O violista Daniel Prazeres enfatiza: “Disciplina é o segredo para o sucesso dos seus objetivos com a viola”. Professor da Oficina de Viola do Projeto Espiral, do Sinos, ele nos fala em entrevista sobre suas videoaulas e sobre como a pandemia afetou o ensino e a performance musical.
Para Daniel, a escuta musical é também fundamental: “O nosso contato com a música passa por vários aspectos importantes de aprendizado, sendo o primeiro deles a escuta musical”, explica. “Ser músico e não ouvir música, ainda mais com tantas opções de acesso atualmente, limitará muito a nossa atividade como violistas. Ainda mais no campo da interpretação, pois é natural nos alimentarmos de recursos interpretativos e estéticos criados e desenvolvidos por outros artistas. Isso não quer dizer que vamos copiar a performance de outros músicos e perder nossa identidade criativa. Ao contrário. Podemos utilizar toda fonte de arte como inspiração para o nosso desenvolvimento como intérpretes”, defende.
**Como e quando surgiu seu interesse pela viola?**
Meu interesse surgiu quando eu tinha 16 anos e conheci o instrumento através do maestro Nelson Nilo Hack, no Centro Cultural Pró-Música em Juiz de Fora, minha cidade natal. Eu comecei pelo violino e, pouco tempo depois, fui para a viola.
**Na sua oficina você fala de uso de ferramentas tecnológicas e novas mídias. Como você vê o impacto dessas inovações para a música?**
As inovações tecnológicas surgiram como uma revolução na música. Vários aplicativos de vídeo e áudio, metrônomos e afinadores são ferramentas fundamentais, hoje, para quem quer estudar música e um instrumento sinfônico. Podemos dizer que conhecer basicamente esses recursos faz parte do aprendizado musical atualmente.
**Como você vê o impacto da pandemia na música?**
Essa é uma questão delicada. Tivemos muitas perdas para a cultura e a educação com a pandemia e a recuperação do setor certamente será lenta. Entretanto, toda essa situação nos ajudou a criar possibilidades inovadoras para levarmos arte e conhecimento às pessoas, em todo lugar. Penso que toda essa situação se mostra como uma transição entre esses dois universos, o virtual e o real, e que teremos uma renovação no processo de aprendizado, fazer artístico e estético.
**Qual a sensação de estar com a orquestra, tocando em um teatro, sem público?**
É uma sensação no mínimo curiosa, pois toda construção da performance musical existe em prol do público. O público é o fim do caminho percorrido pelo fazer artístico. Quando isso nos é tirado e entram câmeras e cadeiras vazias, de certa maneira estamos incompletos e, talvez, não realizados como artistas, no sentido estético. De fato, o interessante de tocar sem público é poder ouvir no final de uma peça musical a continuidade dos acordes e de todo o discurso musical através do silêncio.
**Diferentes orquestras, como a Orquestra Petrobras Sinfônica, há anos têm realizado algumas apresentações com músicas de gêneros populares, como rock, funk e outros ritmos. Você considera que isso tem contribuído para alcançar um novo público?**
Toda realidade social atravessa adaptações continuamente, e na música sinfônica não poderia ser diferente. Essas apresentações com músicas populares e conhecidas do grande público são uma ponte pela qual o público “leigo” chega até o universo da música sinfônica e descobre um mundo de possibilidades de uma orquestra.
**Como foi o concerto realizado com músicas infantis em homenagem ao Dia das Crianças para ser assistido online?**
Foi maravilhoso! O clima estava incrível e estamos mais adaptados a essa nova maneira de conduzir um espetáculo. É claro que sentimos muita falta da presença das crianças e das famílias, mas estávamos cientes do alcance que a transmissão online teria. Foi um sucesso.
**Como está sendo sua participação no Projeto Espiral, do Sinos?**
Adorei fazer parte do corpo docente do Sinos. O projeto terá certamente um grande alcance e ajudará muitos jovens estudantes de todo o Brasil. Minha oficina basicamente fundamenta conceitos e fala de tópicos para o aprendizado da viola, como rotina de estudos, interpretação e estilo musical, métodos para viola e repertório, novas mídias e recursos tecnológicos. Enfim, muitos temas relevantes, que devem fazer parte da trajetória musical de estudantes de viola. Com isso, espero ter contribuído para o sucesso do projeto Espiral.
**Daniel Prazeres** é mestre em Performance Musical pela UFMG e bacharel em Viola pela UNIRIO. Atua como professor de viola do projeto Academia Juvenil da Petrobras, desde a sua fundação, contribuindo para o ingresso de muitos jovens em universidades de Música no Rio de Janeiro. É violista da Orquestra Petrobras Sinfônica, desde 2005, e também da Orquestra Sinfônica Nacional da UFF, na qual foi líder do naipe por oito anos. Ele estreou diversas obras para viola em bienais e mostras de Música Contemporânea, aperfeiçoou-se com Ulrich Schneider (Alemanha), Esther Aptuley (Amsterdã) e Marc Sabbah (Bruxelas) e realizou apresentações em Portugal, Espanha, Alemanha, Singapura e Vietnã.
A **viola** – também chamada de viola de arco, violeta ou alto – é um instrumento musical da família do violino (de arco e com quatro cordas), e tem semelhanças com este até na forma de se tocar. Seu som, no entanto, é mais encorpado, doce, menos estridente e mais grave. A viola de arco é considerado o instrumento que mais se assemelha com a voz humana.
No **Projeto Espiral**, as videoaulas elaboradas pelos professores Daniel Prazeres e Marco Catto abordam diversos aspectos relacionados ao estudo e performance da viola, como o histórico do desenvolvimento do instrumento, a postura corporal e formas de empunhadura, os fundamentos da emissão sonora, o estudo dos fundamentos técnicos, a literatura para viola, a rotina de estudos e formas de organização da prática musical, a preparação física e psicológica para o estudo e performance musical e a escolha do instrumento e acessórios, dentre outros. Outro tema de destaque é a importância do uso de ferramentas tecnológicas – como afinador, metrônomo e novas mídias – na rotina de estudos
“As videoaulas foram preparadas para gente que mora longe dos grandes centros e às vezes não tem oportunidade de ter uma aula individual de viola ou contato com outros músicos”, explica Daniel. “Dessa forma, nós podemos nos encontrar virtualmente e falarmos sobre tópicos importantes da aprendizagem de um instrumento sinfônico como a viola”.
A Oficina de Viola, assim como as dos demais instrumentos, estão disponíveis aqui no site do projeto Sinos. Siga a dica do professor Daniel sobre a importância da escuta musical e aproveite também para conferir as apresentações dos Projetos Um Novo Olhar (https://umnovoolhar.art.br/) e Bossa Criativa (https://www.bossacriativa.art.br/).