Nos dias 6 e 7 de dezembro, às 20h30, no Teatro Procópio Ferreira, em Tatuí (SP), com entrada franca, foi encenada a “A Noite de São João”, primeira ópera brasileira com texto em português. Criada em 1860, a obra tem libreto de José de Alencar (1829-1877) e música de Elias Álvares Lobo (1834-1901). O evento foi uma parceria entre a Funarte, a UFRJ – por meio do Sistema Nacional de Orquestras Sociais – Sinos – e o Conservatório de Tatuí. Confira a seguir algumas cenas do espetáculo.
Na linha de ação voltada para a memória e preservação do Plano Nacional para o Desenvolvimento da Ópera, implementado pela Funarte em parceria com a Escola de Música da UFRJ por meio do Sinos, se destacam as iniciativas voltadas para a valorização do repertório histórico brasileiro, o que inclui a revisão e a editoração de óperas cujas partituras ainda se encontram no formato de manuscrito, entre estas “A Noite de São João”, cuja encenação atual conta com direção cênica de Rosana Orsini e direção musical do maestro Emanuele Baldini.
O espetáculo teve a participação da Orquestra Sinfônica e Coro do Conservatório de Tatuí e trouxe, no elenco, os solistas Flavia Albano, Cecília Massa, Luciano Botelho e Isaque Oliveira. Os ingressos puderam ser reservados pela plataforma virtual do conservatório ou presencialmente na bilheteria do teatro. O endereço do Teatro Procópio Ferreira é: Rua São Bento, nº 415, Centro, Tatuí (SP).
O compositor e sua obra
Elias Álvares Lobo (foto), nasceu em Itu, São Paulo, em 9 de agosto de 1834. Em sua cidade natal, estudou contrabaixo, piano e outros instrumentos. Mudou-se para o Rio de Janeiro para estudar no Conservatório de Música, onde foi aluno de harmonia e contraponto de Raphael Coelho Machado. Na então capital do Império, escreveu a “Missa de São Pedro de Alcântara” e a ofereceu ao Imperador do Brasil, D. Pedro II, tendo a obra sido cantada na Capela Imperial.
Em 25 de março de 1857 seria fundada a Imperial Academia de Música e Ópera Nacional, a primeira iniciativa concreta no Brasil para estimular o desenvolvimento do gênero no país. De acordo com seu estatuto de fundação a Academia tinha por objetivos “preparar e aperfeiçoar artistas nacionais melodramáticos” e “dar concertos e representações em língua nacional, levando à cena opera líricas nacionais ou estrangeiras vertidas para o português”.
Elias Álvares Lobo passou a integrar a Imperial Academia de Música e Ópera Nacional e para ela escreveu a ópera “A Noite de São João”, estreada no Rio de Janeiro em 14 de dezembro de 1860, com a ilustre presença do Imperador. Vem a ser, portanto, a primeira ópera brasileira cantada em português e com temática nacional. A direção musical do espetáculo coube ao jovem compositor Antônio Carlos Gomes. O libreto é de autoria do escritor José de Alencar e conta a história de amor secreto entre Ignez e Carlos. O pai de Ignez, um tabelião, planeja mandar a filha para o convento. Carlos, desolado, decide entrar para o Exército. Na noite de São João, ela pede ajuda ao santo para resolver seu caso de amor. Surge, então, uma cigana promete mudar o destino dos jovens apaixonados.
Elias Álvares Lobo ainda comporia a ópera “A Louca”, que não chegou a ser encenada. Posteriormente, mudou-se para Campinas, onde fundou uma sociedade musical. Em 1882, começou a compor uma terceira ópera, “Sacrifício de amor”, com libreto de Carlos Ferreira, que ficou inacabada. Em 1884 transferiu-se para São Paulo. Na música sacra, escreveu ainda a “Missa do Senhor Bom Jesus”, de 1874, “Três Credos, Ofícios para a Semana Santa” (1872), “Matinas do Espírito Santo”, “Tantum Ergo”, “Salutaris Hostia” e “Ave Maria”. Na música instrumental constam peças suas para piano solo, música de salão e o lundu “Chá preto, sinhá?”, obra publicada pela Casa Artur Napoleão. Elias faleceu em 15 de dezembro de 1901.
Da ópera A Noite de São João sobreviveu apenas a partitura em redução para canto e piano, cuja orquestração original se perdeu. Além da editoração da redução para piano original, a importância histórica da ópera justificou a contratação do maestro Mateus Araujo para elaborar uma nova orquestração, de modo a viabilizar a execução da ópera em seu formato original, com orquestra. Através de uma parceria com o Conservatório Dramático e Musical Dr. Carlos de Campos, da cidade de Tatuí, a pioneira ópera de Elias Álvares Lobo será novamente ouvida após mais de um século de silêncio.