Como parte da programação do Festival Arte de Toda Gente, foi realizada, ao vivo, no dia 20 de agosto, uma oficina dedicada à flauta. Ministrada por Afonso Oliveira, em plataforma fechada, dela participaram alunos que haviam feito inscrição prévia. Afonso, porém, também tem aulas gravadas para o Projeto Espiral, ao lado do colega (e seu professor) Celso Woltzenlogel, disponíveis aqui no site do Sinos (confira em https://sinos.art.br/cursos/Projeto-Espiral/Flauta-com-Afonso-Oliveira-e-Celso-Woltzenlogel ). E saiba mais sobre o Festival Arte de Toda Gente e sua programação em www.artedetodagente.com.br .
Nesta entrevista, o músico fala sobre seu instrumento e revela o que tanto atrai nesse instrumento.
**Como começou sua carreira na música? Quando decidiu se dedicar à flauta?**
Comecei em uma cidade do interior de Minas Gerais: Governador Valadares. Passei a me dedicar à flauta doce com 21 anos. Anos depois, comecei a estudar flauta transversal. Quando tinha 28 anos, me mudei para o Rio de Janeiro para cursar o Bacharelado em Flauta na Escola de Música da UFRJ.
**A flauta – em particular, a doce – sempre foi um instrumento muito usado nas escolas. O que contribui para que ela seja tão popular principalmente entre as crianças?**
A flauta doce é muito utilizada na educação musical. Esse processo teve início na Alemanha, no início do século XX. Além de ser um instrumento portátil e leve, a emissão dos sons em nível básico é relativamente fácil. Por este motivo, as crianças se sentem estimuladas e chegam a tocar pequenas melodias com pouco tempo de prática. Assim, o trabalho de alfabetização musical utilizando a flauta doce como instrumento “musicalizador” é reconhecidamente bem-sucedido.
No mercado, há flauta doce de todo preço. As flautas de plástico ou resina são geralmente bem mais baratas do que as de madeira e algumas delas possuem excelente qualidade. Então, o fator preço também contribui para o sucesso do instrumento na educação musical. A flauta transversal também é utilizada na educação musical, principalmente em conjuntos, nos conhecidos corais de flauta. Esses corais são muito estimulantes e contribuem para despertar nas crianças e adolescentes o gosto pelo instrumento.
**Qual o papel da flauta na Orquestra?**
As flautas doce e transversal ocuparam um papel de destaque, principalmente nas orquestras do século XVIII. Nessa época os conjuntos instrumentais eram relativamente pequenos, com em torno de 15 músicos, podendo variar um pouco para mais ou menos. Na atualidade, as orquestras têm uma média de 80 músicos. A flauta doce, instrumento de muitos recursos expressivos e rica em sutilezas, teve o seu apogeu na era barroca, mas era utilizada em espaços relativamente pequenos, por causa de sua pequena projeção sonora. Ela teve o seu declínio no final do século XVIII, principalmente quando a música de concerto passou a ser executada em espaços públicos bem mais amplos, como os teatros e salas de concerto.
A flauta transversal, entretanto, continua sendo um instrumento largamente usado nas composições sinfônicas. Nas orquestras, as flautas pertencem ao naipe das madeiras, junto com os oboés, clarinetas, fagotes e seus congêneres.
**Você apresenta uma série de aulas gravadas no projeto Espiral. Como foi sua oficina ao vivo e online no festival Arte de Toda Gente?**
Como nossas aulas no Projeto Espiral tinham uma duração em torno de 10 minutos cada, as abordagens dos principais assuntos foram resumidas e com um foco nas questões mais importantes. Ao vivo, procuro estabelecer um diálogo com os alunos sobre essas questões principais e orientá-los no que for possível.
**Como você vê a importância de iniciativas como o Sinos na formação e aprimoramento de músicos dos projetos sociais?**
Entendo que o Sinos é um projeto de grande importância pela sua abrangência, qualidade dos docentes envolvidos e também em razão do leque de opções de ensino-aprendizado.
**Qual dica daria para quem quer começar a tocar flauta?**
A dica que eu dou é que o estudante de flauta deve sempre procurar um bom professor. Nenhum método, curso online ou videoaulas dará bons frutos sem a presença de um professor, mesmo que não se possa ter uma orientação regular ou contínua. Outra coisa é ouvir música composta para o instrumento sempre!
**Afonso Carlos Barbosa de Oliveira** graduou-se em flauta na Escola de Música da UFRJ na classe do professor Celso Woltzenlogel, e concluiu o mestrado na mesma instituição. Foi aluno dos professores Eduardo Monteiro, Noel Devos e participou de oficinas e masterclasses com flautistas internacionais, entre eles Mathias Ziegler, Aurèle Nicolet, Felix Rengle e Nobutaka Shimizu. Atuou em diversas formações instrumentais de música de câmara e sinfônica. É integrante do Trio Mignone, grupo de câmara que já recebeu diversos artigos elogiosos da crítica especializada, com o qual gravou o CD *Francisco Mignone – obras para flauta, violoncelo e piano*, disco lançado em 2006 na Sala Cecília Meireles e que obteve a condecoração máxima de 5 diapasons da prestigiosa Revista *Diapason*.
Afonso desenvolveu a pesquisa *O Segundo Trio para flauta, violoncelo e piano de Francisco Mignone: abordagens técnicas e interpretativas da parte da flauta*, para a qual também promoveu a editoração, até então encontrada somente na forma de manuscritos do compositor. Atualmente. desenvolve pesquisa sobre os principais solos do repertório orquestral para flauta, cuidando da editoração, comentários históricos, estilísticos, bem como de sugestões técnicas e musicais de preparação de vários desses excertos. Mantém duo com a pianista Miriam Grosman, apresentando-se com regularidade em importantes salas de concertos do país. É professor da classe de flauta da Escola de Música desde 1999.
***Assista os vídeos da oficina anterior de Afonso Oliveira e de outros músicos aqui no site do Projeto Sinos e no canal Arte de Toda Gente no Youtube.***
*Na imagem de abertura, Afonso de Oliveira em foto de divulgação.*