Amor à primeira audição

Um dos instrutores participantes das Caravanas Sinos, Maestro e violinista, Emmanuele Baldini nos fala nesta entrevista sobre sua trajetória e, também de sua relação com a música brasileira e com o trabalho com jovens. A Caravana Sinos oferece cursos presenciais para capacitação de professores, monitores, alunos, instrumentistas e regentes de orquestras de projetos sociais. A primeira parada estava marcada para acontecer em Recanto Maestro (RS), em fevereiro, mas foi adiada por causa do aumento de casos de covid na região. A nova data será divulgada em breve As inscrições para participação podem ser feitas em https://caravana.sinos.art.br.

**Por que você escolheu o violino? Uma vez que seus pais eram grandes pianistas, chegou a começar por esse instrumento?**

Sim, improvisava por horas sentado ao piano da sala no apartamento dos meus pais, mas um dia, assistindo a um concerto transmitido pela televisão, conheci o violino, e foi amor “à primeira audição!”

**Como surgiu o interesse pelo repertório brasileiro, muito além das obras mais conhecidas?**

Cheguei ao Brasil em 2005, e logo percebi a imensa riqueza da música desse país, e não somente no campo popular, que era o repertorio mais conhecido no exterior. Assim, comecei uma pesquisa pessoal que dura até hoje. Fico muito feliz que, graças aos contatos e as amizades que criei, consegui também realizar muitas gravações, deixando um registro concreto dessa parte tão importante do meu trabalho na música.

**Em algumas orquestras você foi spalla, o primeiro violinista, fale um pouco sobre essa função.**

O spalla é, de fato, o líder artístico de uma orquestra. Seja na hora da apresentação, seja durante os ensaios, e também em todos os outros momentos, já que automaticamente ele é reconhecido como o porta-voz artístico do grupo. Isso gera muita responsabilidade e diversas tensões, como é óbvio, Porém me dá um orgulho enorme colocar todos os meus esforços e minha energia ao serviço de uma instituição tão prestigiosa como a Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo).

**Entre atuar como violinista e regente, o que você prefere?**

Meu primeiro amor foi o violino, mas nunca o considerei mais do que ele de fato é: um instrumento para fazer música. Em seguida, com toda a experiência acumulada fazendo música em conjunto (quarteto, trio, orquestra etc.) o passo para a regência foi muito natural, e posso afirmar que hoje as duas funções se enriquecem reciprocamente. Fazem parte de uma ideia muito clara em minha cabeça sobre a figura do artista como um ser com ampla visão, horizontes infinitos, sem se fechar em seu ego, mas se abrindo para o mundo e para as pessoas.

**Até pouco tempo, você se dividia entre essas duas funções, atuando na Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo e trabalhando como diretor musical da Orquestra de Câmara de Valdivia, no Chile, não é?**

Deixei a direção artística no Chile por minha escolha no ano passado, mas a partir desse ano, assumi o cargo de regente titular na Orquestra Sinfônica do Conservatório de Tatuí. A convivência da Osesp e do trabalho com os jovens em Tatuí será cansativa, mas tenho certeza de que valerá a pena. Adoro trabalhar com os jovens.

![Emmanuele Baldini © Fernando Ruz (12).jpg](https://admin.sinos.art.br/uploads/Emmanuele_Baldini_Fernando_Ruz_12_ef8346dc9a.jpg)

**Ao longo de sua carreira você fez inúmeras apresentações ao redor do mundo. Você nota diferenças de retorno do público, de sua interação, que poderia destacar em relação à música clássica?**

O ser humano precisa da arte. Sem ela não vive, apenas sobrevive. A pandemia só mostrou como essa afirmação é verdadeira, pois todos ouvimos mais músicas, assistimos mais filmes, procuramos beleza em nossa volta. O instinto para as manifestações artísticas aparece nos primeiros meses de vida de qualquer criança, através do impulso para o canto, para o desenho, para a dança… as vezes esquecemos disso! Para mim, não há diferenças entre os povos, apenas há um histórico distinto, mas a necessidade da música bem como das outras formas artísticas é parte do ser humano.

**O que espera da Caravana Sinos, saindo dos grandes centros e levando a música a lugares como Recanto Maestro?** 

Essa missão vai na mesma direção do trabalho que eu faço desde que cheguei ao Brasil. A busca pela descentralização sempre foi constante em minha atividade, e me levou a viajar pelos quatro cantos do Brasil. Por isso fico especialmente feliz em participar desse projeto!

**Emmanuele Baldini** nasceu em Trieste (Itália) cercado pela música: seu pai, Lorenzo Baldini, foi um importante pianista e didata italiano; e sua mãe, Eletta Baldini, foi professora de teoria e solfejo no conservatório da sua cidade, além de ser uma grande pianista também.

Depois dos estudos em Trieste, com Bruno Polli, Baldini se aperfeiçoou em Genebra com Corrado Romano, em Salisburgo e Berlim com Ruggiero Ricci, e mais recentemente na regência com Isaac Karabtchevsky e Frank Shipway.

Desde sua adolescência ganhou inúmeros concursos internacionais, entre os quais se destacam o Premier Prix de Virtuosité avec Distinction, em Genebra, o Forum Junger Künstler, em Viena, e mais dez concursos para solistas ou em grupos de câmara.

Baldini tocou como solista ou em duo pelo mundo inteiro, com cinco turnês no Japão, quatro nos EUA, uma na Austrália, e já se apresentou em todas as principais salas de concerto das capitais europeias, além da América latina, e principalmente no Brasil, que escolheu em 2005 como sua residência.

Ao se aperfeiçoar como regente, fundou o Quarteto Osesp (com os chefes de naipe da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, da qual é spalla), e, com o violino, começou a explorar o repertório brasileiro.

Na Itália, Baldini foi spalla da Orchestra del Teatro Comunale di Bologna, Orchestra del Teatro alla Scala di Milano, e a Orchestra del Teatro Giuseppe Verdi di Trieste, e desde 2005 é spalla titular da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp). Como convidado, foi spalla também da Orquestra Sinfônica da Galícia, na Espanha.

Como regente, se destacam concertos no Teatro Colón de Buenos Aires, no Teatro del Sodre de Montevidéu, e apresentações com as principais orquestras da América latina. De 2017 a 2021 foi diretor musical da Orquestra de câmara de Valdivia, no Chile.

![Emmanuele Baldini © Fernando Ruz (14).jpg](https://admin.sinos.art.br/uploads/Emmanuele_Baldini_Fernando_Ruz_14_c98f1368cd.jpg)

*Fotos Fernando Ruz – Divulgação*