Francisco Gomes da ROCHA

Francisco Gomes da Rocha nasceu em Vila Rica, atual Ouro Preto, em meados do século XVIII. Pouco se sabe sobre sua vida. Muito provavelmente sua formação musical se deu na relação prática entre mestre e discípulo, na tradição das corporações musicais mineiras, onde o aprendiz era imediatamente incorporado ao conjunto que atuava em solenidades oficiais, cerimônias religiosas, festas e outros eventos onde a música se fazia presente. Foi um músico versátil. Além de fagotista e timbaleiro foi também cantor. Como instrumentista, atuou no Regimento de Cavalaria Regular, conhecido por Regimento de Dragões, onde provavelmente foi colega de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Pertenceu a diferentes irmandades de Vila Rica, como a da Boa Morte de Nossa Senhora da Conceição, a de São José dos Homens Pardos e à Ordem dos Mínimos de São Francisco de Paula, nas quais atuou como músico e ocupou cargos administrativos, como tesoureiro e escrivão. Em 1800 assumiu o posto de mestre de capela da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar, em substituição a José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita, quando este se transferiu para o Rio de Janeiro. Francisco Gomes da Rocha faleceu em 9 de fevereiro de 1808.

Poucas partituras do compositor chegaram aos nossos dias. De sua atuação como músico militar sobrou uma *Marcha* para banda. A obra mais conhecida é a *Novena de Nossa Senhora do Pilar* (1789), em homenagem à padroeira de Vila Rica, uma das primeiras partituras recuperadas pelo musicólogo Francisco Curt Lange por ocasião de suas pesquisas em Minas Gerais, no início da década de 1940. Há ainda o *Spiritus Domini* (1795) e o *Invitatorium a 4* para coro e orquestra, que agora integra o Repertório Sinos na edição preparada pelo compositor e musicólogo Harry Crowl a partir de manuscritos do Museu da Música de Mariana.

Na liturgia católica, o *Invitatorium* (Invitatório) é uma introdução à oração diária, um convite dirigido aos fiéis para participarem do Ofício Divino, como fica claro no texto do Salmo 95: “Venite adoremus Regem regum” (venham, adoremos o Rei dos reis). A obra, destinada à festa da Assunção de Maria, é dividida em duas partes. Segundo Harry Crowl, em texto publicado pelo Núcleo de Música do Instituto de Artes e Cultura da Universidade Federal de Ouro Preto, “o *Invitatório a 4* é um exemplo típico do tratamento homofônico sobre uma base instrumental bem elaborada”. A orquestra é composta por um par de trompas, violinos I e II, e baixo. Tal configuração das cordas não implicava necessariamente que as violas não fossem utilizadas. Muito provavelmente o instrumento dobrava a parte do baixo, como era a prática da época. Na versão para o Repertório Sinos foi elaborada uma parte de viola, ausente no conjunto de manuscritos.