Médicos, enfermeiros, plantonistas, recepcionistas, equipe administrativa e todo o pessoal de apoio formam a incansável linha de frente da sociedade na luta contra a covid-19. Como forma de reconhecimento e agradecimento por seu empenho, o projeto Um Novo Olhar a Funarte apresentou, em outubro de 2020, o vídeo *Cure o Mundo*. Nele, as equipes de saúde de vários hospitais da UFRJ no Rio somam suas vozes formando um grande coro virtual e, em feitio de canção, enviam uma mensagem de otimismo para todos – e, em especial, para os familiares dos doentes da epidemia. Uma mensagem que, neste início de 2021, é mais atual do que nunca.
No ano atípico que terminou, marcado pela pandemia que atingiu o mundo inteiro, a cultura se fez ainda mais necessária, trazendo um alento para os dias difíceis. Em 2021, seguimos reforçando a importância das artes, com inclusão e acessibilidade.
A canção *Cure o Mundo* é uma versão para o clássico *Heal the World*, de Michael Jackson dos anos 1990. Em abril de 2020, quando a pandemia começava a mostrar sua força, a canção ganhou no canal do artista no Youtube um novo videoclipe, no qual imagens do cantor e compositor foram combinadas com as de profissionais de saúde e outras que remetem ao mundo sob o covid 19.
O clipe inspirou Elaine de Barros, diretora Administrativa do Instituto de Neurologia Deolindo Couto – INDC, da UFRJ. Ela, que se recuperava da covid-19, e trabalhava de casa, pensou no que poderia fazer para ajudar a amenizar o sofrimento de todos e incentivar, ainda mais, seus colegas da saúde. Confira, a seguir, entrevistas com Elaine, com a enfermeira Luciana Alleluia e com a médica e professora Simone Aranha Nouer, também participantes do *Cure o Mundo*.
**Entrevista com Elaine Barros**
**Como surgiu a ideia do vídeo?**
A ideia da ação surgiu quando eu me recuperava da Covid-19, trabalhando de casa, e pensei no que poderia fazer para ajudar a amenizar o sofrimento de todos e incentivar, ainda mais, meus colegas da saúde. Pensei na possibilidade de unir minha grande paixão pela música às atividades junto aos hospitais e, então, me ocorreu montar uma ação musical de amor e esperança com a participação dos profissionais da linha de frente no combate à Covid-19. Tanto os da área administrativa, quanto os da área assistencial, para passar uma mensagem que pudesse tocar o coração das pessoas.
**Qual foi a reação dos profissionais de saúde envolvidos?**
Ficaram extremamente emocionados, com um sentimento de pertencimento e gratidão pelo reconhecimento. E também lisonjeados pela oportunidade de participar de uma linda homenagem, não somente aos profissionais da saúde, mas a toda população.
**Como a música e a arte podem ajudar nesse período de isolamento?**
Acredito que a música sirva como uma companheira para o enfrentamento de todas as dificuldades que nos foram impostas. Além disso, ela contribui para a nossa saúde mental, ajudando a combater a monotonia.
Quando estamos felizes, buscamos a música para comemorar, e quando estamos tristes, ela nos conforta. Desta forma, acredito que também possa nos tranquilizar, confortar e ajudar a superar esse momento tão difícil e atípico em nossas vidas.
**E como foi, para você, participar do vídeo *Cure o Mundo* junto com outros colegas?**
Para mim foi uma experiência única! Após um problema de saúde que me tirou do “mundo da música”, há alguns anos, esse foi meu primeiro reencontro. Superei meus medos! E associar tudo isso a uma ação com o propósito de reconhecimento e agradecimento foi algo realmente muito especial e indescritível.
**O que considera mais importante nesse momento em que estamos na pandemia?**
Do ponto de vista de uma profissional da saúde, o mais importante é nos conscientizarmos de que a pandemia deve ser levada a sério e que se faz necessário seguir todas as orientações dos especialistas e das autoridades em saúde, pois só assim conseguiremos minimizar os impactos do vírus.
Do ponto de vista pessoal, constatamos que neste momento da pandemia deixamos de fazer muitas atividades que antes eram habituais e isso nos deu a sensação de estarmos perdidos; mas também nos deu a oportunidade de nos reinventarmos e percebermos que é possível fazer diferente, analisando o que realmente importa. Nesse sentido, para mim o mais importante é cuidar da nossa saúde, fortalecer os laços familiares, manter contato com os amigos, buscar algum conforto espiritual e desenvolver alguma atividade para manter corpo e mente saudáveis.
