquecimento, até os dias atuais, com ênfase nos grandes compositores flautistas, como Joaquim Callado, Mathieu-André Reichert, Viriato Figueira da Silva, Patápio Silva, Felisberto Marques, Pixinguinha, Raul Silva, Benedito Lacerda e Altamiro Carrilho.
Exerce paralelamente à carreira de instrumentista, intensa atividade de pesquisa sobre o repertório do choro, principalmente levantando o repertório do século XIX e do início do século XX, quando da fixação da sua linguagem.
Lançou pela Acari Records, o CD Leonardo Miranda toca Joaquim Callado é dedicado à obra desse que foi o primeiro flautista popular brasileiro, falecido em 1880. O disco é fruto de sua minuciosa pesquisa, com a compilação de aproximadamente 70 peças, entre polcas, quadrilhas e valsas.

Chiquinha Gonzaga
Nascida Francisca Edwiges Neves Gonzaga Chiquinha Gonzaga (1847-1935, ao lado) era uma compositora e maestrina carioca. Ela se destaca na história da cultura brasileira e, também, na da luta pelas liberdades no país, pelo seu pioneirismo. A coragem com que enfrentou a opressora sociedade patriarcal e abraçou uma profissão até então inédita para mulheres, causou escândalo em seu tempo. Atuando no rico ambiente musical do Rio de Janeiro do Segundo Reinado, no qual imperavam polcas, tangos e valsas, Chiquinha não hesitou em incorporar ao seu piano toda a diversidade que encontrou, sem preconceitos. Assim, terminou por produzir uma obra fundamental para a formação da música brasileira. (Fonte: https://chiquinhagonzaga.com/wp/biografia/)

Fotos de divulgação e internet
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