Alegria, diversão e pertencimento

Camila Alves, psicóloga com especialização em terapia corporal, é cega. Mineira, se mudou para o Rio de Janeiro há de dez anos e há cerca de dois começou a frequentar a Orquestra Voadora. Em 2019, ela participou do *Pensamento de Acessibilidade*, proposta da Orquestra para a formação de um grupo de profissionais e pessoas com deficiência para pensar e realizar ações, com o intuito de possibilitar e incentivar essa participação não só nos desfiles, mas também nas aulas da oficina, no planejamento do bloco e em todas as etapas que constroem a folia.

Na série *Inclusão e Folia*, Camila relata suas experiências do ponto de vista de uma pessoa com deficiência e também com base em toda sua formação e pesquisas de mestrado e doutorado. Além disso, fala da emoção e da sensação de pertencimento que o projeto tem proporcionado, como a sensação de poder se divertir em segurança com os amigos dentro da corda (parte cercada das alas do desfile) durante o desfile de Carnaval. “Eu estava com três amigos, e me divertir com eles, sem aquele revezamento de ‘quem vai se divertir e quem vai cuidar’, isso foi muito forte também”, explica.

Parte do programa Acessibilifolia do Um Novo Olhar, a série *Inclusão e Folia* fala trata do trabalho de acessibilidade desenvolvido pela Orquestra Voadora e tem como proposta provocar um debate sobre a inclusão e a acessibilidade nos contextos culturais e educacionais e na sociedade como um todo.

Confira abaixo uma entrevista exclusiva com Camila Alves:

**Há quanto tempo você frequenta o bloco da Orquestra Voadora e quando decidiu participar mais efetivamente?**
Faz dois carnavais que tenho me aproximado da Orquestra. O convite para desfilar na primeira ala acessível do bloco foi o que determinou minha aproximação.

**Qual é a importância dessas ações de acessibilidade, não só para o Carnaval, mas para a cultura como um todo?**
A acessibilidade é a condição básica para que qualquer pessoa com deficiência participe de forma mais igualitária de um mundo que é *capacitista* *, que faz questão de nos manter de fora de suas programações. Firmar uma acessibilidade para o carnaval é firmar justiça para a deficiência, é firmar a presença da diferença, é se abrir para olhar para essa discussão, para essas vidas.

(*) *Capacitismo* é o termo usado para definir a discriminação e o preconceito social contra pessoas com alguma deficiência. Chama-se sociedade capacitista aquela que considera normal alguém sem deficiência e vê como exceção os que a possuem, considerando a deficiência como a algo a ser corrigido ou superado.

**A “sensação de pertencimento” do Carnaval é tema de um dos vídeos da série Inclusão e Folia. Qual a sensação de participar do desfile de um bloco de Carnaval que atrai multidões, como a Voadora?**
A acessibilidade é a oportunidade de construção de um mundo partilhado, mais diverso. É trazer a vida das pessoas com deficiência para o centro das discussões, é assistir a construção de possibilidades de pertencimento para um grupo que, por séculos, foi deixado de fora.

**Neste ano até o Carnaval foi virtual e a própria Voadora lançou diferentes vídeos. Qual a importância da música nesse momento de isolamento?**
A música é refúgio, é colo, é dança, é movimento, é festa, é choro, é luto, é carnaval, é quarentena. A música neste momento vem sendo um canal de escape, de contato com lugares íntimos, de diversão e risos, de partilha.
Uma live, um bom disco, uma boa música, alegra, emociona, diverte, enche o corpo e a alma de esperança e vontade…

**Camila Alves** é psicóloga clínica, especializada em Terapia Corporal Reichiana e doutoranda em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Ela atua na área da cultura há dez anos e atualmente trabalha com formações e consultorias. É também docente do curso de Psicologia das Faculdades Integradas Maria Thereza, em Niterói, RJ.
Seus interesses atuais de pesquisa estão no campo dos estudos sobre deficiência, na interface entre arte, cultura, gênero e os animais

No mestrado, Camila defendeu uma dissertação intitulada *E se experimentássemos mais? Um manual não técnico de acessibilidade em espaços culturais*.
A obra tem como objetivo apresentar a mediação como uma via de acesso para a promoção de acessibilidade estética em espaços culturais e museus. Nele a autora defende que os corpos deficientes interpelam os dispositivos de acessibilidade que são feitos para as pessoas com deficiência, através das prescrições dos manuais técnicos de acessibilidade. Ela explica que, nesse manual não técnico, aposta-se no ato de contar histórias para que também possam aprender o que não sabem, para compartilhar o que aprendem nesses encontros, para levar adiante a história do outro, porque acreditam na possibilidade, de tornar o mundo mais denso. Camila esclarece que, assim como em um manual tradicional, não é uma garantia de um caminho seguro, um caminho dado, possível de organizar um método permanente de fazer um programa de acessibilidade, mas ao contrário, cada nova visita, cada nova situação coloca um novo problema.

(Fontes: Base de Dados do Programa de Pós-Graduação em Psicologia – UFF https://app.uff.br/slab/index.php/busca/formulario_completo/869
Estudos & Pesquisas em Psicologia – UERJ https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revispsi/article/view/44287/30185)

***Conheça um pouco mais sobre Camila Alves e o projeto de acessibilidade da Orquestra Voadora nos vídeos da série Inclusão e Folia.***
***Assista os vídeos do programa Acessibilifolia aqui no site do Bossa Criativa e no canal Arte de Toda Gente no Youtube.***