Uma entrevista com a cantora Ilessi, que se apresentou em 25/11, na Mostra Bossa Criativa ATG Paraty, dentro da programação da Flip 2022
A cantora carioca Ilessi Souza da Silva define seu novo álbum, “Dama de Espadas”, como uma fratura exposta. “é o primeiro com as minhas composições, construído coletivamente nos ensaios e em estúdio com essa banda genial que me entendeu muito profundamente – porque traduziu tudo do meu pensamento e do meu fazer musical”. O repertório do disco é a base para o show de mesmo nome, que ela apresentou dia 25/11, na Mostra Arte de Toda Gente Bossa Criativa Paraty, que se junta à programação da Flip – Festa Literária Internacional de Paraty. No trabalho, ela destaca temas como o feminismo e a luta antirracista, através de diferentes gêneros musicais, como blues, rock, xote, congo de ouro e bolero. Nesta entrevista, Ilessi fala desse trabalho e de sua carreira.
Como começou sua carreira musical?
Comecei em 1998 cantando em boates, clubes e centros culturais. Fui muito incentivada pelos meus pais. Meu pai é cantor e compositor e me ajudou muito, tanto nos estudos, quanto de maneira prática, a conseguir espaços para tocar e tal.
O que a inspira a criar?
Muitas coisas…. Sons, pessoas, lugares, filmes, acontecimentos…. Compor para mim é minha forma mais potente de expressar meu olhar sobre e para o mundo. Mas entendo o cantar como criação também. É o que eu mais amo fazer na vida e o que dá sentido a ela.
Você demonstra grande identificação com as canções que interpreta. Prefere cantar composições próprias ou de outros compositores?
Antes gostava mais de cantar músicas dos outros. Agora estou pegando mais gosto em cantar as minhas. Mas são vivências diferentes. Não sei explicar….
Você já se apresentou com orquestras. Como você vê essa aproximação, cada vez mais constante, da música popular com instrumentos e grupos mais clássicos?
É desafiador, porque eu sou muito do improviso e a música de concerto tem um rigor formal maior. Mas eu acho lindo e considero um grande aprendizado. Aprendo com a necessidade de comunicação e agregação de todos os músicos, assim como com as sonoridades texturais, os caminhos harmônicos e contrapontísticos…. É realmente fascinante.
Fale um pouco de sua participação na Mostra Bossa Criativa Arte de Toda Gente durante a Flip, em Paraty.
No show eu apresento o “Dama de Espadas”, com o repertório do meu disco mais recente, o quarto da minha carreira e o primeiro com músicas minhas. A produção musical é de Elísio Freitas e Vovô Bebê. A banda para este show será formada por Guilherme Lirio, Uirá Bueno e Vovô Bebê.
Estamos muito felizes por fazer esse show, porque tivemos poucas oportunidades para isso, por conta da quarentena em virtude do COVID19. O disco foi lançado em 2020, pela Gravadora Rocinante. E realizar show na FLIP é um sonho antigo meu.
Quais dicas você daria para quem quer seguir uma carreira na música, como cantor e/ou compositor, e não sabem como começar?
Ouça muito música (de tudo), estude muito e siga o coração.
Sobre “Dama de Espadas”
“Dama de Espadas” é o 1º disco autoral da cantora e compositora Ilessi e o 4º de sua carreira. O disco foi lançado em todas as plataformas digitais em outubro de 2020, pela Gravadora Rocinante. A banda do disco é formada por Ilessi (voz), Elísio Freitas e Vovô Bebê (guitarras, violões, coro e produção musical), Guilherme Lírio (baixo elétrico e coro), Uirá Bueno (bateria). No show da FLIP, a banda terá formação reduzida, sem Elísio. O repertório apresenta uma amálgama de estilos e gêneros musicais diversos, como blues, rock, xote, congo de ouro e bolero.
O show “Dama de Espadas” busca instigar e provocar o espectador, tanto em relação ao conteúdo poético das canções, quanto em relação à estética musical das composições e dos arranjos e formação escolhida. Músicas que originalmente foram compostas no formato voz e violão, mais clássico, aparecem com guitarras, baixo e bateria, em uma nova sonoridade, gerando um resultado musical muito rico e diversificado. A interpretação de Ilessi também se destaca pelo caráter de experimentação e improvisação vocal idiomática e livre, flertando com o delírio e usando sonoridades múltiplas, para além da voz cantada convencional, como o grito, imitação de vozes, criação de personagens, reprodução de vozes inspiradas no canto de povos de outros países e interjeições, proporcionando diferentes momentos e expectativas durante o espetáculo.
Entre os temas apresentados nas canções, destacam-se o feminismo, como em “Dama de Espadas”, parceria de Ilessi com Iara Ferreira; a luta antirracista, como em “Eu não sou seu negro”, música de Ilessi em que ela lê uma fala de James Baldwin, escritor e ativista norte-americano de destaque especialmente nos anos 60 e 70 do século XX, “Ilê de Luz”, música de Suka, clássico do bloco Ilê Aiyê, e “Ladra do lugar de fala”, música de Thiago Amud composta para Ilessi; ou a reflexão filosófica sobre o sentido da criação musical, como em “Lírico”.
A diversidade mostra-se também nestes temas, e na interpretação de Ilessi que vai desde o lirismo delicado de “Brejeira flor”, parceria de Ilessi com Simone Guimarães, ao delírio irônico e existencial de “Vivo ou Morto”, composição de Thiago de Mello e Edu Kneip.
O caráter multifacetado de Ilessi é o que traz a originalidade deste trabalho que estremece padrões estético musicais e rompe com estereótipos que em geral almeja-se enquadrar artistas com o perfil desta cantora e compositora que já é uma das mais importantes de sua geração.
*Segundo o pesquisador Reppolho (Givaldo José dos Santos) o Congo de Ouro é um ritmo religioso afro-brasileiro de origem bantu, tocado nos candomblés de Angola – Congo (macumba) e na Umbanda traçada. O seu toque é referente aos orixás Elegbará (arranque e intenção), Ogum (força, movimento), Oxum Maré (consciência, direção e a força) e Xangô (justiça, realização, direito). (https://baixadafacil.com.br/colunistas/ritmos-sem-fronteiras-1472.html)
Ilessi Souza da Silva é cantora, compositora, professora de canto e pesquisadora musical carioca, residente em São Paulo – SP. Atua como cantora desde 1998, em todo Brasil e em países como França, Suécia e Inglaterra. Em 2009, lançou, pela gravadora CPC-UMES, o CD “Brigador – Ilessi canta Pedro Amorim e Paulo César Pinheiro”, com arranjos e direção musical de Luis Barcelos. Em 2018 lançou pela Gravadora Rocinante o seu 2º CD “Mundo Afora: Meada”, com arranjos e direção musical de Thiago Amud, e canções de Edu Kneip, Alexandre Andrés, Milena Tibúrcio, Paloma Roriz, entre outros. Em janeiro de 2020 lançou “Com os pés no futuro – Ilessi e Diogo Sili interpretam Manduka”. Em outubro de 2020 lançou pela Gravadora Rocinante o disco “Dama de Espadas”, com músicas próprias, e produção musical de Elísio Freitas e Vovô Bebê. Ao longo de sua carreira, já trabalhou com artistas como Paulo César Pinheiro, Cristóvão Bastos, Cátia de França, Luisa Lacerda, Clarice Assad, Simone Guimarães, Guinga, Eduardo Gudin, entre outros.
Foto de divulgação