Nascido e criado na Ceilândia, DF, Gilmar Cristiano 48 anos, mais conhecido como Gilmar Satão (nas fotos), é integrante da Organização DF Zulu Breaker´s. Jornalista, grafiteiro, produtor e militante da cultura Hip Hop em Brasília, ele começou a se interessar pela arte de rua aos 12 anos de idade, inicialmente com pichações. Uma década mais tarde, assistindo ao filme Beat Street, indicado por seu amigo Sowtto, ele conheceu o movimento Hip Hop e, já em meados dos anos 1990, começou a fazer graffiti pelas ruas da Ceilândia, formando com seus amigos o primeiro grupo do gênero de Brasília, OS-3 “S”- Satão, Sowtto e Supla.
Após vinte anos de estrada com estilo Wild-Style¹, conseguiu seus trabalhos se tornaram referência em Brasília, onde também segue difundindo a cultura Hip Hop. Ele também desenvolve a apresenta seus projetos em outros países e cidades brasileiras e você pode conhecer mais sobre seu trabalho na apresentação que fez para a Mostra de Arte de Rua do Festival Arte de Toda Gente e que segue disponível no canal Arte de Toda Gente no Youtube (https://www.youtube.com/artedetodagente).
Na entrevista a seguir, o artista nos conta como se interessou pela cultura Hip Hop, fala de suas referências e nos fala sobre sua interação com as gerações mais novas.
Confira abaixo um bate papo exclusivo com o artista, que fala da cultura hip hop e de suas inspirações e motivações.
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O que é a cultura Hip Hop?
A cultura Hip Hop verdadeira sempre envolverá os quatro elementos: Rap (músicas e letras), Dj (parte instrumental), b.boy/b.girl (a dança) e o graffiti (artes visuais). Acredito que essa cultura nos permite buscar informações do nosso cotidiano, tornando-se fonte inspiradora para o desenvolvimento de cada elemento. Exemplo maior são as letras do rap, em que alguns rappers se manifestam em relação à realidade vivida no dia a dia de cada periferia. Um exemplo de letra provocante e que nos faz pensar é do nosso poeta Gog:
“É bem mais fácil, falar da dor.
É bem mais fácil que falar de amor.
Dá mais ibope, chama atenção dos parceiros do mundão, né não?
Meu vizinho vacilou se entregou não tive pena, na sequência dependência, choro, algema.
Qual o significado da arte na sua vida?
A arte se tornou um mundo colorido para mim, onde busquei estudos com letras e com o cotidiano das ruas. Percebi que através do graffiti poderia realizar muitos projetos pessoais e trazer uma sintonia com a sociedade e, principalmente, com crianças e adolescentes. Através de inúmeros projetos como palestras, oficinas, encontros de graffiti, debates e tantos rolês nas quebradas, percebi a importância da arte de rua nas comunidades mais carentes, onde se dependesse do Estado, a arte e a cultura, não chegariam. E através dessas ações, tanto minhas quanto da Crew que faço parte, DF Zulu Breakers 1989, podemos construir uma cena no Hip Hop Brasiliense.
O que inspira suas criações?
A rua: sendo “cinza” não teria o que se pensar e nem como ter uma comunicação com os olhos, mas com o graffiti e as artes urbanas, podemos ter uma comunicação com o olhar na arte, mesmo sendo efêmera. Conseguimos a cada olhar um novo significado para aquele momento.
Como surgiu o seu interesse pelo Graffiti?
Durante uma década fui um artista de rua que trabalhava com as assinaturas apenas, uma arte que não é bem-vista pela sociedade. Em meados dos anos 1990, assisti ao filme Beat Street, que conta a história do hip hop nova-iorquino e que na me foi apresentado pelo grande artista do graffiti, Sowtto. A partir desse momento criamos juntos o primeiro grupo organizado de graffiti de Brasília, na qual se chamava Os 3 S (Satão, Sowtto E Supla).
Qual dica daria para quem quer começar no grafite?
Para quem está começando agora, minha dica é: não desista, estude, busque referências daquilo que quer ser, seja de elementos do hip hop ou qualquer outro meio artístico. Quem faz com amor e pensa que pode, conseguirá sair da zona de conforto e buscará se aperfeiçoar a cada dia.
Um recado a todos: “Conheçam a história de sua cultura e dos seus percussores. Assim, poderemos dar uma continuidade à verdadeira História”. como dizia Afrika Bambaataa².
(1) Estilo de grafite feito com letras criado em Nova York nos anos 70, tem como sua característica principal ser feito com letras ligadas umas as outras e o uso de setas nas serifas das letras, o resultado final do wildStyle são letras ilegíveis e bem psicodélico. (Fonte: https://arteurbanaworld.wordpress.com/tag/wildstyle/)
(2) Afrika Bambaataa, nome artístico de Lance Taylor (Bronx, Nova York, 19 de abril de 1957) é um DJ, cantor, compositor, produtor e ativista estadunidense conhecido por ser líder da banda Zulu Nation. Além de ter inovado os paradigmas do electro, também é reconhecido como sendo o padrinho do Hip Hop por ter sido o primeiro a utilizar o termo e dar as bases técnica e artística para o “Hip Hop” formando assim uma nova cultura que se expandia nos bairros negros e latinos da cidade de Nova Iorque e que congregava DJs, MCs, Writers (grafiteiros), B.boys e B.Girls (dançarinos de Breaking). (Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Afrika_Bambaataa)
Assista aos vídeos da Mostra de Arte de Rua aqui no site e no canal Arte de Toda Gente no Youtube.