**Elaine Barros** é diretora administrativa do Instituto de Neurologia Deolindo Couto (UFRJ)
**Entrevista com Luciana Alleluia**
**Como a música e as artes em geral podem auxiliar nesse período de isolamento?**
Elas ajudam a expressar nossas emoções e anseios. Dessa forma, suavizam os efeitos do isolamento da quarentena trazidos pela pandemia. Passar por esse momento de isolamento imprimiu em mim diversos sentimentos: havia medo, tristeza, raiva, cansaço, ansiedade e muitas vezes insônia. Para enfrentar essas dificuldades precisei de um reencontro e reconexão com as coisas que me faziam bem, tais como: plantar, fazer artesanato e cantar.
No canto, pude muitas vezes expressar o que sentia, pois a música pode ser terapêutica, uma vez que acessa sentimentos inconscientes e conscientes. Sempre tive essa relação com a musicalidade, seja em casa ou no trabalho. Então, nos plantões, comecei a utilizá-la com as pessoas que estavam internadas. Nos dias de folga, eu cantava no karaokê do notebook e, aos poucos, isso foi me ajudando a ficar mais tranquila e não paralisar diante de tanta turbulência. Mantive meus atendimentos com a minha fonoaudióloga que, em muitos momentos, é minha terapeuta virtual.
**Como foi participar do vídeo *Cure o Mundo* junto com outros profissionais de saúde?**
Ah, que alegria! Participar desse vídeo, foi transformador! Eu gravei diversas vezes, minha família me escutava e ajudava bastante. Tivemos momentos de riso frouxo, quando eu errava a letra da música. E fui me dando conta de que participar do vídeo *Cure o Mundo* estava também me curando das angústias e temores. Foi maravilhoso!
**Como profissional de saúde, como você vê a pandemia e o que considera mais importante nesse momento?**
A pandemia veio para nos apresentar algo tão novo e provou que mesmo com todos os saberes não foi possível vencê-la ainda. Mostrou que, mesmo com tantos recursos tecnológicos, faltava algo, e sendo assim, tínhamos que construir um olhar e um cuidado multifacetado. O cientificismo não deu conta de controlá-la e combatê-la tão rapidamente como se pensava. Assim, buscamos outras possibilidades de comunicação e interação entre as pessoas, pois o contato não pôde ser mais a principal fonte de afeto. Tivemos que criar novas possibilidades, sem que o afeto passasse pelo contato físico. Com isso, a música e outras expressões artísticas são cruciais.
Considero que nosso desafio é cuidar e ser cuidado com muito afeto, mas mantendo o distanciamento.
**Luciana Alleluia** é enfermeira do Instituto de Psiquiatria da UFRJ
**Entrevista com Simone Aranha Nouer**
**Como a música e as artes em geral podem auxiliar nesse período de isolamento?**
As artes foram fundamentais para conectar sentimentos e expandir a mente. A música pode, também, acalmar os sentimentos aflitos. Ela é fundamental!
**Como foi participar do vídeo *Cure o Mundo*?**
Apesar de amar música, sempre cantei apenas em rodas de violão. Toco piano e violão, mas somente para consumo pessoal. Foi excelente unir-me a outros colegas nessa situação, uma motivação para cantar publicamente.
**Como profissional de saúde, como você vê a pandemia e o que considera mais importante nesse momento?**
Neste momento, é fundamental seguir as orientações de isolamento etc. A pandemia ainda está fora de controle e a situação é muito grave.
**Simone Aranha Nouer** é médica e professora de Medicina do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho
Participaram do vídeo profissionais dos seguintes hospitais:
HUCFF – Hospital Universitário Clementino Fraga Filho
IG – Instituto de Ginecologia da UFRJ
HESFA – Hospital Escola São Francisco de Assis
ME – Maternidade Escola
Complexo Hospitalar
IDT – Instituto de Doenças do Tórax da UFRJ
INDC – Instituto de Neurologia Deolindo Couto
IPUB – Instituto de Psiquiatria da UFRJ
O vídeo *Cure o Mundo* está disponível aqui no site do Um Novo Olhar e no Canal Arte de Toda Gente no Youtube (https://www.youtube.com/watch?v=jB0rFfC-G8k) . Aproveite para conferir as demais apresentações, lives e oficinas do projeto.